Rafael Massoto nasceu em São Gonçalo, município da Baixada Fluminense, região conhecida pela efervescência cultural. Compositor desde a juventude, Massoto já colaborou com diversos ícones da MPB, rock, samba e rap nacionais. Aliando a trajetória com papel e caneta à de agitador cultural, Rafael Massoto é conhecido no cenário local pela seriedade e dedicação com que conduz seu trabalho. Foram essas características que fizeram com que ele fosse escolhido para ocupar o cargo de Superintendente de Música de São Gonçalo, por iniciativa de Michel Portugal, secretário municipal de Cultura. Entre outras atividades, Rafael Massoto já levou à Baixada o músico Marcelo Yuka, que ministrou palestra e aproveitou para lançar seu livro. Em entrevista a seguir, Massoto relembra sua trajetória e sentencia: “São Gonçalo é foda na música”.

Fale um pouco sobre sua trajetória como compositor.
Lembro muito da vontade que nasceu ao ouvir Claudinho e Buchecha, que são meus conterrâneos. Quando eu ouvia nos bailes as músicas cantadas por eles eu achava possível fazer algo próximo, e comecei a nutrir esse sonho. Em 1999 fiz a primeira letra, “Salve meu Coroado”, que é o bairro que me formou enquanto homem e cidadão. A letra falava de figuras daquele momentona história do bairro e de um grupo de pagode bem próximo a mim chamado “Sinceridade Pura”. Essa canção foi em parceria com os músicos Ramon Torres e Robson Papel. O Ramon vem a ser o meu parceiro mais frequente, temos juntos cem músicas compostas, algumas gravadas por outros cantores, além de um disco informal gravado com 11 parcerias nossas na voz do próprio Ramon, intitulado “Natural”. Eu sonhava em escrever na linha do Edi Rock e do Mano Brown, porém achava que iria parecer fake demais porque eu não vivia a realidade relatada por eles. Nesse período sofri um trauma sentimental, sempre fracassei com as mulheres. Então passei a escrever meus desejos muito mais do que a minha realidade. Levo em conta que meus desejos são as minhas vivências mais íntimas.

De onde tira inspiração para suas composições?
A inspiração vem de tudo que vivo, dos meus anseios, da minha vontade de responder coisas que não respondi vem das mais diversas experiências a inspiração vem da vida e da vontade de continuar nela mesmo depois da partida.

Ter nascido em São Gonçalo influencia de alguma forma o seu trabalho?
Nunca acreditei que a arte tem a ver com região. A minha alma seria a mesma aqui ou em Paris. Falo de essência humana. Nunca tive complexo de inferioridade por ser suburbano, na real sempre tive orgulho. Mas morar aqui influenciou em minha admiração pelo Altay Veloso, compositor brasileiro, e logicamente pelo universo do funk, que me despertou. Sou o que sou aqui ou em Milão, acho que a minha força vem daqui mas não existe características de um compositor gonçalense. Me defino um cidadão gonçalense, mas não um artista gonçalense. A arte não tem cerca.

Quais são os maiores desafios para quem deseja viver de arte atualmente?
Eu sobrevivo há quinze anos da arte, mas meus pais pagam bem caro por isso. Eles me permitiram ter um sonho que sei que eles não tiveram porque a vida não permitiu. Muito cedo meu pai já trabalhava, e a minha mãe, por ter perdido a mãe aos nove anos, também já trabalhava e sofreu a vida toda por ter um pai carrasco. O desafio de viver de arte é o mesmo desafio de ser qualquer coisa na vida, porque a vida é desafio. Quem não tiver coragem na vida nem vai viver, vai apenas passar pela vida. Quando você é a pessoa responsável pelo seu sonho e esse entendimento tá vivo dentro de você, tudo é capaz de acontecer. O verdadeiro amor torna-se motivo de uma existência com significado a minha vida. Não sei viver a vida de outra pessoa e esse é o desafio: viver a própria vida sem querer ser um herói. Para isso tem que encarar a realidade, e não ficar mirando a vida das celebridades. Todo ser humano pode fazer brilhar um herói, mas que esse herói seja apenas pra si mesmo.

Como surgiu o convite para assumir a Superintendência de Música do município?
Tenho quinze anos de ativismo cultural e por isso sou respeitado e considerado por ser verdadeiro e honesto. Nisso eu me garanto. Tenho causa e compromiss, o que chamou a atenção do secretário da minha cidade, que me conhece bastante por ter inclusive estudado comigo. Tenho muito orgulho de ser um cargo técnico e por ter consciência de que estou somando com a minha cidade. Não é egocentrismo, é a verdade, e verdade também precisa ser dita, até mesmo quando ela parece soberba. O cargo é vinculado à Fundação de Artes da cidade e possui muito respaldo do secretário e do subsecretário, que buscam ir além do que planejam, pois estão colocando sonhos no trabalho. Sonhar é fundamental, e nosso projeto é fazer o melhor a cada dia.

Em sua opinião, quais as principais características da música criada em São Gonçalo e região?
São Gonçalo me lembra a Baixada, me lembra a capital. Quando ouço um Rap do Dom Negrone ou do Funkero, não percebo diferença do que é feito no resto do mundo. Mas quando se fala de São Gonçalo, se existe uma coisa respeitada nessa cidade são os músicos daqui. Não vou nem citar pra não fazer dessa entrevista uma Bíblia ou um dicionário musical. Não é megalomania, mas São Gonçalo é foda na música.


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Novo superintendente de Música de São Gonçalo exalta cultura da Baixada Fluminense