Pedro Bromfman é um carioca que adora música e resolveu correr atrás da carreira nos EUA. Pra quem não se lembra de tê-lo visto cantar ou algo parecido, o motivo é simples: o músico trabalha com trilha sonora, além de cultivar uma antiga paixão, o jazz.
O mais conhecido trabalho deste trilheiro no Brasil é a trilha sonora do filme Tropa de Elite, que além de jargões fanfarrão e pede pra sair- recuperou um antigo hit do Tihuana, que leva o nome do filme, entre novas composições. Tive a sorte de estar envolvido desde a fase do roteiro, o que me possibilitou conhecer intimamente os personagens e entender como a musica deveria contribuir emocionalmente para o filme, diz ele do trabalho em Tropa….
Um compositor de trilhas trabalha de duas formas: seja na escolha de músicas já gravadas para compor uma trilha ou compondo as músicas. Ajudamos a construir o mundo emocional através da criação de temas musicais, diz ele. Entre uma viagem e outra ele reside em Los Angeles e passa a maior parte do tempo por lá Pedro concedeu uma entrevista ao Virgula-Música e falou do trabalho e do mercado de trilheiros, formação, e novos projetos. Confira:
Virgula-Música – Gostaria que você falasse sobre o trabalho no filme Tropa de Elite.
Pedro Bromfman – Compus e produzi em torno de 30 faixas incidentais, que dividem com as canções escolhidas os momentos musicais do filme. Também fui responsável pela produção e regravação de algumas canções como Rap das Armas e a faixa Nossa Bandeira, ambas gravadas com os MCs Leonardo e Júnior e com a bateria da Escola de Samba da Rocinha. Toquei diversos instrumentos durante as gravações da trilha, fiz a programação sonora e criei sons e contei com a participação de grandes músicos como Robertinho Silva, Ney Conceicao e Cassio Duarte.
Haverá uma edição especial da trilha nos EUA, parece que ela vem com algumas novidades, certo?
PB – O filme que será lançado nos EUA será exatamente igual ao que saiu no Brasil. A diferença é que o CD da trilha que estamos preparando para lançar aqui fora contará com parte da trilha incidental, o que não saiu no Brasil e alguns diálogos mixados entre as músicas.
Como é esse mercado – o de trilhas – aí nos Estados Unidos para brasileiros? PB – O mercado de trilhas em Hollywood é completamente globalizado. Compositores do mundo inteiro que querem trabalhar com música para cinema tentam a sorte por aqui. Esse é sem dúvida um mercado extremamente competitivo porem, apesar de bastante saturado, existe trabalho para compositores nas mais
diversas áreas: videogames, web sites, shows de TV, etc… Eu trabalhei durante anos compondo musica para trailers e comerciais antes de começar a me dedicar exclusivamente ao cinema.
Você saberia dizer quais músicos brasileiros se destacam por aí, nessa área?
PB – Alguns estão construindo carreiras bem sucedidas por aqui como, por exemplo, o Antonio Pinto, o Heitor Pereira e o Marcelo Zarvos.
Você começou como guitarrista de Jazz no Rio, certo? Quando você decidiu se tornar produtor de trilhas e tentar a carreira nos EUA?
PB – Me mudei para Los Angeles em dezembro de 2001. Estava frustrado com o cenário da música instrumental no Brasil e queria passar um tempo por aqui tocando e aprendendo mais sobre produção. Não planejei entrar para o mercado de trilhas, apesar de ser apaixonado por cinema. Quando cheguei a LA conheci muita gente do meio e quando percebi, estava compondo trilhas para curtas e documentários. Resolvi então me especializar em composição de trilhas com um curso de pós na UCLA.
Você estudou em universidades norte-americanas. Formam-se melhor os músicos nos EUA?
PB – Fiz faculdade em Boston, na Berklee college of Music. Foi uma experiência extraordinária. A infra-estrutura de uma faculdade de música como a Berklee, pelo menos em 1994 quando cheguei a Boston, era inimaginável no Brasil. A possibilidade de tocar, gravar e estudar com excelentes músicos do mundo inteiro foi maravilhosa. Conversava justamente sobre isso com o Chico Pinheiro, grande guitarrista e meu companheiro na Berklee, quando nos encontramos em Nova York na semana passada. Acho que no Brasil temos músicos brilhantes e extremamente talentosos, porém, muitas vezes a falta de oportunidades acaba criando uma insatisfação e uma frustração geral que dificulta a constante busca da superação.
Fale um pouco sobre o trabalho no filme They Killed sister Dorothy. Essa é uma produção estrangeira ou nacional? Você sabe se tem previsão de estréia no Brasil? Que tipo de músicas você preparou para essa história?
PB – They Killed Sister Dorothy é meu mais recente trabalho. É uma produção inteiramente americana, porém sobre um caso que ocorreu no Brasil, a morte da missionária norte-americana Dorothy Stang, no Pará em 2005. O filme é narrado pelo ator Martin Sheen, dirigido pelo talentoso Daniel Junge e produzido por Nigel Noble, ganhador de um Oscar de melhor documentário nos anos 80. Compus em torno de uma hora de música para o filme, que conta exclusivamente com músicas minhas. O filme foi premiado no festival de South by Southwest com o Grande Prêmio do Júri e o Prêmio Popular. Estamos tentando levar o filme para o Brasil e possivelmente iremos estrear no festival do Rio, em outubro.
Você continua se apresentando ao vivo, está preparando algum trabalho novo de inéditas, quais os planos pra 2008?
PB – Não tenho tocado ao vivo. Tenho vontade de montar um grupo no futuro e voltar a tocar jazz, uma das minhas grandes paixões. Porém, no momento estou muito feliz em poder trabalhar compondo trilhas. Sempre fui um músico muito eclético, escutava e tocava de tudo desde a infância, e essa diversidade esta presente todos os dias em meu trabalho.
Quanto aos planos para 2008, estou preparando os CDs do Tropa de Elite e do Sister Dorothy para lançar por aqui (EUA). Devo fazer mais um filme com o José Padilha, diretor do Tropa, dessa vez um documentário sobre os índios Yanomamis. Além disso existe a possibilidade de eu compor a trilha para um novo filme brasileiro e outro americano no segundo semestre, ainda estamos em fase de negociação.
Se tivesse que escolher, qual seria o seu Top 5 de filmes que tem um casamento, digamos perfeito, entre trama e trilha, e por que?
PB – Sou um grande fã do Ennio Morricone e hoje tenho o orgulho de dizer que temos o mesmo agente em Hollywood, surreal, não?!?! Suas trilhas para The Good, The Bad and The Ugly, Cinema Paradiso e A Missão são perfeitas. Também adoro o trabalho do John Barry, Out of África e Somewhere in Time são trilhas maravilhosas. Como comentei antes, o compositor de trilhas é responsável por encontrar o tom do filme e compor temas que nos façam sentir na pele o que vemos na tela. Nos exemplos citados acima, esses gênios não só o fizeram, como também criaram melodias extraordinárias que funcionam maravilhosamente bem mesmo separadas do filme.