Quando eles pisam no palco, ninguém segura. Dono de shows bombásticos, o trio inglês Muse está no Brasil neste fim de semana, parte de sua primeira turnê latino-americana.

Matt Bellamy (vocal e guitarra), Christopher Wolstenholme (baixo) e Dominic Howard (bateria) mostraram dotes ontem em solo carioca, no Vivo Rio, e seguem para o festival Porão do Rock, em Brasília, no sábado (2). Hoje é a vez dos paulistanos, sedentos pelo clima explosivo do show do grupo inglês que mais abocanhou prêmios de melhor desempenho ao vivo nos últimos anos.

“Supermassive Black Hole”, “Knights of Cydonia” e “Stockholm Syndrome”, hits essenciais do repertório do Muse, devem fazer parte da apresentação que rola no HSBC Brasil daqui a pouco.

A banda, que está divulgando o recém-lançado DVD/CD ao vivo HAARP, trocou idéia com a gente pouco após adentrar o hall de um dos mais bacanudos hotéis paulistanos, onde se hospedou depois de encarar atraso no vôo e um engarrafamento daqueles. Além do Virgula, a roqueira prata-da-casa Pitty estava lá e tietou os gringos na maior, enquanto gravava também entrevista com os musos.

Bate-papo

“A entrada desse hotel parece uma balada”, zoou Dominic, batera gente fina e notório fã de calças skinny coloridas e de fantasias do Homem-Aranha, com as quais já subiu em palcos mundo afora. No papo do rapaz conosco, estiveram na pauta a tecnologia 3D, tempos apocalípticos para gravadoras que ficarem gagás e um certo filme pornô japa…

Já me contaram que você estreou figurino inédito no show no Vivo Rio ontem, quando trocou a roupa do Homem-Aranha pela bandeira do Brasil…
Foi [risos]! O público estava pirando, jogando um monte de coisas no palco. Desde confetes até uns três bonés. Ganhei uns brindes nessa brincadeira, incluindo a bandeira, que acabou chegando até a bateria. A casa de shows era relativamente pequena, para umas três mil pessoas, o que permitiu que criássemos uma intimidade com o público. É esse o tipo de conexão que é bacana ter com a platéia, especialmente em um país no qual estamos tocando pela primeira vez.

E parece que o trânsito, tanto da ponte-aérea Rio-São Paulo quanto das ruas daqui, deu trabalho para vocês…
Nem me fala. Apesar do avião em que viemos para o aeroporto de Guarulhos ter sido nosso próprio jatinho, acabou atrasando. Aí, quando chegamos em São Paulo, foi aquele trânsito infernal. Mas estamos de boa. Estou muito empolgado. Até para continuar na balada depois do show. Você sabe até que horas os clubes funcionam aqui?

Pode ficar tranqüilo que São Paulo é a Nova York latina. Vocês vão encontrar diversão, mesmo que após o show. Aliás, vocês têm aproveitado esses dias para fuçar bandas daqui da América do Sul?
Bem, eu amei Buenos Aires e aproveitei que estava na cidade para pegar uns discos de tango por lá. Agora, a Pitty acaba de dar um CD para a gente e estou curioso para ouvir. Também ganhei uma caixa de CDs e DVDs de um monte de bandas. Eu trouxe um laptop e espero que role um tempo para ouvi-los o quanto antes.

Qual seu pensamento hoje sobre novas possibilidades de distribuição musical? Lojas de discos e gravadoras estão mesmo contando segundos para mortes súbitas irremediáveis?
Em um sentido tradicional, com certeza. Não tenho dúvidas de que gravadoras, como somos acostumados a concebê-las, não serão mais necessárias em um futuro próximo. O foco está mudando: gravadoras serão interessantes para a divulgação da música, não para a comercialização dela. No mercado da música, na equipe que dá suporte às bandas, não há melhor posição hoje do que a de agente. Gravadoras que não quiserem afundar vão ter que entender que seu papel é importante no marketing das bandas, mas não no processo de venda das músicas. E eu não vejo essas mudanças de maneira negativa. Acho que a distribuição musical está mudando para melhor.

E como o Muse vai se virar quando essas mudanças se fixarem?
Nossa idéia é concentrar as vendas das nossas músicas em nosso site oficial. O acesso à música já é digital hoje. É muito bom poder colocar os sons dos quais você mais gosta no seu iPod. O prazer de fazer e ouvir música não mudou. É por isso que penso que por mais que estes sejam tempos difíceis para as gravadoras, não significa que a música em si vai mal das pernas.

Aqui no Brasil, uma empresa teve a idéia de vender mp3 em máquinas self-service dentro de estações do metrô, tipo aquelas que vendem refrigerante, sabe?
Mas como?

Conectando o mp3 player a uma porta USB da máquina.
Nossa. A gente não tem nada parecido na Inglaterra.

Sim, foi idéia de estudantes brasileiros.
Incrível. Essa é a idéia mais interessante de distribuição de música que escuto em um bom tempo.

Outra questão da indústria cultural que chama atenção hoje é o aumento do número de filmes em 3D. O do U2 chega às lojas no mês que vem e esse formato deve se tornar mais tradicional na música em breve. O show do Muse é toda aquela energia incontrolável e pode ficar o máximo em 3D. Já pensou nisso?
É verdade. Ainda não tinha pensado a respeito, porque é algo muito novo. Mas pode dar certo. Tipo o Matt dar aqueles giros com a guitarra, e parecer que ela vai voar em cima da galera. Muito bom. Sim, é possível consideremos algo assim novamente, mas apenas quando a idéia virar mais padrão. Se fizermos algo do tipo agora, ou se qualquer banda fizer, na verdade, vão dizer que ela está imitando o U2. Mas pensando no futuro… Já tive oportunidade de ver TVs que funcionam como 3D mesmo sem aquele óculos especial. Um DVD musical em 3D, para a pessoa ver em casa, numa TV assim, pode ficar legal para caramba. Ou em um cinema IMAX!

Outra: você acha que os prêmios de melhor show que o Muse vem acumulando ao longo dos anos influenciam de alguma maneira o que vocês fazem em estúdio? É complicado traduzir toda a euforia que vocês reúnem no palco em letras e arranjos musicais?
Acho que o que fazemos em estúdio envolve questões mais íntimas, mais pessoais. Estamos cercados por mesas de som, alto-falantes, microfones. Não tem muito como ser expressar a mesma explosão de emoção, a mesma falta de controle, que vivemos em um show. No palco, a gente pira mesmo. Mergulha na música, se perde nela com toda intensidade. Em um ambiente técnico como o de um estúdio, não é possível sentir o mesmo clima. Porém, quem sabe… Talvez em algumas músicas a gente mostre uma energia do “ao vivo”, mesmo sem perceber.

Bem, já estão me chamando. Hora de acabar nosso papo por hoje. Mas, antes, uma última e fundamental pergunta: de onde vocês e o Matt tiraram a idéia de usar os ótimos nomes Gothic Plague [“Praga gótica”] e Rocket Baby Dolls [“Baby dolls de foguete”] para a banda, antes de pensarem em “Muse”?
Ah [risos], isso foi há tantos anos! A gente não tinha noção de nada. E não eram nomes ótimos, definitivamente…

Não eram? Achei que a escolha fosse irônica…
Não, a gente era tão sem noção que, se duvidar, não sabia nem o que era ironia. No caso do Gothic Plague, acho que não sabíamos direito nem o que era gótico. Acho que simplesmente curtíamos o clima de escuridão que achávamos que o nome evocava. E a escolha do Rocket Baby Dolls veio de um filme pornô japonês que eu e o Matt assistimos juntos…

Juntos?
É, juntinhos [risos]. Mas enfim, adoramos o filme, que não era um pornô qualquer. Era demais, uma obra de arte mesmo. Sério. E roubamos o nome. Com o tempo, porém, percebemos que ele não tinha a ver com o som que estávamos fazendo. E foi aí que surgiu uma outra idéia, sintética e poderosa. Uma palavra, quatro letras: Muse.

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Os musos do Muse: em São Paulo, ingleses papeiam com Virgula

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