1983. Parece que foi ontem que se ouvia pela primeira vez os versos de Pobre Paulista, no primeiro compacto da banda mais paulista do Brasil, o Ira!.
Passados 25 anos, a banda acaba de lançar seu 14º disco com a produção de Rick Bonadio, – hit maker de bandas que os adolescentes adoram – e Nasi, Edgard Scandurra, Ricardo Gaspa e André Jung parecem mais animados do que nunca.
São 12 faixas que mesclam rock e baladas – mais rock diz Nasi – com direito a clássico, como a regravação de Feito Gente, composta por Walter Franco na década de 70.
Em sete anos, este é o segundo disco de inéditas do Ira!, que particiou dos dois projetos da MTV (Ao Vivo e Acústico) e em ano de festa, decidiu voltar com novidades.
Abaixo, leia a entrevista de Nasi ao Virgula-Música sobre o novo disco, relação com os fãs e muito mais.
O fato de você e o Edgard terem se dedicado tanto tempo aos projetos solos fez alguma diferença na produção deste disco?
Nasi – Os projetos solo são importantes pra nossa relação no Ira! não ficar claustrofóbica. Às vezes eles retornam para a banda em forma de musicalidade, mas nesse caso foi justamento o contrário. O fato da gente lançar dois discos solo quase que ao mesmo tempo acabou atrasando o lançamento desse disco. Agora, é isso que mantém a nossa sanidade, bem estar, porque com uma carreira tão extensa a gente precisa fazer outras coisas pra voltar com muito tesão.
As bandas que gravam o Acústico MTV geralmente alcançam um público que vai além dos fãs. Vocês gravaram tanto o projeto acústico como o MTV Ao Vivo. Isso mexeu com a banda no sentido de fazer um próximo disco de inéditas que continuasse acolhendo esse novo público e não só os velhos fãs?
Nasi – Eu não uso internet e isso tem um lado ruim pra mim. Mas, às vezes um distanciamento desse tipo de opinião é importante. Primeiro, sem demagogia, eu faço música pra mim. Se eu não gostar do que eu tô fazendo, ninguém vai gostar. Quando o Ira! grava alguma coisa, já sabemos que uns vão gostar e outros odiar. Sinceramente, procuro não me contaminar com isso e nem fico grudado na internet pra saber o que os fãs estão achando. Nem gosto muito de fã-clube, só daqueles que ficam distantes. Tem fã clube que tenta até interferir no trabalho da banda e isso eu não deixo. Tenho que fazer um disco que me agrade.
O disco traz uma canção, Eu Vou Tentar, uma balada do Rodrigo Koala. Ele já é amigo de longa data de vocês?
Nasi – Pra você ter uma idéia, eu conheci o Hateen em 1995, quando eles estavam gravando o primeiro disco, e a gente estava no mesmo estúdio, na mesma hora e gravando com o mesmo produtor (na época do disco 7). Quando houve o processo de seleção de músicas, todo mundo do Ira! trouxe idéias. Eu ouvi aquela música e senti, como cantor, que ela falava de algo que eu estava vivendo, já vivi e todo mundo já viveu: aquele romance que acaba e quando você coloca o ponto final, ele volta, liberando aquela adrenalina que é uma das drogas mais poderosas. Então, sempre que a gente ouvir que aquela música tem a ver com a cara do Ira!, ela vai ser gravada.
Fazer 25 anos de banda influenciou o clima deste CD, ou não? A vida de músico continua divertida?
Nasi – Olha tem que ser. Como já disse Roberto Freire (o psicólogo), “sem tesão não há solução”.
Kid Vinil agradece a Deus por nós termos o nosso Jack White, nós temos o nosso Pete Townshend, nós temos nosso Paul Weller. Nesse disco o Edgard está melhor que nunca?
Nasi – É verdade. Acho bacana porque com o sucesso do Acústico MTV, muita gente, principalmente a garotada, não prestou atenção no grande guitarrista que o Edgard é. Invisível DJ é talvez o disco do Ira! com mais solos de guitarra. Mas todos nós fizemos um grande trabalho. Fiquei super satisfeito com baixo, bateria e meu vocal, tanto que saí de férias com a certeza de que não precisaria regravar nada. Pela insistência do Rick Bonadio, regravei e consegui cantar ainda melhor.
E o disco…?
Nasi – Está bom na medida que traz músicas bem pesadas, momentos mais românticos e outros super ‘cool’. É um disco rico e que não se repete em nenhuma faixa.
Como os pessoal do filme Não Por Acaso, do diretor Philippe Barcinski, chegou a você pra gravar um cover do Toranja?
Nasi – Foi muito prazeroso. O Philippe me convidou pra gravar as músicas temas dos dois presonagens principais, vividos pelo Rodrigo Santoro e pelo Leonardo Medeiros. A música do Toranja era tema do Leonardo e a do Rodrigo seria uma regravação do Hildon, mas a editora dele não liberou. Aí escolhemos outra. Eu gostei tanto dessa música (Laços, do grupo português Toranja) que tentei gravá-la com o Ira! mas o diretor pediu exclusividade para o filme.
Olhando pra trás, qual foi o melhor momento desta históra até agora e qual vocês apagariam da biografia do Ira!?
Nasi – O melhor momento é sempre o mais recente. O Acústico foi uma grande satisfação não só pelas boas execução e vendagem mas pelo sucesso da turnê, dos novos músicos que entraram para a trupe, o que deu uma renovada na gente. E eu apagaria o desentendimento que nós tivemos com o Liminha durante a produção Vivendo e Aprendendo, porque naquela época ele já era um dos melhores produtores do Brasil e nós poderíamos ter feito um disco ainda melhor, com os mesmos arranjos e músicas, se tivessemos continuado em sintonia com ele.
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