Era manhã de algum dia próximo de 17 de outubro de 2014 quando meu então editor no portal Terra me passava a missão de entrevistar Chester Bennington, vocalista do Linkin Park, banda que, na mesma semana, viria ao Brasil para shows em Belo Horizonte e Brasília.
Eu, inexperiente, senti o peso da responsabilidade do pedido por duas razões muito comuns para jovens jornalistas: ter de falar ao telefone no meio de outros colegas e ainda por cima em inglês.
Acontece que o profissionalismo nos obriga a desenvolver uma frieza impressionante, pelo menos no instante da função. Recebi a ligação da assessora, que prontamente me conectou com Chester, que falava dos Estados Unidos, instantes antes de embarcar para o Brasil.
Durante todo o papo, em momento algum me ocorrera com quem de fato estava falando, nem quando ouvi o primeiro “Hi, João (com um péssimo sotaque), how you doing?”, o jeito gringo de falar “e aí, qual é a boa?.”
O papo durou uns 10 minutos e falamos sobre a vinda ao Brasil e as mudanças sonoras do Linkin Park. “Então acho que é muito bom estar na melhor forma da minha vida e na melhor idade da minha vida… Você sabe, 38”, ele me disse na ocasião.
Quando bati o fone na base, um caminhão de emoções se construiu dentro de mim.
Não pelo eu que sou hoje ou que era naquela época, até mesmo porque já havia deixado de ouvir Linkin Park há sete anos, hoje 10.
Mas sim pela generosa porção de lembranças que aquilo me trazia, principalmente do quanto eu, com 12, 13, 14 anos, daria pra poder viver o momento que o eu de então 23 viveu naquele dia.
A música tem o poder de nos transportar para qualquer época que pareça morta na nossa memória. Todos os nossos dias possuem um som, uma trilha e, ao ouvi-la de novo, somos capazes de nos encontrarmos de corpo presente em cenas nostálgicas de épocas que não voltam mais.
Sentir cair a ficha de que havia batido um papo com Chester Bennington naquele 17 de outubro me fez lembrar da forma como eu me senti desolado por não conseguir ingressos para ir ao show da banda em 2004, no Morumbi.
Ou de como me senti poderoso ao comprar uma munhequeira com o símbolo do grupo americano pouco antes, em 2003.
Vejam vocês, uma munhequeira.
De 2000 até a noite daquele setembro de 2004, o Linkin Park polarizou os meus ouvidos, assim como o rádio do meu pai, o CD player do computador e o discman que pesava uma tonelada no bolso esquerdo da minha calça de tactel.
Me fez cometer a heresia de afirmar que o Live in Texas era o melhor disco ao vivo já gravado na história do rock americano.
O amor pelo Linkin Park ficou lá em 2007. Não sobreviveu ao recomeço com o Minutes to Midnight, apesar de eu hoje conseguir apreciar e respeitar o controverso álbum.
Rumei para outros caminhos na música que hoje chegam no distante Zeca Pagodinho.
Mas o caminhão de emoções estava escondido em algum lugar aqui dentro. Ele reapareceu naquele 17 de outubro.
Hoje, despejou tudo na minha cabeça, assim como na de milhões de fãs e ex-fãs do Linkin Park.
E olha, dói de um jeito até meio inesperado.
Espero que, em outros planos, Chester consiga encontrar a justa e brilhante recompensa por ter feito meu eu adolescente, assim como tantos outros daquela época, mais felizes. Parece ter custado caro, com danos psicológicos característicos de um mundo que te suga tudo o que você pode e não pode dar e cospe o bagaço, te deixando absolutamente propenso ao caminho da depressão.
Se hoje somos capazes de negar esse caminho, ter emprestado os ouvidos a ídolos da música, em qualquer estilo que se desejasse, foi fundamental para conquistar essa vitória.
Por isso, a você Chester, meu muito obrigado.
Fotos raras do Linkin Park
Créditos: Divulgação