F1 Rocks com Marcelo D2, N.E.R.D e Eminem
Créditos: gabriel quintão
Ver um artista no auge de sua carreira é sempre um privilégio, um momento único que fica na memória de qualquer apaixonado por música. Mas ainda mais incrível é ser capaz de testemunhar um outro fenômeno – o retorno triunfal de um artista que já passou pelo inferno e precisou ir até o fundo do poço para se reerguer.
E foi esta a imagem que o público de São Paulo viu nesta sexta-feira (5) no festival F-1 Rocks, no Hipódromo do Jockey Club. Depois de inúmeros problemas com drogas, brigas com sua ex-mulher e o ostracismo da mídia especializada e do próprio público, Eminem retornou de seu inferno pessoal com força total, e parece ter transformado todas essas desventuras em letras raivosas e performances cada vez mais explosivas.
Após o lançamento de Encore, de 2004, o rapper ficou cinco anos longe dos estúdios – e seu retorno não foi lá muito celebrado, já que Relapse, de 2009, foi um considerado um fracasso de público e crítica e ameaçou a continuidade da já duvidosa carreira do astro. Em entrevistas recentes, Eminem confessou que Relapse de fato é um álbum fraco, muito prejudicado pelo vício em cocaína enfrentado por ele na época da composição de grande parte das letras.
Mas o lançamento de Recovery (não por acaso, “recuperação”) mudou tudo. O álbum entrou sem demora nas paradas dos EUA e do Reino Unido, e o single Love The Way Yoy Lie, parceria com a cantora Rihanna, é uma das faixas que mais venderam na web em 2010. Com coerência de repertório e um bom equilíbrio entre beats mais orgânicos e letras raivosas, o novo trabalho do rapper o colocou novamente nos holofotes e arrancou elogios até dos mais céticos.
Pela primeira vez no Brasil, o músico comprovou que esse retorno ao topo do mainstream não veio por acaso – mesmo tendo que enfrentar um público incomodado com a chuva forte que caia desde o início do show, o rapper mostrou que energia e vivacidade são elementos essenciais de seu set, e que tudo ali é calculado e treinado exaustivamente para criar um efeito forte, um setlist sincronizado e uma impressão de naturalidade. As rimas eram tão certeiras, os beats tão pesados e os demais músicos tão treinados que o rapper não enfrentou nenhuma dificuldade em acabar com as reclamações do público e tê-lo em suas mãos.
No repertório, estavam hits como Airplanes, Lose Yourself, Cinderela Man, Won’t Back Down, Stan, The Way I Am, The Real Slim Shady, Kill You, Cleaning Out My Closet e Not Afraid. Foi emocionante ver como o rapper estava em sintonia com o público, que cantou sem hesitar as letras velozes e repletas de gírias do repertório e interagiu com o músico durante toda a apresentação.
Para quem temeu ficar para sempre sem voltar a fazer música boa, Eminem tem uma segurança assustadora no palco, como se ainda fosse o mesmo moleque despeitado e inconsequente que xingava tudo e todos e adorava arranjar encrenca sem motivo. É interessante ver que o músico conseguiu recuperar sua antiga segurança mas teve a inteligência de deixar de lado o despeito e algumas posturas mais anárquicas em prol de longevidade no mainstream – como um bom homem de negócios, hoje Eminem sabe que sua carreira é um império que precisa ser controlado com mão de ferro, sem as criancices e a despreocupação de antigamente.
Mas embora tenha sido interessante observar esse controle exemplar que o rapper tem em relação à sua personalidade no palco, não se permitindo sair do repertório ensaiado e controlando os xingamentos e palavrões, alguns momentos acabaram sendo emblemáticos exatamente por serem inesperados.
O maior deles aconteceu durante um dos intervalos entre as canções, quando Eminem aproveitava para conversar rapidamente com o público. Após hesitar durante alguns segundos, o musico olhou de frente para o enorme público que se aglomerava no Hipódromo e fez um agradecimento simples, mas profundamente significativo para quem quase jogou a própria carreira no lixo. “Muito obrigado por não desistirem de mim. Muito obrigado”.
Com essas palavras, era fácil perceber que, por mais que seja um eterno clichê as exclamações burocráticas de artistas afirmando que “o Brasil é lindo” e “foi muito bom estar aqui”, Eminem estava de fato emocionado com os gritos e a aceitação incondicional com que foi recebido em sua primeira visita ao país. A interação entre o músico e o público neste momento foi bonita exatamente por ser tão rara – Eminem não é de muitas palavras na hora de conversar com seus fãs, mas a conexão acabou acontecendo de uma maneira mais simples e que deu um brilho a mais ao show.
O rapper mais mainstream da história dos EUA está de volta – agora é aguardar para saber se o sucesso de Eminem será duradouro ou se a apresentação em SP foi apenas um lapso no tempo que não vai se repetir.
N.E.R.D E MARCELO D2
Embora o F-1 Rocks tenha sido anunciado como um festival, o que aconteceu na realidade foi que as apresentações de Marcelo D2 e da banda N.E.R.D foram encurtadas a ponto de serem apenas aparições especiais, e não shows propriamente ditos. O N.E.R.D tocou por no máximo 40 minutos, Marcelo D2 precisou correr ainda mais e não ultrapassou 30 minutos de show.
O N.E.R.D, formado por Pharrell Williams, Chad Hugo e Shay Haley, precisou enfrentar uma plateia visivelmente apática e um show de tempo reduzido por causa da chuva. Em seu repertório, estavam músicas como God Bless Us All, Hot n Fun, Beautiful e Everybody Nose. Quem esperava por um gostinho do novo álbum da banda, Nothing, pôde ouvir ao vivo o primeiro single do trabalho, Hipnotize U, que conta com a produção do Daft Punk.
Embora o show do N.E.R.D tenha sido bom e a performance dos músicos competente, é preciso ver o grupo em um outro local e com um repertório sem cortes para que seja possível julgar esta nova turnê e as mudanças na sonoridade anunciadas anteriormente pelo grupo. Agora é torcer para que alguém se interesse em trazer o grupo para se apresentar sozinho por aqui.