Deu no New York Times que ele é o cara e Iggy Pop o selecionou para o programa de rádio que mantém na BBC 6. Marido e parceiro de Ava Rocha – Negro Léo é autor do hit Você Não Vai Passar – o maranhense radicado no Rio de Janeiro chega ao sexto álbum, Água Batizada, que ganha lançamento nesta sexta (18), em São Paulo, no Sesc Pompeia.
Aos 33 anos, Léo formula um discurso raro na nova música brasileira, situando-se mais próximo dos Racionais MC’s, frequentemente apresentados como “os quatro pretos mais perigosos do Brasil”. “A minha é mais black is harmful do que black is beautiful, muito embora eu mesmo possa ser aprisionado nessa sanha do colunismo social de domesticar tudo que pode agredir”, afirma em entrevista exclusiva ao Virgula.
“Quando tem festa em casa com meus tios, todos retirantes, eu posso medir com mais justiça o esforço que eles fizeram pra que eu saiba hoje o que é wasabi, por exemplo”, aponta.
Em Água Batizada, considerado por Léo uma transição da fase experimental do artista à uma pop, as faixas Noite Invertida, Esferas e Borboletinhas Multicoloridas foram escritas por Ava Rocha. O álbum está sendo lançado pelo selo RockIt!, comandado por Dado Villa-Lobos, ex-integrante da Legião Urbana. Leia a conversa na íntegra:
Você ouve música pop? como é sua relação pessoal com a música no dia a dia?
Negro Léo – A fase de formação passou, hoje eu ouço tudo que meus contemporâneos produzem, diariamente, com foco na minha área de interesse, que varia de disco a disco.
Você geralmente faz as bases ou as letras primeiro. Fale um pouco do processo do disco?
Léo – Depende. No Agua Batizada eu compus de maneira tradicional, voz e violão a um só tempo, outras fiz a melodia primeiro depois harmonizei. Mas o grande barato desse disco é a pós-produção.
Que outros artistas da nova geração mais gosta e indica?
Léo – Gosto de todos, não queria citar nominalmente porque acabaria esquecendo alguém, mas quem eu não poderia deixar de citar é Ava.
De que maneira sua origem no Maranhão influencia sua música?
Léo – O Maranhão é parte da mitologia que construí em torno da minha origem, quando tem festa em casa com meus tios, todos retirantes, eu posso medir com mais justiça o esforço que eles fizeram pra que eu saiba hoje o que é wasabi, por exemplo.
Como vê a negritude ser apontada como algo “cool” e fashion e ao mesmo tempo em que o jovem negro sofre uma realidade que nada se parece com isso?
Léo – Olha, você já ouviu falar em conk? (nota do repórter: processo doloroso de alisamento do cabelo). Aqui no Brasil, a realidade das propagandas de cosmético não é diferente. A minha é mais black is harmful do que black is beautiful, muito embora eu mesmo possa ser aprisionado nessa sanha do colunismo social de domesticar tudo que pode agredir. Ainda que um possa dizer que eu mesmo já lhe tenha feito esse favor. (nota do repórter: harmful pode ser traduzido como prejudicial, nocivo, perigoso, pernicioso)
Quais considera os pontos mais positivos do ativismo de artistas como Beyoncé e Rihanna, além de rappers como Jay-Z e Kanye West, diante da questão da representatividade?
Léo – Não muda nada, mas é importante num país onde há significativamente menos pretos que no Brasil, que por sua vez tem o que? Um Pelé.
De que maneira acha que artistas negros da nova geração como você, Juçara Marçal, Raquel Virgínia, Russo Passapusso, Carol Conká, Liniker, Tássia Reis, Iará Renó, Rico Dalasam, Xênia França, Eduardo Brechó podem servir como modelo para jovens e quebrar o preconceito?
Léo – Isso é um mistério. A minha agora é resgatar, voluntariamente, do meio dos bolsões de pobreza, a boa nova cristã, essa quimera, das brumas do “judaísmo” neopentecostal.
SERVIÇO
Negro Léo no Projeto Plataforma
Dia 18 de novembro, sexta-feira – 21h30
Comedoria do Sesc Pompeia; rua Clélia, 93.
Abertura da casa às 20h30.
Ingressos: R$6 (credencial plena/trabalhador no comércio e serviços matriculado no Sesc e dependentes), R$10 (credenciado/usuário inscrito no Sesc e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino) e R$20 (inteira). Venda presencial nas unidades do Sesc SP. Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 18 anos. Não tem estacionamento. Para informações: sescsp.org.br/pompeia