“Estamos vivendo uma geração muito quieta, muito tranquila, e não pode ser assim. Geração que não se rebela é geração perdida. O único jeito hoje é meter o louco“, diz Projota em exclusiva ao Virgula. O rapper, que é um dos maiores do Brasil (só no Facebook ele tem mais seguidores que Criolo e Emicida juntos), está lançando o álbum A Milenar Arte de Meter o Louco em que se deixa revelar o lado rebelde e explosivo. “A música ‘Rebeldia’ fala justamente sobre isso, sobre a situação em que vivemos. Se você me colocar na frente da urna hoje e pedir para eu votar em um candidato ou no outro eu prefiro dar um tiro na cabeça, porque não consigo escolher“, diz indignado.
Mas, o que seria ‘meter o louco’? “É o que Jesus fez. Ninguém na humanidade meteu mais o louco do que ele“, explica Projota, e continua: “Todo mundo que precisou fazer grandes coisas, impossíveis ou que as pessoas não acreditavam, precisou meter o louco. Moisés, Martin Luther King, Nelson Mandela, Madre Teresa, Joana d’Arc, Mano Brown, Cazuza, todos esses meteram o louco e eu sou um discípulo dessa arte. Por isso o título”.
Seu segundo álbum de estúdio por uma grande gravadora, a Universal Music, chega após uma fase difícil em que o rapper se viu em depressão e precisou domar a sua ‘loucura’ segundo ele mesmo para sair dessa. “Fiz a música ‘Segura seu B.O’ (que tem participação de Rashid) para falar disso. É sobre essa minha fase de depressão em que passei por um momento confuso. Tenho uma alegria de ter conseguido sair disso bem“, diz em tom de gratidão. “Sabe, todo artista é louco e é difícil ter um louco que não vai chegar nisso. Na real todo mundo é um pouco louco, mas os artistas vivem em uma outra frequência, a cabeça é diferente, e isso promove uma dificuldade maior de lidar com essa loucura, principalmente o compositor. Compor me ajuda a domar essa loucura“, fala ele com voz tremida quando o assunto envolve o suicídio de Chester Bennington, que mesmo sendo quem era não conseguiu lidar com essa pressão, essa loucura. “Pra mim, Linkin Park é a banda mais foda da vida toda. Sou super fã. Mexeu muito comigo o jeito que o Chester partiu“.
Porém, AMADMOL (abreviação do título do álbum) não trata apenas de loucura. Em canções como Oh Meu Deus, Mulher Feita e Linda (em que faz dueto com Anavitória) o clima tenso é deixado de lado e passa a ser sobre amor e admiração pelas mulheres, assunto que o rapper entende e escreve muito bem. “Pra mim a maior intérprete que existe é Elis Regina, e a música mais linda do mundo é ‘Como Nossos Pais’, do Belchior, cantada por ela. Começa daí, você ter uma referência feminina na arte faz toda a diferença, e eu tenho várias“, fala sobre a figura feminina sempre fazer parte de sua obra, e explica: “Por exemplo, ter a Karol Conká (que canta na música Mais Like) como representante do rap, da música, da moda, da arte, dos negros, e das mulheres é importantíssimo para as outras meninas que vão vir, e até para os homens, que é o meu caso, que vão ter ela como inspiração. A mulher não representa só a mulher, ela representa os homens também. Mulher é a representação de tudo“.
Para o álbum, Projota também resolveu dar um presente aos fãs e regravou a música Muleque de Vila, que até o momento não existia em versão de estúdio, apenas ao vivo registrada no álbum 3F’s, e que mesmo assim é a terceira mais vista em seu canal do Youtube, atingindo 60 milhões de views. Na letra, ele rima “Aprendi a fazer freestyle no busão. Hoje é o mesmo freestyle, só que a gente faz no fundo do avião“, sobre a sua ascenção musical e de classe social. “Aquela humildade besta está ficando de lado, sabe? Se todo mundo ficar abraçado na lama não vai adiantar nada. A gente tem que torcer pra cada um subir de nível na vida, para que isso se torne natural, porque o natural ainda é o pobre ser pobre e o rico ser rico. Quando um pobre se torna rico as pessoas ficam tipo ‘nossa’, chocadas, e não pode ser assim. A gente tem que acreditar no crescimento“, diz ele direto de um badalado bar na Rua Oscar Freire, em São Paulo, local da entrevista. “Sabe, se você é negro e vive na periferia tem que acreditar em si mesmo para crescer, e além de tudo tem que ter marra. Se você não tiver essa marra o mundo te pisoteia”.
Hoje, aos 31 anos, José Tiago Sabino Pereira, o Projota, possui milhões de discos vendidos e um número absurdo de visualizações em seus vídeos, além de lotar casas de shows e transitar com louvor entre o público do rap, reggae, pop, funk, rock e até sertanejo. Tal conquista pode ser compreendida por um outro MC que também veio das quebradas, ultrapassou barreiras musicais e invadiu classes sociais: Mano Brown, dos Racionais MC’s, que faz o prefácio do álbum. Assim que você dá o play, o nego drama mais respeitado do país traduz a mensagem: “Imagina em 88, 87, o descabelo era total mesmo. Não tinha nem sonho, mano. Sonhar com o que? Nós vinha do Capão pra ir na Paulista olhar um tênis na vitrine…E agora? O bagulho tá maior. Tocando em todos os carros, todos os bagulhos. E agora?“.
O bagulho tá maior.