Enquanto os 25 servidores do site de comercialização de ingressos Tickets4Fun, da produtora Time 4 Fun, agonizavam com a overdose de visitas de fãs de Madonna, ávidos por ingressos para os shows que a musa realiza em São Paulo em dezembro (dias 18 e 20) deste ano, o Virgula foi à luta no Ginásio do Ibirapuera por um ingresso para a área VIP de um dos espetáculos da material girl no Estádio do Morumbi.
A experiência foi do martírio ao triunfo, alternando frio tipo Serra Gaúcha (trilha ideal: Frozen) durante a madrugada e calor escaldante (ambientando: La Isla Bonita), bichas finas e cambistas truculentos, terrível odor de xixi e lixo nas calçadas e a glória, enfim, no alívio da aquisição do ingresso. A seguir, momentos especiais vividos por nossa reportagem na maratona por Ciccone.
Pane na rede, caos na rua
Por volta de meia-noite, os humores na fila, então com cerca de 200 pessoas, começavam a ficar mais tensos. O povo sabia que tinha que tentar de tudo: alguns dos dedicados e dedicadas Madonnetes, nos celulares, monitoravam tentativas frustradas de compra de ingresso via internet pelos amigos que faziam serão domiciliar; outros, também pendurados nas linhas, faziam de tudo para serem atendidos no Call Center da Time 4 Fun.
Sem sucesso nas compras à distância, os guerreiros caíram no caos também na rua. Os santos baixaram principalmente por conta de venda de lugares no pelotão de frente da fila, onde estávamos. Ás primeiras dezenas de enfileirados caberiam os tão disputados ingressos para a área VIP das apresentações da turnê Sticky & Sweet: a única área do show que é cruzada pela passarela sobre a qual Madonna e seus dançarinos mostram dotes. Para reverter a zorra total, o vitrinista Alexandre, primeiro da fila, elaborou uma lista com o nome dos integrantes de cada um dos grupos que se revezavam em frente ao Ginásio.
Camping total
Com os alvoroços maiores já contidos, chegava o momento para relaxar com a presença dos amigos, antigos e novos. Juazeiro do Norte, Joinville, Manaus. Tinha brazuca de tudo quanto é latitude na disputa por Madonna. Calibrando o desenrolar do colegismo e dos flertes, petiscos, vodkas, cachorros-quentes e longos bate-papos. Mas nem só eles fizeram as horas dos enfileirados na espera no portão do Ginásio.
Enquanto alguns se animavam mandando ver no jogo de tabuleiro Scotland Yard ou em um tradicional baralho, outros aproveitavam para vender camisas não-oficiais da turnê a R$ 40. Era bacana observar também um mocinho simpático que caminhava fila acima, fila abaixo, com frases hilárias em uma pequena placa improvisada: time goes by so slowly for those who wait [o tempo passa vagarosamente para aqueles que esperam, trecho de Hung Up, de Madonna] foi provavelmente a mais oportuna para traduzir a saga.
Para os que não haviam levado barracas, restava adaptar camas, sobrepondo papelão, esteiras e edredons velhos. Outras soluções foram dormir em cadeiras de praia ou em colchões infláveis. Tudo funcional, mas difícil mesmo foi encontrar aconchego e dormir. O mau cheiro parecia vir da mais profunda vala paulistana. O risco de assalto também era uma preocupação, o que fazia representantes de cada grupo se revezarem no reparo dos pertences. E havia ainda trêbados assanhados, que tentavam dar créu nas meninas que acompanhavam os amigos bees. Fauna riquíssima em meio a uma precária selva urbana.
Deu!
A gente encarou a zona com coragem e, no lugar 47 da fila do Ibira, amanheceu com boas notícias. Após uma higiene básica em botecos da região, garantiu, às 11h da manhã, o sacro-santo VIP, para o show do dia 18 de dezembro. Não nos sentimos nada “very important”: estivemos, sim, imersos na mais grave nhaca urbana de nossas vidas. Mesmo assim, estratégia de marketing da produtora ou não, nada como se emocionar com as lágrimas de alegria derramadas pelos primeiraços da fila, com quem dividimos tantas horas.
É que a venda pela internet corria melhor e a chance de conseguir os melhores lugares já era escassa. Com o tempo, de qualquer forma, a revolta com os cambistas que pagavam aos idosos, às grávidas e a deficientes físicos (que coisa feia, galera!) começava a ficar para trás. Recompensados, só a comemoração restava – e segurar o VIP com todo carinho, pois dispostos a pagar fortunas pelo ticket de ouro estavam já à espreita na saída do Ibira…
Não deu?
Pode crer que você não é o único que ficou no meio do caminho, babando por seu teco no espaço mais privilegiado da turnê de Madge. São milhares, no Brasil todo, que não tiveram sucesso na compra do cobiçado ingresso, por conta da seqüência de desacertos nas vendas, tanto físicas quanto virtuais. Aos que querem-porque-querem VIP, mas ficaram de mãos abanando, vale tentar pacotões para o show de Buenos Aires (3 vezes mais barato que o nosso), apostar em cambistas (ingressos para a VIP em Sampa e no Rio já chegam a R$ 2.000) ou na possibilidade de novas datas para o Brasil: os rumores sobre dois outros shows para cariocas e paulistas continuam correndo.