(Foto: Maurício Valladares/ divulgação) Os Paralamas do Sucesso

Em Medo do Medo, canção de Sinais do Sim, do novo álbum de inéditas dos Paralamas do Sucesso, Herbert Vianna canta: Eles têm medo de que não tenhamos medo. Medo de Deus e medo da polícia. Medo de não ir para o céu e medo da justiça”. Em exclusiva com o Virgula, João Barone explica a mensagem da letra: “É sobre a ameaça feita pelos grandes grupos e corporações, pelas forças obscuras que controlam a sociedade e a política. É sobre o que o medo é capaz de causar nas pessoas, do oportunismo que o medo gera, tanto no discurso conservador dos Bolsonaros da vida quanto no comércio gerado pela violência como a última ponta da corda. Isso gera o medo de não sairmos de casa, da bala perdida, e dos grupos que fomentam isso para tirar partido“.

A música, que é uma releitura da rapper portuguesa Capicua, é uma das poucas do disco que leva o tom de protesto, e Barone conta o porque: “A gente já evoluiu muito deste clichê do rock precisar ser contestador. O rock nacional já teve essa premência e hoje o rap e o funk fazem isso de uma maneira muito melhor e mais representativa. Não existe mais patrulhamento para o rock ter um discurso politizado“. O baterista continua: “Nós somos o resultado da nossa obra pregressa. Não precisamos fazer outra ‘Alagados’, ‘Óculos’, ‘Perplexo’ e ‘Luís Inácio e os 300 Picaretas’. Nós já fizemos isso tudo e não precisamos mais nos preocupar em se posicionar politicamente“.

Falando em rap, para produzir o álbum os Paralamas foram atrás de um dos produtores mais respeitados do gênero, Mario Caldato Jr., famoso por seus trabalhos com Beastie Boys, Planet Hemp, Marcelo D2 e Criolo. Porém, de beats e samples que permeiam o estilo o trabalho nada tem e é um dos discos mais rocker do grupo carioca, repleto de riffs e solos de guitarra. “Isso veio da visão do Mario, porque a gente carregou na nossa vertente rock e não tem nada mais rock do que guitarra (risos)“, brinca Barone. “O disco é o que é devido à mão do Mario. Demos carta branca a ele para interferir no que fosse preciso no nosso som e no que achasse conveniente, e ele colocou as guitarras do Herbert de uma maneira muito bem enquadrada, bem emoldurada e que ficou bastante presente no resultado final“.

Sinais do Sim, lançado em agosto, chega após um período de oito anos sem inéditas (o último trabalho foi Brasil Afora, de 2009) e Barone celebra esse momento e processo tão especial que é o nascimento de um disco: “É sempre uma alegria poder gravar material novo, que represente a nossa safra recente do que temos para dizer musicalmente e textualmente. E, para nós entrar no estúdio e gravar é sempre um momento mágico, um momento de muito prazer. Ao mesmo tempo é uma coisa meio breve, porque gostamos de ir com tudo já bem resolvido e alinhado. Então, quando entramos no estúdio as coisas acontecem muito rapidamente”. 

Para a arte gráfica, Raul Mourão, que já trabalhou anteriormente com a banda foi recrutado mais uma vez. “Como a experiência com o Raul tem sido muito positiva é uma coisa especial de se manter“, diz Barone. “Ele nos apresentou a capa, essa coisa bem clean com esse totem que tem quase 2 metros de altura, e a gente aprovou na hora, achamos o máximo. E sabe, preferimos essa visão externa para a criação da capa porque não temos a destreza de fazer a própria arte gráfica. Nós só apontamos o polegar pra cima ou pra baixo (risos)“.

Antes de finalizar o papo, não poderia faltar a pergunta mais óbvia: quais seriam os sinais do sim? “Olha, é difícil a gente ver os sinais do sim, mas eles representam que a gente precisa acreditar em alguma coisa. A gente não tem plano B aqui na Terra, não podemos fugir para Marte, nem para a Lua. Temos que cuidar do nosso planeta. Esses são os sinais“, finaliza Barone.

 Capa de Sinais do Sim

(Foto: divulgação)


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Os Paralamas do Sucesso: 'Não há mais patrulhamento para o rock ter discurso politizado'

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