Versátil, Roy Hargrove vê o hip hop como herdeiro do jazz. “Se você pegar um compasso de Art Blakey ou Roy Haynes, um desses “gatos”, você basicamente tem tudo ali. Jazz é o avô do hip hop ou bisavô”, afirma ele em entrevista exclusiva ao Virgula Música.
Com dois prêmios Grammy na bagagem, o que faz dele um “jazz star”, o trompetista tem uma extensa discografia e serviços prestados à música. Além de seu projeto solo, o estadunidense lidera três grupos: RH Factor, Roy Hargrove Quintet e Roy Hargrove Big Band.
Ele passou pelo Jazz na Fábrica, do Sesc Pompeia, acompanhado pela cantora italiana barra pesadíssima Roberta Gambarini. Leia a entrevista concedida pelo texano:
O que acha que seja a coisa mais nova acontecendo hoje, em sua opinião e que artistas novos mais gosta?
Roy Hargrove – Eu gosto de alguns bons jovens trompetistas. Marquis Hill, Wallace Rooney é sempre vai ser um dos meus favoritos, assim como Terence Blanchard. Eu curto muito os “gatos” da Costa Oeste, Kamasi Washington. Ele é incrível.
Existe algo na música brasileira que tenha influenciado você?
Hargrove – Claro, eu sempre me influenciei bastante pelo estilo e pela música de Antonio Carlos Jobim. O ritmo da música brasileira. Sabe, eu escuto muito ao ritmo, eu presto atenção a isso. O contexto rítmico da música brasileira sempre foi uma grande parte da minha influência. Desde que eu vim a primeira vez ao Rio, mas mesmo antes, quando eu estava ouvindo pessoas como Joe Henderson, aquele álbum (Double Rainbow: The Music of Antonio Carlos Jobim, 95).. Gilberto Gil, João Giberto.
Uma vez eu vim e encontrei um pianista chamado Guilherme Vergueiro, que foi muito legal, ele me ensinou a importância de tocar no “dois” (referência ao tempo no compasso), ele me mostrou como é acentuação do “dois” e do “quatro”, como que isso acontece até que seja absorvido pelo cérebro.
O hip hop é o jazz do momento e o jazz foi o hip hop do passado?
Hargrove – Eu diria que os dois sempre tiveram a ver um com outro por causa do nível de expressão. Hip hop é uma forma mais crua de expressão porque usa a voz humana, a fala, mas também em uma forma muito melódica. E porque é ritmo. De novo, ritmo. E também a mensagem. No jazz, nós falamos com os instrumentos e, no hip hop, eles falam com suas vozes. Mas definitivamente existe uma relação direta.
Quem são seus heróis musicais?
Hargrove – Eu tenho muitos, Clifford Brown, Miles Davis, Dizzy Gillespie, Kenny Dorham, Blue Mitchell, Dizzy Reece, Dizzy Reece, Clifford Jordan, John Coltrane, Charlie Parker, Bud Powell, Thelonius Monk, são tantos… Louis Armstrong, Roy Eldridge. São muitos.
Eu aprendi muito também de gente como Jackie Mclean e Sonny Rollins. Quando eu cheguei pela primeira vez a Nova York, eu trabalhei bastante com John Hicks, Larry Willis, grandes pianistas.
Como você vê de um lado o orgulho negro ser apresentado como “cool” e “fashion” ao mesmo tempo que as pessoas pretas sofrem uma realidade que nada parece com isso. Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, o racismo mata. A música pode mudar isso?
Hargrove – Música e arte em geral é o que une as pessoas. Isso é tudo que eu posso dizer sobre isso. Uma coisa bonita sobre o jazz é que não importa onde você vá, as pessoas conseguem entender porque é uma expressão, crua, direta do criador para nós, para você.