Terra arrasada há anos, entrar no Orkut nos últimos tempos era como explorar uma cidade fantasma dos faroestes, em que você podia ouvir as bolas de feno rolando. A rede social desativada nesta terça-feira (30), no entanto, deixará saudades para os fãs de música.
Primeira plataforma de relacionamento a ser usada em massa pelos brasileiros, o Orkut foi arena de muita troca de informação, um espaço onde mesmo quem pertencia a nichos e subculturas muito específicas, como surf-music japonesa ou pop africano, encontrava seus pares.
O site, criado em janeiro de 2004 e que hoje pertence ao Google, também foi pivô de discussões envolvendo a pirataria. A comunidade Discografias, que permitia a troca de links com arquivos para serem baixados, foi fechada em 2009 por pressão da APCM (Associação Antipirataria Cinema e Música), que congrega gravadoras e corporações de entretenimento.
O professor Adalberto Belgamo, frequentador de comunidades relacionadas a bandas como R.E.M., Pearl Jam, Black Sabbath, discorda que a rede tenha sido catalisadora da pirataria. “Potencializou a troca de material entre os apreciadores de música independente”, afirma.
Mesmo após a Discografias ter sido encerrada, no entanto, a pirataria continuou forte na rede, em um momento que que a música digital não era vista como opção pela indústria, que girava em torno do CD. Um comunicado oficial dos gestores da comunidade, em 2009, mostrava que a vida das gravadoras não seria fácil.
“Não é com o fechamento desta comunidade e outras equivalentes que as gravadoras irão aumentar seus lucros. Muitos artistas perderão seus meios de divulgação. Milhares de membros terão que procurar outras atividades no Orkut que não seja o download de músicas e afins. O número de sites e blogs de conteúdo similar, mais programas como eMule, Limewire, de torrents e outros P2P, cresce em progressão geométrica”, afirmou a nota.
Com o tempo, entretanto, descobriu-se que nem todos os usuários gostariam de ter todos os milhares de arquivos disponíveis para ouvir suas músicas. A música foi pra nuvem e as gravadoras pro espaço.
