Durante Tupelo, icônica canção de sua carreira na década de oitenta, Nick Cave puxa um adolescente da plateia para o palco. O rapaz de uns 18 anos, a mesma idade de seu filho Earl Cave, recebe abraços e elogios do cantor australiano após dividir o microfone com o mesmo. “Vocé é maravilhoso”, diz um carinhoso Cave, sorrindo de felicidade.
Já na música Stagger Lee, um homem, de aproximadamente uns 45 anos pra mais, tenta invadir o palco que se encontrava cheio de fãs da plateia. Nick procura impedi-lo ordenando: “Não suba!”. O fã empolgado não obedece e irrita o trovador. Sem ajuda dos seguranças e com a força das próprias mãos, o cantor o empurra de volta ao público e o faz cair ao chão diante de pessoas que não o seguram. Sem abrir a boca e com o olhar enfurecido, Nick apenas aponta o dedo indicador para o sujeito com quem quer dizer: “É melhor não me contrariar”. Momento tenso. E intenso.
Essas duas situações distintas e de sentimentos opostos, de médico e monstro, aconteceram em um show no Lucca Summer Festival, na cidade de Lucca, Itália, em que o Virgula esteve presente em julho. Daqui a menos de dois meses, em 14 de outubro, Cave virá ao Brasil após 30 anos de seu único show no país para apresentação no Espaço das Américas, em São Paulo, trazido pela Popload Gig.
É fato que Nick mudou. Ou melhor, foi mudado após a morte de seu outro filho, Arthur Cave, gêmeo de Earl, em 2015. O menino caiu de um penhasco em Birmingham, Inglaterra, após consumir LSD pela primeira vez. Tragédia que resultou no triste, doloroso e elogiado álbum Skeleton Tree, de 2016.
Seria um novo olhar sobre a vida por ter lidado com a morte em sua família? Gratidão de chegar aos 60 anos no auge de sua carreira lotando ginásios enormes ao redor do mundo? De qualquer forma, quem o assistiu ao vivo antes percebe que Nick se tornou ‘da massa’ mais do que nunca. Tem a necessidade de interação e contato físico direto com os fãs. O tempo todo. Como se quisesse envolvê-los em seus braços.
O cantor passa a maior parte da apresentação cantando no gargarejo para os sortudos e guerreiros que estão nas primeiras fileiras. Ele olha no olho de cada fã. Pega na mão de quem a estende e entre uma música e outra faz questão de conversar com quem está ao seu alcance. Suas falas não são programadas. São naturais de acordo com o que vê e sente da plateia.
Se estiver empolgado, como normalmente está, se joga nos braços dos fãs fazendo com que possam o acariciar como um santo adorado. Mas também demonstra o seu lado humilde: com uma das mãos, munido de uma caneta dada por um fã, assina papéis e discos enquanto canta com a outra mão ao microfone. Se for o caso.
Durante a apresentação em Lucca, uma fã pede para tocarem Dianna, que não está no repertório daquele dia. Nick a ouve e obedece imediatamente. Faz os músicos, os Bad Seeds, trocarem de instrumentos às pressas para executar o pedido da garota. Naquele instante, quem manda é o cliente, o fã.
É um show humanamente interativo, caloroso, emocionante e intenso. Vai do sensível ao visceral. Do silêncio ao barulho ensurdecedor. É lírico. É punk. Nick transmite a sua dor e sofrimento aos fãs que retribuem com afeto. Uma troca de energia sem igual. Ao fim, ambos lavam a alma.
O show de São Paulo ainda terá um gostinho especial, de saudade, já que Nick morou na cidade de 1990 a 1993, foi casado com a brasileira Viviane Carneiro e juntos tiveram um filho, Luke Cave. Mas essa é uma história a ser contada em outro momento.
SERVIÇO:
Popload Gig com NICK CAVE & THE BAD SEEDS
Data: 14 de outubro (domingo)
Local: Espaço das Américas – R. Tagipuru, 795 – Barra Funda, São Paulo
Horários: abertura da casa 18h | Início do show 20h
Classificação etária:18 anos
Ingressos online: www.ticketload.com
Ponto de venda: Cine Joia @ Praça Carlos Gomes, 82 (próximo ao Metrô Sé e Liberdade). Funcionamento de segunda-feira a sexta-feira, das 10h às 14h e das 15h às 18h.