Lollapalooza
Créditos: divulgacao
Depois de quase duas décadas de turnês, gravações e convívio praticamente ininterrupto, os integrantes do grupo O Rappa decidiram tirar férias da rotina de trabalho – e da cara um do outro – no final de 2009. Descansados, Falcão, Lobato, Xandão e Lauro voltaram à ativa no ano passado, e após uma turnê muito bem sucedida por todos os cantos do país, estão prontos para escrever o próximo capítulo da discografia do quarteto.
Mas por apenas um dia, o grupo vai suspender tudo isso para voltar os olhos ao que promete ser um dos shows mais importantes da trajetória do conjunto: neste sábado (7), a banda é uma das principais atrações da primeira edição nacional do festival Lollapalooza.
Poucas vezes o dia-a-dia d’O Rappa esteve tão movimentado como neste primeiro semestre de 2012. Enquanto encerra a turnê de divulgação do DVD Ao Vivo na Rocinha (2010), a banda ensaia a série especial de shows em homenagem ao mais celebrado álbum da carreira dos cariocas, Lado B Lado A, e produzem as faixas que deverão compôr o o sexto álbum de estúdio do grupo, com lançamento previsto para outubro ou novembro deste ano.
“Eu só penso nisso. Não queremos deixar para lançá-lo depois do carnaval de 2013”, revela o vocalista Marcelo Falcão, em entrevista ao Virgula Música. Sem dúvidas o novo trabalho é prioridade para o cantor – aparentemente mais encantado com o processo de produção do novo disco do que pela finalização do registro em si – mas a participação no Lollapalooza é definitivamente a menina dos olhos do cantor. “É um festival que eu iria mesmo se a gente não tivesse sido convidado para tocar”, derrete-se.
Adorado até por Perry Farrel, o vocalista do Jane’s Addiction e “papa” do Lollapalooza, Falcão rejeita o rótulo de símbolo sexual e promete um show inesquecível às 70 mil pessoas que irão ao primeiro dia do festival, com ingressos esgotados. Em revelações exclusivas, Falcão detalha o processo de composição do novo álbum, mostra-se viciado em música até no tempo livre, e admite um desejo especial que pretende realizar neste fim de semana: conhecer de perto o som do produtor de dubstep Skrillex, apelidado por Falcão de “o crazy do oclinhos”.
Virgula Música: Na coletiva de lançamento do Lollapalooza Brasil, o Perry Farrell [vocalista do Jane’s Addiction e um dos sócios do festival] contou que, entre as bandas nacionais, O Rappa é a preferida dele, e você é um “cara sexy”. Você chegou a falar com ele depois desse elogio?
Falcão: Não, não. Ainda não aconteceu. É até uma coisa que faço questão de fazer quando chegarmos lá, nem que seja por alguns segundos. Mesmo o cara fazendo piada, me dando uma zoada (risos)… Mas assim que eu tiver oportunidade vou agradecê-lo, tanto pelo convite quanto pelas piadas. Admiro muito ele pelo Jane’s Addiction. Antigamente eu era muito fã de Alice In Chains e tinha um amigo que adorava o Jane’s. Aí um apresentou o som para o outro, e virei muito fã das duas bandas.
Virgula Música: Ser convidado para o Lollapalooza é diferente de ser chamado para outros festivais? Por quê?
Falcão: Ah, é sim. Tô muito feliz pelo convite, pelo pessoal ter percebido a gente entre tantas bandas nacionais. É uma coisa de se orgulhar muito mesmo. E é um festival que eu iria mesmo se a gente não tivesse sido convidado para tocar – quero muito ver o Arctic Monkeys e o Foo Fighters. O mais importante mesmo é trazer o formato do Lollapalooza para o Brasil: um festival que ocorre durante o dia, como quando tocamos na Europa. A galera aqui ainda não está acostumada com isso, mas acho muito importante. É outra cabeça para ver os shows.
Virgula Música: E além de Arctic Monkeys, Foo Fighters e Jane’s Addiction, quem você quer ver no Lollapalooza?
Falcão: Vou lá ver o Racionais MC’s também. Mas quero chegar bem antes para conhecer umas coisas que não ouvi, das coisas mais esquisitas às mais tradicionais. Estou afim de dar uma andada lá, tô indo como mochileiro mesmo (risos). No SWU [em 2010] eu fui ver o Rage Against the Machine e fiquei amarradão naquela banda que tocou antes deles, meio anos 70, com um gordinho cantando [Falcão se referia ao grupo americano The Mars Volta], achei irado. Então desta vez eu não vou lá só para tocar não, vou para ouvir também.
Virgula Música: E de dubstep, você gosta? Conheceu o som do Skrillex?
Falcão: Sei, sei qual é. É o esquisitinho do “oclinho”, o crazy lá, né?
Virgula Música: Ele mesmo.
Falcão: Esse, esse aí. Ele é conhecido como “O Esquisitão”, né? Pô, tô afim de conhecer, tava até lendo que ele toca em uns cassinos em Las Vegas com o Tiësto, com o David Guetta, quero conhecer ele também.
Virgula Música: Os shows d’O Rappa costumam misturar os grandes sucessos com longos improvisos, e releituras de algumas músicas de vocês. O repertório do show no Lollapalooza vai seguir essa linha?
Falcão: Acho que o mais legal a se fazer no Lollapalooza é causar alvoroço no tempo que a gente tem para tocar. Não só escolher as melhores músicas, as mais famosas, mas botar umas coisas que a gente curte muito, fazer uma mixtape mesmo. A gente quer entrar concentrado para tocar, sem firulas, sem inventar demais. Um lance direto, uma atrás da outra. Queremos fazer um p**a show, fazer o cara na plateia se perguntar: “P**ra, já acabou?!”.
Virgula Música: Entre os shows e ensaios, vocês estão produzindo o novo álbum d’O Rappa. O trabalho está andando no ritmo esperado?
Falcão: Quando a gente se viu de novo pela primeira vez [depois das férias do grupo], a reunião começou ao meio-dia e terminou às onze da noite com várias cachaças na mesa (risos), aí eu falei: “pô, voltamos a ser a gente”. E aí, quando nos reunimos no estúdio para pensar no disco novo, a afinidade musical foi instantânea. Eu e o Lobato produzimos muita coisa, e a etapa agora é selecionar tudo isso. Depois do Lollapalooza vamos descarregar todo o material que está no computador do Lobato, selecionar umas trinta músicas, e a partir daí começar “à vera”. Para a gente, disco novo é sagrado.
Virgula Música: Os ensaios da turnê do Lado B Lado A têm influenciado na sonoridade do disco novo?
Falcão: A gente gosta de deixar nossos discos antigos “guardados”, a gente evita ficar reciclando as ideias. Respeitamos o espírito do Lado B Lado A, mas a gente gosta de seguir em frente. O disco tá ficando muito rico e muito power também. Eu tô muito na vibe do heavy roots, tem coisa muito pesada e coisa muito melódica ao mesmo tempo, que vêm das manias que tenho de ouvir samba e reggae.
Virgula Música: Você vive música o tempo inteiro, seja em shows, ensaios ou gravações. Você tem tempo – e paciência – para ouvir mais música no tempo livre?
Falcão: Eu não posso viver sem música não, cara (risos). Sou um cara muito feliz por causa da música, e não abro brecha para a tristeza não. Felicidade para mim, com certeza, é um fundo musical. No meu carro, na minha casa, em todo canto tem uma caixinha com espaço para botar o iPod para rodar. O pessoal até brinca comigo, diz que é um exagero (risos).
Virgula Música: E que tipo de som você está ouvindo ultimamente?
Falcão: Eu converso muito dessas coisas com o meu roadie, ele me apresenta muita coisa. Recentemente ele me mostrou algumas coisas do The Black Keys, gostei muito. Também ando curtindo o Dead Weather, sabe qual é?
Virgula Música: Sim, um dos projetos do Jack White (ex-White Stripes).
Falcão: Isso. Tô bem amarradão, ouço eles direto. Gosto muito daquela vibe daqueles [sintetizadores] Moog, daquelas [guitarras] Gretsch estilizadas. Gravei um show deles no [festival inglês] Glastonbury e fiquei vendo várias vezes. Lembra Rage Against The Machine, lembra umas coisas mais antigas, com mulher cantando, essas coisas todas. Fora outros caras mais tradicionais, uns cantores que eu amo ouvir, tipo Dennis Brown, Marvin Gaye, Curtis Mayfield. Não abro mão nunca de ter esses caras perto de mim.
Virgula Música: Em uma entrevista anterior ao Virgula, você comparou o reconhecimento que o sertanejo tem atualmente no Brasil com o prestígio que o rock tinha alguns anos atrás. Você acha que em breve veremos um retorno das bandas de rock, e talvez até uma explosão de várias bandas, como ocorreu nos anos 90?
Falcão: Acredito em uma ideia do Nelson Motta, que disse uma vez que hoje em dia, com a internet, tem muita gente fazendo música, mas se destaca mesmo quem tem qualidade. Um disco é diferente de uma música, e sempre vai ter a galera imediatista, faminta para ter o novo boom, o novo estouro para ganhar dinheiro. Eu acho que vai vencer quem tem qualidade, independentemente de rede social, YouTube e tudo mais. Tem gente que pensa: “Ah, o que está fazendo sucesso agora? Deixa eu copiar para fazer também”. Eu nem penso nisso. Fico pensando em fazer material novo para fazer a diferença na vida das pessoas.
O Rappa se apresenta no palco Cidade Jardim às 16h de sábado (7).
Serviço – LOLLAPALOOZA BRASIL
– Dias 7 e 8 de abril de 2012, das 14h às 22h30
– Jockey Club da cidade de São Paulo – Avenida Lineu de Paula Machado, 1263
– Preço: de R$ 150,00 a R$ 500,00 – Veja todas as opções de preço e locais de venda aqui.
– Classificação: Livre (menores de 16 anos, apenas acompanhados dos pais ou representantes legais)
– SAC – faleconosco@lollapalooza.com.br / 4003-8878