O roqueiro Serguei, considerado a seus 77 anos o “avô” do rock nacional, considera que a nova edição do Rock in Rio, que começará na sexta-feira no Rio de Janeiro, desfigurou o espírito original do festival, transformado em um espetáculo comercial com pouco rock.

LEIA MAIS: Cidade do Rock recebe ajustes finais para o Rock in Rio

Aquecimento Rock in Rio: ouça os hits que vão bombar no festival

“O rock and roll não é só um gênero musical. O rock and roll é uma cultura, é um estilo de vida, é uma atitude, e não vejo nada disso em um samba ou em um axé”, afirmou à Agência Efe Serguei desde seu refúgio e casa-museu em Saquarema, cidade litorânea do Rio de Janeiro na qual vive de suas lembranças.

O cantor, que lançou o primeiro de seus dez discos em 1966, é um veterano de festivais e não só participou de Woodstock (1969) como também foi um dos artistas do segundo Rock in Rio (1991) e do terceiro (2001).

O músico, que não se importa em ser chamado de “dinossauro” do rock e que não perde oportunidade de evocar seu suposto romance com Janis Joplin, considera que a inclusão no festival de grupos de samba, pagode, axé e outras músicas populares desfigura o Rock in Rio em seu retorno à cidade na qual nasceu.

A nova edição do festival será realizada nos fins de semana de 23 a 25 de setembro e de 29 deste mês a 2 de outubro, e contará com as apresentações de bandas como Coldplay, Red Hot Chili Peppers, Metallica, Lenny Kravitz e Guns N’Roses, entre outros.

A lista de artistas estrangeiros inclui vários ídolos do pop, como Shakira, Rihanna, Elton John e Stevie Wonder.

Entre os brasileiros, apesar de incluir as bandas de rock com mais destaque no cenário nacional, como Paralamas do Sucesso, Titãs, Legião Urbana e Skank, também há vários cantores de samba e música popular brasileira, como Milton Nascimento, Maria Gadú, Zeca Baleiro e Martinho da Vila.

“Podem ser os melhores intérpretes de samba do mundo, mas não são rock”, alega Serguei, que recebeu a Efe maquiado como antigamente, com suas tradicionais roupas psicodélicas, lentes de contato azuis e uma peruca de cabelos compridos de cor escura, apesar das rugas que não escondem sua idade.

O músico alega que os organizadores do Rock in Rio tiveram cuidado em convidar os mais populares representantes do axé e de outras músicas “baianas”, mas deixaram de fora alguns dos melhores roqueiros brasileiros.

“Eles me disseram que tinham convidado a Claudia Leitte e a Ivete Sangalo porque aonde elas vão levam uma multidão incalculável. Então é o ‘money’ que manda”, afirmou o músico, que foi batizado de “O anjo maldito” em sua biografia autorizada.

“Ambas são maravilhosas no que fazem, mas não sei se o público de rock and roll gosta isso. É tudo muito comercial. Quem foi a verdadeiros festivais de rock não gostará do que encontrará no Rio este mês”, acrescentou.

O velho roqueiro concorda com os críticos que pedem aos organizadores que substituam o nome de “Rock in Rio” pelo de “Pop in Rio” e se queixa que o festival perdeu personalidade.

Serguei, cuja casa foi transformada em um verdadeiro museu do rock no qual se destacam seus discos e muitas de suas lembranças, recorda que foi o responsável por abrir a segunda edição do Rock in Rio, no Maracanã, e que na terceira edição conseguiu cativar milhares de pessoas com sua interpretação de “Satisfaction”, dos Rolling Stones.

Sergio Augusto Bustamante, que no Brasil foi comissário de bordo da extinta companhia aérea Varig antes de seguir aos Estados Unidos para iniciar sua carreira musical, demonstra que não perdeu a atitude roqueira com a qual em 1967, em plena ditadura militar, escalou uma estátua no centro do Rio de Janeiro para gritar vivas ao rock e à liberdade de opinião.

O cantor e compositor, que iniciou sua carreira em 1966 com o lançamento de “Eu não volto mais”, é uma lenda viva do rock brasileiro em sua casa, batizada de “O Templo do Rock” e na qual atua como guia de museu para centenas de visitantes.


int(1)

Para Serguei, "avô" dos roqueiros brasileiros, Rock in Rio foi desfigurado