Da primeira DJ mulher brasileira, Sonia Abreu, até a DJ hero paulistana Cinara Martins muita coisa mudou. Vieram outros nomes como a da produtora de house Paula Chalup, a DJ de techno Ana, a produtora de rap e funk BadSista, sem esquecer da expoente da música eletroacústica Jocy de Oliveira, entre outras que ainda hoje, em pleno 2017, ainda desbravam caminho em um território de maioria masculina.
“Faço o meu trabalho sem olhar para os lados”, afirma Cinara. Bicampeã da etapa nacional do Red Bull 3Style em 2014 e 2015, quando representou o país no exterior por dois anos, ela volta à final nacional nesta sexta-feira, em Curitiba. Na competição, os DJs devem obrigatoriamente tocar três estilos musicais diferentes em seu set.
Durante a noite, que será realizada no tradicional clube Paradis, seis DJs finalistas vão mostrar o seu talento nas pick-ups em busca de uma vaga na final mundial, que ocorre no ano que vem, em Cracóvia, na Polônia.
O júri é composto por DJs lendários e veteranos campeões do Red Bull 3Style, como o japonês Shintaro (vencedor em 2013), o chileno Byte (coroado em 2015) e Nedu Lopes, que já foi tricampeão brasileiro.
Os três jurados também selecionaram os disc-jóqueis que disputam o título de melhor DJ do país na capital do Paraná. Na competição, ao lado do anfitrião curitibano DJ Morenno, estão Marquinhos Espinosa (de Campo Grande-MS), Guto Loreiro (de Corumbá-MT), os cariocas Tucho e Nino e Cinara.
Veja a ideia que nós trocamos com a Cinara, em que ela fala de tendências, como se preparou e que dicas daria para quem está chegando agora, entre outros assuntos:
O que está acontecendo de mais novo na cultura DJ hoje, na sua opinião?
Cinara – A tecnologia está evoluindo mais do que nunca e mudou, consideravelmente, a forma que o DJ se apresenta hoje em dia. Os equipamentos estão oferecendo cada vez mais recursos e sinto que isso tem feito crescer ainda mais a ligação entre ser DJ e produtor musical.
Com a facilidade de hoje, fácil acesso a equipamentos, internet, etc, um dos fatores importantes para um DJ se diferenciar do restante é produzindo suas próprias músicas ou versões (remixes e mash-ups) e muitos equipamentos atuais permitem realizar parte disso ao vivo. Tenho sentido que essa é a maior diferença da atualidade se comparada há 13 anos, quando comecei.
O meio DJ ainda é muito dominado pelos homens, como quebrar essa barreira?
Cinara – Simplesmente não ligando. Faço o meu trabalho sem olhar para os lados, mas, se for para pensar nisso, que seja de forma positiva, e que isso te motive a continuar e inspirar outras mulheres para mudarmos esse cenário.
Que características um bom DJ deve ter na sua opinião?
Cinara – Costumo pensar que para cada apresentação existe um tipo de “luta” para ver quem vai ceder primeiro, o público vai comandar o que o DJ deve tocar ou o DJ vai comandar o que o público vai dançar? Um bom DJ deve conquistar o público sem, necessariamente, tocar 100% de músicas conhecidas.
Não adianta tocar apenas as top 50 da rádio, pois isso qualquer um faz. Acredito que o ideal é surpreender o público, selecionar algo inusitado para aquele determinado momento. Tanto faz se for uma música mais antiga que as pessoas não tem mais o costume de ouvir e que continue despertando bons sentimentos ou algo mais novo que poucas pessoas ainda conheçam.
Saio satisfeita se sinto que a reação de alguns foi “Nossa, você viu a música que ela tocou?”, ou quando me perguntam o nome de determinada faixa que toquei. Essa troca é muito gratificante.
Como se preparou para esta etapa brasileira e que dica daria para quem pretende disputá-la um dia?
Cinara – O 3Style já faz parte da minha vida há quase 4 anos. Competi em 2014 e 2015 e adquiri um aprendizado mito grande. Como me dedico integralmente para o campeonato durante a época de preparação, por estratégia optei não participar no ano passado (2016), para ganhar tempo, respirar e absorver mais o que o campeonato exige.
Precisei fazer isso também para me inspirar sem a pressão do tempo, desde então, venho anotando diversas ideias e essa é uma das maiores dicas que posso dar, anote tudo. Por mais que seja algo simples, anote, porque uma ideia pequena pode virar algo mais elaborado ou então preencher um espaço entre duas grandes rotinas.
Outra dica essencial é pesquisar, acompanhar o campeonato para ver o que estão oferecendo e o que tem dado certo e observar os vencedores. Pesquise todos os tipos de música, afinal, o campeonato se chama 3Style e você pode misturar qualquer estilo, o mais importante é surpreender. Um dos critérios é a criatividade, então surpreenda com algo que ainda não foi feito, seja autêntico e o mais importante de tudo, divirta-se.
DJs brasileiros levam vantagem no 3Style na etapa mundial pelo fato de a música brasileira ser especialmente conhecida globalmente?
Cinara – Sim, acredito que o DJ brasileiro leva a vantagem de sua origem. Temos muitos estilos e tipos de instrumentos característicos do Brasil, e juntando isso com o “swing” brasileiro fica mais fácil ainda para criar uma identidade e ter um diferencial.
SERVIÇO
Data: 03 de Novembro, sexta-feira. Horário: Das 22h às 5h. Local: Paradis – R. Paula Gomes, 306, São Francisco, Curitiba – PR. Tel.: (41) 3156-3955 Ingressos: R$ 30 na porta (não haverá venda antecipada) Capacidade: 290 pessoas Classificação: Proibido para menores de 18 anos.
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