Divulgação Linn da Quebrada

Dia a dia, o Brasil e o mundo têm testemunhado mais pessoas LGBT na música, na moda, nas artes, nos negócios.  Um mural que acabou de ser finalizado, no Minhocão, retrata as artistas trans Linn da Quebrada e As Bahias e a Cozinha Mineira.

Patrick Rigon e Renan Santos assinam a obra, que tem apoio da marca de vodca Absolut. Nós falamos com Linn da Quebrada, que lançou este ano seu elogiado disco Pajubá. A popstar trans falou ainda sobre tendências, gênero e música, entre outros assuntos:

O que você acha que está rolando de mais novo na música brasileira hoje?
Linn da Quebrada – Esse ano me envolvi e ouvi muito funk, acho que foi o estilo mais bombado do ano. Muita gente boa produzindo coisas incríveis, entre elas a Bad[Sista], minha mana e que também assinou a direção musical do meu álbum. Fomos além do funk, viajamos no global gueto, no vogue, mas trabalhamos muito com o funk também, que é vital pra minha música e todo o conceito que Pajubá trouxe.

 

Divulgação/Absolut Linn da Quebrada

Você acha importante levar em consideração o gênero do artista, como evitar que isso tire o foco na música em si?
Linn – Minha música é uma das linguagens que uso na minha arte. E minha arte é resistência: é disso que falo, é quem eu sou. A música é minha aliada nisso tudo, então o foco é dela também. Eu e toda minha gig tivemos muita atenção na hora de produzir Pajubá, pensamos em todos os detalhes, criamos tudo que tá ali. Pajubá faz sentido pra gente e pro nosso público, esse é o objetivo e a gente sente que alcançou muita gente com esse disco. É tudo uma coisa só.

Quem são seus heróis e heroínas musicais?
Linn – Elza Soares, Elis Regina… minhas amigas, Anelis Assumpção, Ava Rocha, Liniker… amo elas e me inspiro com todas.

Além de Pajubá, da Linn, e Bixa, das Bahias, que outros discos lançados em 2017 acha que as pessoas não podem deixar de ouvir?
Linn – Eletrocardiograma, da Flora Matos. Ouvi muito e me identifiquei com várias letras.

Fale sobre o conceito do seu trabalho mais recente e como chegou até este conceito?
Linn – Pajubá é criação de narrativa: é pegar aquela história de amor, aquele relato de violência, aquela lenda mal contada e possibilitar tudo isso dentro do nosso ponto de vista, um ponto de vista muitas vezes marginalizado, anulado, excluído. É contar nossas histórias a partir de nossas vivências, desejos e sonhos. Pajubá é afeto, é um idioma novo para pessoas que nem sempre puderam ser o que são, falar o que sentem. Sou uma dessas vozes e meu disco traz muito disso.

Divulgação/Absolut A Arte Resiste

Você é um espelho para muitos jovens gays que sofrem violências, às vezes dentro de casa. Como espera ser um agente de mudança?
Linn – Eu não concordo em estar num lugar de diva: não sou diva e nem quero ser. Mas entendo que meu trabalho levanta uma questão de representatividade muito forte e nisso eu acredito: que minha música pode inspirar muitas pessoas. Minhas letras eram coisas que sempre estiveram entaladas na garganta e aí, ao escreve-las, canta-las, várias manas e monas vieram junto, fazem parte daquilo. Porque aquilo é delas também. Minha arte me permitiu me transformar e me possibilitar em diversas potências que carrego comigo, então se ela surtir o mesmo efeito em mais pessoas é a coisa mais especial que pode acontecer.

Em que medida a arte pode ser um antídoto contra o preconceito contra as trans?
Linn – No sentido de criar novas linguagens e contar histórias a partir de novos pontos de vista, nossos pontos de vista. Pajubá é reinvenção de narrativa, é dar nome aos boys.


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'Pajubá é reinvenção de narrativa', diz Linn da Quebrada, popstar trans

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