Henrique Grandi Rico Dalasam

Primeiro MC gay, negro e periférico, graças a seu D.O.C. made in Taboão da Serra, a surgir na mídia, em 2014 Rico Dalasam está de volta com artilharia pesada. Ele apresenta seu álbum de estreia Orgunga, neste domingo (29), no Auditório Ibirapuera. “A celebração ganha BPMs mais acelerados e timbres indianos que se misturam aos nossos nortistas e nordestinos, sem os medos que eu tinha durante a produção de Modo Diverso”, adianta o rapper, que estourou com Aceite-C, faixa que contém sample de O Mais Belo dos Belos, da Daniela Mercury.

Elogiado por Gilberto Gil, por quebrar tabus no rap, participou do álbum mais recente de Emicida e foi convidado por ele a se apresentar na edição deste ano do Lollapalooza. Personalidade fashion, foi citado pela Vogue America como referência fashion brasileira. “Em Orgunga, estive e estou muito certo de que consegui contar a história como sonhei. Orgunga fala de um orgulho que nasce depois da vergonha”, resume.

Filho de mãe baiana, ele foi buscar no coletivo de Salvador BaianaSystem a saída para a construção de um hip hop com características brasileiras que fugisse da referência óbvia do samba. Além de ter feito shows com o grupo e com Russo Passapusso, Mahal Pita assina a produção de duas do disco, Mili Mili e o remix de Riquíssima. “Sou fã do BaianaSystem desde a primeira vez que a Flora Matos me mostrou, virei amigo do Mahal no Face e depois do Russo no lançamento do disco dele aqui em SP. Daí quando fui à Bahia os encontrei e vimos muita ideia em comum. Enquanto ensaiávamos para o show que fiz com eles o Mahal fez uma versão nova de Riquíssima, fiquei muito feliz com o resultado. Minha mãe não vai à Bahia desde os 13 anos quando foi trazida pra trabalhar aqui”, afirma. Nas nove faixas de Orgunga, além de Mahal, aparecem produções de Duani, Xuxa Levy, Pifo e Phillip Neo.

Diante do fato de ser pioneiro entre os MCs gays no Brasil e com a chegada de novos nomes que tentam surfar na onda a cada semana, perguntamos para Rico se ele teme que a questão “queer” se torne banalizada? “Vi um clipe ontem (segunda) e fiquei um pouco desgostoso, não me vi lá , apesar de ter uma cota de personagens que admiro. Nossa cultura tem um certo talento em banalizar ideias importantes antes mesmo dessa ideia se tornar conhecida por toda sociedade. Nada que eu já não tivesse previsto, mas se no meu discurso eu digo que não ‘deito’ nas minhas atitudes, as coisas precisam estar alinhadas a essa fala. Todo artista legal merece espaço e tudo o mais que o bom trabalho traz, mas eu deixaria uma dica: venda a problemática não a ideologia”, dá a letra.

Rico, assim como Liniker, As Bahias e A Cozinha Mineira, Daniel Peixoto, Luana Hansen, Jonnny Hooker, Thiago Pethit e outros nomes da nova geraçã0, são prova de que a questão gay na música vai muito além do “lacrou”, “tombou” e “ferveu”. Arthur Rimbaud, Oscar Wilde, Simone de Beauvoir, Roberto Piva e companhia agradecem.

SERVIÇO

RICO DALASAM – ORGUNGA (independente)
Preço sugerido: R$ 10

SHOW DE LANÇAMENTO
Dia 29 de maio, domingo, às 19h
Auditório Ibirapuera – Oscar Niemeyer. Capacidade: 806 lugares. Av. Pedro Alvares Cabral, s/n – Portão 2 do Parque do Ibirapuera. (Entrada para carros pelo Portão 3). Fone: 11.3629-1075. Duração: 80 minutos (aproximadamente). Ingressos: R$20 e R$10 (meia entrada). Classificação indicativa: Livre.


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'Nossa cultura tem talento de banalizar ideias importantes', diz Dalasam, MC gay pioneiro

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