OK Go toca de graça pelas ruas de São Paulo


Créditos: Henriette Gallo

O OK Go é uma banda americana especialista em criar clipes bombados na internet com baixo orçamento e ideias simples. Prova disso é o vídeo de Here It Goes Again, que mostrava Damian Kulash (vocal, guitarra), Tim Nordwind (baixo, vocais), Dan Konopka (bateria) e Andy Ross (guitarra, teclados, voz) fazendo uma coreografia em cima de esteiras de corrida, e foi visualizado por cerca de um milhão de pessoas no YouTube em somente seis dias.

De olho no potencial viral do grupo, a marca de tequila Jose Cuervo contratou os rapazes para uma ação especial, com o intuito de divulgar o novo drink Cuervo Cold. Com isso, a marca está promovendo uma série de shows gratuitos da banda pelas ruas de São Paulo e Rio de Janeiro entre os dias 19 e 25 de novembro.

A ideia é distribuir o OK GO em pequenas doses, com apresentações itinerantes em um caminhão de bebidas. A ação envolve ainda a gravação no Brasil de um vídeo participativo inédito para uma das músicas novas do grupo.

O Virgula Música foi checar uma dessas apresentações relâmpago em São Paulo neste domingo (dia 20) e puxou Damian e Tim para um bate papo sobre os shows no Brasil, a relação da banda com as gravadoras e os próximos passos do OK Go. Leia abaixo a entrevista.


Virgula Música – Vocês estão fazendo vários shows em um caminhão em um único dia. Já fizeram algo assim antes?

Damian – Nunca fizemos algo exatamente assim, mas já tivemos mais de um show em um único dia…

Tim – Certa vez tivemos alguns shows no Canadá, e um dia tocamos em um lado de uma cidade, entramos em uma van que não tinha pneus próprios para neve e seguimos para tocar em Halifax no mesmo dia… Não foi algo muito seguro de se fazer.
 
Damian – Nenhum desses show foi em ‘terra firme’, foram todos em cima da neve. Isso foi incrível e ao mesmo tempo um pouco assustador. Depois disso eu jurei pra mim mesmo que nunca faria algo assim novamente. E agora estamos aqui (risos).

Tim – É mas, aqui no Brasil é bem mais divertido de tocar!

Damian – Sim, com certeza! Mas nós já fizemos algumas apresentações estranhas, Já tentamos tocar debaixo d’água, e funcionou. Não foi muito confortável; eu estava usando um traje no qual meu corpo todo estava mais solto que o do resto dos integrantes, era quase como um tanque. Os outros tinham snorkels. Eu achei bem legal, mas Andy odiou isso. Acho que não poderíamos fazer isso de novo, porque ele nos mataria (risos).

Tim – Nós já tocamos no alto do Museu Guggenheim Bilbao, em Nova York.

Damian – Sim, e lá tentamos tocar na altura de 30 pés acima do solo, mas só conseguimos a 26 pés. Além disso, nós fizemos um desfile de oito horas em Los Angeles com cerca de cem pessoas. Nesse dia nós tocamos todas as músicas que sabíamos!

Virgula Música – Então foi fácil para vocês subir no caminhão e fazer essa série de shows…

Damian – Claro! A parte mais difícil desse trabalho realmente é a para as pessoas que montam tudo, entram e saem daquele caminhão rapidamente. Toda a energia para os instrumentos tem que vir de geradores, e deve ser desgastante preparar tudo isso. É logisticamente muito difícil para a eles, mas para nós é bem fácil, pois é um show bem mais curto que o normal. Não temos muito espaço, mas é divertido pelo fato de captarmos energias diferentes do público de cada lugar. Tem pessoas que são pegas de surpresa andando pela rua e também fãs dedicados que vão a todos os concertos. É como se fosse uma ‘caça ao tesouro’ combinado com um show. Tem alguns garotos que eu já vi nas últimas três apresnetações e você se sente como se fosse amigo dessas pessoas… É uma sensação ótima!

Virgula Música – Como vocês foram convidados para fazer isso? Vocês tiveram que seguir um roteiro estabelecido ou puderam opinar nas ações?

Damian – O pessoal da Jose Cuervo entrou em contato e disse basicamente ‘nós queremos fazer este tipo de campanha e de uma forma que fique divertida e diferente’. A partir daí, nós trocamos umas ideias e chegamos a este formato experimental. Para nós é melhor manter um bom relacionamento com essas companhias que trabalham de um modo mais transparente do que entrar para uma grande gravadora, na qual teríamos compromissos que não pudéssemos controlar. Se estivéssemos em uma grande gravadora, não acho que faríamos algo assim. Acho legal que possamos fazer parcerias desta forma e ainda assim fazer um show de rock com experiências culturais e artísticas, não apenas reles propaganda. E a Cuervo foi bem legal a respeito disso tudo, eles querem que as pessoas apareçam e se divirtam, assim como nós. Me parece que esse tipo de ação entende melhor isso tudo do que a indústria da música. Não regramos nosso trabalho ou nossa vida pelas paradas do rádio: nós queremos tocar nossos projetos de acordo com nossas ideias.

Virgula Música – Você quase ‘matou’ minha próxima pergunta: vocês alcançaram sucesso com seus vídeos divulgados pelo YouTube, sem grandes produções e com ideias simples. Como a banda enxerga estes padrões de gravadoras e da indústria da música?

Damian – Eu me sinto péssimo pelas gravadoras, porque não é como se nelas só trabalhassem pessoas más – a maioria delas não é assim – mas vamos colocar da seguinte forma: nós temos que achar soluções para apenas uma banda, e eles têm que pensar em soluções para vários grupos. Então, eles precisam de sistemas que funcionem, não importa para quais bandas, mas que funcione e vire sucesso. Nosso sistema não funcionaria com outra banda qualquer, mas dá certo por causa das coisas específicas que fazemos: vídeos, discos e coisas diferentes para nos desafiarmos. Acho que, em uma gravadora normal, não dá para você contratar bandas que agem dessa forma. E este tipo de sistema que elas usam está morrendo, tudo está ficando cada vez mais experimental novamente. Por vários anos, era como um produto. Se eu disser ‘Thriller, do Michael Jackson’, você se lembrará do álbum, do encarte do disco, coisas assim. Agora, se eu falar de ‘Fuck You do Cee-Lo Green‘, do que você vai lembrar? Eu lembro do vídeo e da música. Acho que hoje em dia certas coisas estão mais ligadas à experiência das pessoas com aquilo do que por uma imagem já pré-concebida pelo artista, um pedaço de plástico. E as coisas não devem mais voltar àquele modelo. É como se as gravadoras estivessem vendendo aparelhos de fax na década errada.

Tim – Como fazem com o Bieber (risos)

Damian – Sim! Nós temos nosso próprio selo e também tentaremos lançar nossas próprias bandas, nossos amigos, e talvez tenhamos exatamente o mesmo problema que as gravadoras normais enfrentam. Mas duvido que vamos fazer sistemas iguais, visto que vamos trabalhar apenas com amigos e projetos que sejam apaixonantes para nós, coisas que nos interessem de verdade.

Virgula Música – Falando em música que lhe interessa, quais popstars que vocês acham que valem a pena hoje em dia?

Tim – Sempre terá boa música pop por aí…

Damian – Eu não ouço de verdade muitas rádios pop por aí. Mas é interessante saber que o indie rock fez sucesso, com bandas pequenas crescendo em popularidade. Como o Foster the People, que virou uma banda maior para o público grande. É bom ver que coisas assim viraram o pop por causa da internet. Eu não acho que o Arcade Fire poderia ser um grande sucesso antes da internet.

Tim – Existem alguns artistas pop que trabalham com pessoas interessantes. Eu gosto do Justin Timberlake, por exemplo. Ele é demais.

Damian – Eu adoro o Justin Timberlake.

Tim – Ele já fez discos bons, a produção dele é ótima. Tem pessoas como Pharrel, e outros artistas do hip hop, como o Jay-Z e coisas assim. A produção deles é interessante e excelente.

Damian – Os discos do Jay-Z soam muito bem.

Virgula Música – Andy Ross está na banda desde 2005. O que mudou desde a saída de Andy Duncan, o guitarrista anterior?

Tim – Bom, tudo. A indústria musical mudou! (risos)

Damian – Sim, a indústria musical desmoronou. Todos os vídeos que fizemos aconteceram depois que ele saiu, e isso obviamente deu uma grande diferença. Nós somos pessoas criativas que gostam de fazer várias coisas, por isso achamos legal continuar em uma gravadora independente. E quando os vídeos começaram a chamar atenção e nos abrir a realidade de que seria possível fazer realmente o que gostássemos… isso mudou bastante. Mas não estou dizendo que isso aconteceu porque Andy Duncan saiu, isso pode ter sido uma coincidência. Não conseguimos isso somente por conta de Andy Ross.  Mas existem algumas diferenças: nosso som mudou bastante e se Andy Duncan ainda estivesse conosco, provavelmente nossa sonoridade teria seguido por uma outra direção. O jeito de Andy Ross tocar é realmente único, e se ele não estivesse na banda, não teríamos feito este último disco desta forma.

Tim – Ele tem alguns solos bem especiais, ele gosta desse tipo de coisa.

Virgula Música – E depois que essa loucura de shows relâmpago terminar, quais os planos? Vocês já tem músicas novas na manga para um próximo disco?

Damian – Estamos no meio da produção de um novo vídeo nos Estados Unidos. Começamos na semana passada, mas pausamos tudo e vamos terminar assim que retornarmos. Esperamos voltar a gravar novas canções no próximo semestre, mas não temos muita coisa escrita ainda. O jeito que compomos funciona como se tocássemos uma progressão de acordes junto com uma batida. Em seguida, improvisamos em cima e escolhemos o que dá para aproveitar. Então já temos alguns elementos, mas sem músicas completas ainda.


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