Back to back é quando dois DJs se apresentam juntos e cada um toca uma ou duas faixas, passando a bola um pro outro. A gente queria saber mais sobre Omulu e Leo Justi, dois talentos explosivos do novo funk e da música eletrônica brasileira e propusemos um back to back em forma de perguntas e respostas entre eles.
As duas lendas do futuro se apresentam na festa que leva o nome deles, no Audio Club, em São Paulo, nesta sexta (2). E, para ir entrando no clima, eles fizeram uma mixtape exclusiva pra gente:
Omulu é um dos produtores mais destacados da nova cena e tem um selo, Arrastão, por onde solta artistas ainda pouco conhecidos. Leo Justi é conhecido por ser fundador do núcleo Heavy Baile, que renovou a cultura e a imagem do funk, encurtando a distância entre morro e asfalto, por meio de fusões envolvendo funk e subgêneros como baltimore club.
Os dois, que já alcançaram reconhecimento nacional e internacional, chamando a atenção de megaprodutores como Diplo, Skrillex e M.I.A., é aposta do Audio Club para difundir a febre bass carioca na capital paulista. Audio que este ano trouxe bons nomes da eletrônica como o belga Stromae e os ingleses do Jungle.
Veja o back to back entre os monstros:
Leo Justi – Te conheço acho que desde 2011, mas só comecei a ver você lançando som em 2013, acho. Você começou a produzir por ali, ou já produzia antes, e só não tinha criado o Omulu ainda?
Omulu – Quando eu era novinho, lá no inicio dos anos 2000, tive um projeto de techno pesadão chamado Solúvel em Água. Aí comecei a trabalhar, fazer faculdade e acabei me distanciando um pouco da produção musical.
Em 2011, eu estava trabalhando direto numa empresa que fundei com um amigo que também virou parceiro musical e começamos a fazer uns mash-ups que lançamos de bobeira com o nome de Hot Plate (Chapa Quente traduzido toscamente pro inglês) aí essas músicas foram parar num blog chamado Funk na Caixa e foi graças a esse blog que conheci você, o Johnny Ice, o Carlos Nunez, Truculência Crew, La Bombacion, Jaloo e toda uma galera brasileira nova que estava pensando música eletrônica de uma maneira que ia além do techno, house e drum ‘n’ bass.
Omulu – Você tem trabalhado direto com a MC Carol, na moral lek ela é a melhor. Se pudesse escolher gravar com qualquer MC ou cantor de todos os tempos quem você escolheria? Por quê?
Leo Justi – Cara, de todos os tempos? Acho que o Ray Charles. A música negra americana é a maior influência no som que faço hoje, né? Mas, infelizmente, não tenho capacidade de criar canções nessa vibe. Tenho muitas canções, mas são indie rock deprê haha. Minha mudança pra produção de bass music rolou junto com uma vontade de expressar coisas diferentes, mais alegres, cuja manifestação inspirasse as pessoas “pra fora”, menos “pra dentro”. Então assim como gravo com MCs de funk e gravaria com sambistas com muito prazer, acho que Ray Charles preenche bem essa resposta aí.
Leo Justi – Nessa época de 2010-11, fiquei sabendo que foi você quem desenvolveu o app de sampler da Red Bull. Voce continua desenvolvendo apps? Tá com outros apps musicais no forno?
Omulu – Foi muito bacana fazer parte desse projeto, foi minha primeira ideia de APP, queria levar a experiência de fazer montagem ao vivo pra todo mundo que tivesse um telefone. Eu e meu parceiro Pablo desenvolvemos o app e convidamos o Sany Pitbull para fazer a curadoria artística do projeto. O Sany apresentou pra Red Bull e acabou virando um dos primeiros cases de apps patrocinados do país. Eu ainda viajo muito em apps, essa semana mesmo estava pensando em um novo tipo de sampler usando essa tecnologia da apple 3d touch, mas tenho focado mais na música ultimamente.
Omulu – Você tem vontade de produzir outro tipo de som? Qual?
Leo Justi – Sim, tenho muita vontade de retomar meus projetos na guitarra, que oscilavam entre um indie rock meio jazzístico chill e um rockzão grunge. Hoje eu acharia um novo letrista e vocalista pra minhas criações nesse campo. Meu último projeto nessa onda era com o Gabriel Ventura e Hugo Noguchi, que hoje tocam em bandas como Cícero, Lenine, Ventre, Posada e o Clã. E se eu conseguir voltar a me dedicar à guitarra de novo, é com eles que eu volto.
Leo Justi – Na minha opinião a arte deve ser livre e tudo tem espaço na existência. Mas também acho que cada contexto coloca uma responsabilidade no artista. Qual seu ponto de vista sobre tocar 1- funk putaria 2 – funk criminal.
Omulu – Escolho as tracks que eu toco primeiro pelo ritmo e melodia e depois pela letra. No funk putaria os beats são muito bons e boa parte das letras são divertidas. Torço muito pra que os letras se tornem cada vez menos sexistas. Já o funk criminal, eu não toco, toco uma ou outra música do MC Bin Laden que ele pode considerar proibidão, mas para mim é muito mais um jogo psicodélico de palavras e entonações de voz.
Omulu – Por que você acha que a cena funk de SP faz mais sucesso no resto do Brasil do que o funk carioca?
Leo Justi – Acho a produção de SP mais facilmente palatável, os tambores do Rio são sujos pra caralho, é tipo punk rock. Enquanto os tambores de São Paulo são tipo hip hop. E também as melodias dos funkeiros paulistas se assemelham mais ao sertanejo, que é o estilo que mais bomba nesse pais, né?
São Paulo me parece ser mais desenvolvida no aspecto business, mais tecnologia em vários estágios da cadeia produtiva, tudo mais otimizado. Mas isso é uma impressão meio palpitada.
Leo Justi – Qual você acha ser o maior problema na cena do funk e qual a maior vitória?
Omulu – Não enxergo problema não. Acho que a maior vitória é que a cena conseguiu se tornar extremamente popular de maneira independente dos meios tradicionais e está maior do que nunca, ocupando com música brasileira autêntica um espaço que antes era de enlatados.
Omulu – Lean On do Major Lazer tem o beat do reggaeton e é a primeira música independente a atingir o topo do Spotify e da Billboard. Você acha que é isso é só um começo? Acha que vamos ter cada vez mais música independente influenciada pelas periferias daqui em diante no mainstream?
Leo Justi – Nao acho que o beat reggaeton teve a ver com essa “surpresa” com Lean On – essa surpresa foi por não ser de nenhuma major, né? Porque se você ver os hits com beat de periferia no topo das paradas, isso já acontece desde os anos 90, não é nenhuma novidade. Não sei te garantir reggaeton, mas hip hop e dancehall com certeza, já.
Agora se “é o começo” no aspecto da musica “independente” chegar ao topo das paradas… aí, não sei dizer, porque nem sei dizer o quanto se pode dizer que Major Lazer/Mad Decent é indie hoje em dia. Essa música foi lançada depois de o Diplo ser um milionário. O que é ser independente hoje em dia?
Leo Justi – Que artistas estão sendo mais inspiradores pra você (musicalmente, artisticamente)
Omulu – O DJ Byano tem soltado uma bomba depois da outra, vai sair um EP dele pelo Arrastão em breve. O disco novo do Branko tá absurdo. Além do som eletrônico das periferias, tenho buscado inspiração em canções orgânicas de mestres como Tom Zé, Hermeto, João Gilberto, Baden Powell, Jorge Ben, Lucas Santtana. Fico viajando muito em como os caras traduzem o groove da percussão afrobrasileira pra outros instrumentos.
Omulu – Tem uma molecada nova do barulho na cena né? Quem que tu acha que tá mandando muito?
Leo Justi – Cara. o Sydney, que tu me apresentou, inclusive, foi sem dúvida a maior surpresa, embora ele ainda esteja talvez entendo o foco pra sua linguagem, o talento dele grita, isso é certo. O Dorly é outro que tá mostrando um desenvolvimento meteórico na produção musical. Bazzilians de SP também que conheci há pouco através do Toddy Ivon, fiquei de cara, tá com faixas absurdas. Ah, e o Ruxell também foi uma revelação pra mim! Muleque é TOP rs.
SERVIÇO
Leo Justi X Omulu no Audio Club
Quando: Sexta (2 de outubro)
Onde: Audio Club, às 23h
Link do evento: https://www.facebook.com/events/1139654226064273/
Link pra compra de ingresso: https://www.ticket360.com.br/evento/4673/leo-justi-I-omulu