Curumin e vinil da Beatwise Recordings

Montagem/Divulgação Curumin e vinil da Beatwise Recordings

Enquanto o CD praticamente desaparece das lojas de discos de Londres, Paris e Nova York, o vinil não para de crescer. Relatório da Nielsen Music divulgado em julho mostrou que 2015 já registra um aumento de 38,4% em comparação com o mesmo período do ano passado, chegando a 5,6 milhões de unidade.

O Brasil acompanha o movimento e uma passada rápida por uma prateleira sintonizada com os lançamentos de artistas nacionais no formato terá discos de nomes como Arthur Verocai, Azymuth, Bixiga 70, Criolo, Cícero, Chico Science, Dom Um Romão, Milton Nascimento, Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano, Jards Macalé, João Donato, Jorge Benjor, Los Hermanos, Marcos Valle, Mutantes, mundo livre s/a, Moacir Santos, Metá Metá, Tom Zé.

No próximo dia 18, Curumin lança o vinil de Japanpopshow no Projeto Plataforma do Sesc Pompeia. Já o coletivo de produtores e selo Beatwise Recordings, com apoio da marca californiana com foco no streetwear LRG (Lifted Research Group) se juntou recentemente ao time de artistas que têm discos lançados no formato com uma compilação em vinil com as principais produções que marcaram os dois anos de grooves e música de vanguarda da turma que trouxe uma nova cara pra música produzida no país trafegando livremente por gêneros como drum’n’bass, trip hop, rap, techno e house/garage. Abud, Bento, Cesrv, Cybass, MJP, Sants, Sono TWS e Soul One são os produtores que marcam presença na compilação.

Ícone da nova música brasileira, Curumin teve lançado no formato os discos Arrocha e Japanpopshow, além de um 7″ contendo as músicas Compacto e Caixa Preta e um lo-fi com parcerias com Marietta e o Elo da Corrente. “O vinil, além de ser uma mídia que tem um significado especial pras pessoas da minha geração, que cresceram ouvindo música desse jeito, é também o formato que hoje viabiliza muito projeto independente porque as pessoas estão comprando”, afirma o multi-instrumentista paulistano de 39 anos.

Sobre o lançamento e a importância do play lançado originalmente em 2008, Curumin faz sua avaliação. “O disco Japanpopshow abriu portas importantes. Toquei muito esse disco pelo Brasil, Europa e Estados Unidos. Deu unidade e uma cara pra banda.Nesse show vamos chamar dois músicos convidados: o guitarrista e compositor Saulo Duarte e o percussionista Ari Colares. Vamos fazer o disco na íntegra mas com uma leitura mais orgânica. Vai ser divertido”, promete.

Cesar Pierri, o Cesrv, da Beatwise, sustenta que o objetivo principal em lançar o primeiro vinil do selo é tirar as músicas do selo apenas do “circuito” de streaming e levar a música deles para outras mídias de consumo. “Os serviços de streaming são extremamente frios e impessoais, dificultando uma relação do artista com o consumidor final. Relação que nos dias do vinil era muito mais estreita e tinha raízes muito mais fundas para ambos os lados em questões de arte, ficha técnica e etc.  Dependemos bastante dessa troca entre artista e consumidor fazendo música alternativa no Brasil. Nossa relação com nosso público é extremamente direta. Creio que o vinil também serve como um símbolo para nós de que nossa música é relevante e não apenas um hype de qualquer cloud da vida”, argumenta.

Tanto ele quanto Curumin concordam que o CD está mesmo com os dias contados. “A morte do CD acho q vem com as descobertas do MP3 e formatos digitais mais práticos. Tenho uma teoria sobre o retorno do vinil nos dias de hoje: música tem um ligação forte com a memória afetiva, como aquelas musicas que te fazem lembrar pessoas ou situações. Acho que pras gerações que agora tem entre 25/50 anos, o som do vinil remete à infância. Junto com a música o vinil traz um sentimento afetivo”, opina.

Com a palavra, Cesrv: “Em conversas que tive com outros produtores do mundo acabei dando conta de que em alguns lugares do o vinil nunca morreu, apenas sofreu uma leve queda em suas vendas. Descobri também que na Europa por exemplo o CD nunca foi algo que virou de verdade. Creio que hoje em dia passamos por todas as mídias possíveis com nossas tecnologias, tanto digitais quanto analógicas, e na minha experiência dentro de um estúdio de gravação posso dizer que o foco é unir o melhor de cada uma dessas tecnologias. Acredito que isso esteja acontecendo também na indústria musical”.

O capo e fundador da Beatwise, ao lado de Diego Santos, o Sants, também exemplifica com sua experiência pessoal de aficionado por música sobre a diferença entre as mídias. “Muita gente já descobriu que o CD é funcional mas tem relações muito mais restritas do que um vinil. Mp3s então sequer suprem a necessidade do público de ‘fazer parte’ daquilo que está ouvindo. Eu perdi dois iPods em 2013, perdi com ele um milhão de músicas que eu nem sequer lembro que existem mais, ao invés de comprar um novo ipod peguei esse dinheiro e reativei o cassette player do meu carro. Com o dinheiro de um ipod ou algo parecido eu comprei 30 fitas de lançamentos entre 2014 e 2015 que ficarão comigo pro resto da minha vida. Agora, os iPods? Completamente descartáveis. Porém pode ainda funcionar bem em mãos de pessoas descartáveis né?”, provoca.

Por fim, nós aproveitamos e perguntamos para eles que disco eles levariam para uma ilha deserta. Com toda sua finesse Curumin elegeu as seguintes pedradas:  Curtis – Curtis Mayfield; Inspiration, Information – Shuggie Otis; Imagem e Som – Cassiano; Sonhos e Memórias – Erasmo Carlos; Matita Pere – Tom Jobim.

Cesrv, na sua linha mais ligada aos future beats, também mostrou categoria: ” Dj Vadim – Life From the Other Side (Ninja Tune); DJ Rashad – 6613 EP (Hyperdub); OL – Body Varial (Error Broadcast); Hudson Mohawke – Satin Panthers (Warp); Dj Makô – 7″ (Independente – BRA).

Como já dizia o velho slogan: disco é cultura.


int(1)

O vinil nunca esteve tão em alta. Trocamos uma ideia com Curumin e Cesrv sobre esse fetiche