Mas bah, tchê! Quando Paul McCartney saiu pela primeira vez do palco e a plateia cantava o coro de Hey Jude pedindo o bis, era impossível olhar para as arquibancadas do Beira Rio lotado e não ter certeza de estar presenciando um momento histórico. No palco se apresentava um dos maiores (se não o maior) músico de rock’n roll vivos, um dos dois remanescentes da maior banda que já existiu. Esbanjando um português de dar inveja em expressões regionais, Sir McCartney voltou empunhando a bandeira do Brasil com uma simpatia impressionante. Enquanto algumas pessoas da pista premium entoavam o hino do Rio Grande do Sul, Paul acompanhou o coro majoritário de “ah, eu sou gaúcho”. Parecia que o estádio viria abaixo.

Porto Alegre respirava Paul McCartney desde o começo da semana. Diversas faixas nas principais avenidas saudavam a vinda do ex-Beatle, algumas inclusive o reverenciando como “protetor dos animais” (Paul é vegetariano). Nos bares e casas noturnas pipocavam festas de preparação ao grande show, e mesmo nas arquibancadas do jogo do Grêmio, um dia antes, o assunto entre um gol e outro era sobre quem iria ver o show no estádio do rival. Além de acenar às dezenas de fãs que faziam vigília em frente ao hotel ou aos que estavam na fila do estádio, Paul retribuiu o carinho chamando duas meninas da grade com cartazes para o palco e assinou em seus braços para que elas fizessem um tatuagem por cima do autógrafo. Mais que isso: fez o show da vida de praticamente todos os presentes.

Em entrevista à Rolling Stone brasileira, Paul detalhou o processo de escolha do repertório da turnê. São três tipos de canções: as obrigatórias, as novidades e as preferências pessoais. A primeira metade do show é basicamente composta pelas duas últimas categorias. Assim, surgem homenagens ao grande amigo John Lennon (“Here Today”), uma “música que eu fiz para minha gatinha Linda” (My Love”) e gemas da carreira solo (“Jet”, “Let Me Roll It” e “Mrs Vandebilt”), tudo isso intercalado com clássicos dos Beatles.

“All My Loving”, logo no comecinho, garante os pulos alegres da massa. Sentado ao piano, McCartney comanda uma versão pungente de “The Long And Winding Road”, capaz de arrancar as primeiras lágrimas mesmo dos mais durões. O mini-set acústico, então, é de arrasar: “I’Ve Just Seen a Face”, “And I Love Her” e “Blackbird” enfileiradas, em sequência. Teste para cardíacos. “Eleanor Rigby” surge épica, mas o grande destaque da primeira metade é sem dúvida a homenagem a George Harrison. “Something” começa com Paul sozinho no ukulele e ganha reprodução fiel a partir do solo, com lindas imagens do guitarrista falecido no telão.

“I Hope you’re having fun.” É a partir de “Band On The Run”, porém, que o show pega fogo sem parar. A sequência de músicas dali até o final é avassaladora. Se “Ob-La-Di-Ob-La-Da” é diversão ingênua, “Back In The USSR” é catarse pura. “A Day In The Life”, talvez a melhor músicas dos Beatles, é de arrepiar, ainda mais emendada com o hino pacifista “Give Peace A Chance”.

E então Paul senta ao piano, começa a tocar “Let It Be”, os celulares se acendem na plateia e é como se os últimos 50 anos de música pop passasem na sua frente envoltos em uma melodia simples e doce. Explosiva, “Live And Let Die” chega com fogos de artifício preparando para o momento do coro em “Hey Jude”, que encerra o show. Ao final de dois bis o relógio marca 2 horas e meia de show, mas todos os presentes aguentariam felizes no mínimo o dobro do tempo de show. “In the end, the love you take is equal to the love you make”. Não há frase melhor para encerrar o melhor show do ano, da década, da vida, no Brasil.

Sir Paul McCartney, escudado por uma banda perfeita, apresenta suas armas com cuidado e perícia: canções pop simples de três minutos com as mais lindas melodias já compostas. Ele escreveu a história e está aqui para nos contar, com sorriso de criança inocente e vigor de um jovem atleta. Só nos resta, bregas, cantar juntos entre um soluço e outro. Na, na, na, na na na, na na na na, Hey Jude. Tri legal.

Veja o setlist completo

“Venus ans Mars/Rock Show”
“Jet”
“All My Loving”
“Letting Go”
“Drive My Car”
“Highway”
“Let Me Roll It/Foxy Lady”
“The Long And Winding Road”
“Nineteen Hundred ans Eighty-Five”
“Let’Em In”
“My Love”
“I’ve Just Seen a Face”
“And I Love Her”
“Blackbird”
“Here Today”
“Dance Tonight”
“Mrs Vandebilt”
“Eleanor Rigby”
“Ram On”
“Something”
“Sing the Changes”
“Band on the Run”
“Ob-la-di, ob-la-da”
“Back in the USSR”
“I’ve Got A Feeling”
“Paperback Writer”
“A Day In The Life/Give Peace A Chance”
“Let It Be”
“Live and Let Die”
“Hey Jude”

Bis 1
“Day Tripper”
“Lady Madonna”
“Get Back”

Bis 2
“Yesterday”
“Helter Skelter”
“Sgt. Peppers Lonely Hearts Club Band/The End”


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Paul McCartney faz show explosivo e histórico em Porto Alegre

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