Há 42 anos nascia uma das mais importantes bandas do rock nacional. Os Mutantes, formada por Arnaldo Baptista, Sérgio Dias e Rita Lee nos vocais, que agora, 40 anos depois do lançamento do primeiro disco, homônimo, está de volta, e dessa vez, pra ficar.
Os últimos anos foram dedicados apenas a shows, com Zélia Duncan nos vocais e o trio Sérgio, Arnaldo e Dinho. No final do ano passado, a banda resolveu dar um tempo e agora, se prepara para lançar o primeiro disco inédito desde Tudo Feito Pelo Sol, há 34 anos.
Para provar que ainda tem muito pra fazer na música brasileira ou melhor, muito urânio pra queimar, como disse Sérgio os Mutantes se reuniram na sacada do salão nobre do Teatro Municipal de São Paulo para apresentar sua nova música, Mutantes Depois, que fala da semente plantada no passado e do que esperar do futuro. Na sonoridade, a banda mostra que continua a mesma.
Antes da inédita, o grupo tocou Uma Pessoa Só, Tecnicolor e Baby. Uma apresentação a altura da banda, num lugar especial da maior cidade da América do Sul.
Tirando Sérgio e Dinho Leme (baterista que entrou para a trupe no segundo disco), curiosamente a maioria dos demais músicos não tem a idade do disco Mutantes, o que nem de longe parece preocupar o mestre Sérgio, que só quer saber do que vem pela frente.
Precisávamos de novas músicas, sem isso a gente não respira, disse Sérgio ao abrir a coletiva no teatro. Apesar de músicas consagradas, ele diz que não dá pra viver cantando o que passou. Estamos aqui pra falar alguma coisa, porque até agora nenhum mutante morreu. E quando morrer vamos passar a bola pra vocês, disse ele.
O fato de 2008 marcar os 40 anos do primeiro disco da banda é uma pura coincidência. Sérgio deixou claro que essa volta da cultura dos anos 60 e 70, que não acontece só no Brasil (vide os exemplos de outras bandas estrangeiras que estão pegando novamente nas guitarras, com interesses diferenciados, é claro) não é algo retrógrado, e sim necessário.
Nós fomos resultado de um golpe de estado que começou nos EUA. Vocês sofreram o que eu chamo de estupro incessante, que foi a destruição da nossa cultura em prol do que eles queriam. Agora, é importante saber da onde se vem pra saber pra onde se vai. É a retomada de algo que não foi destruído por nós.
Baixas e Rita Lee, um caso a parte
As baixas de Zélia e Arnaldo tiveram respostas curtas por parte de Sérgio e Dinho. Quanto a Zélia, a explicação foi que ela tinha uma carreira solo a seguir e por isso, não quis gravar músicas novas com os Mutantes. Já a saída de Arnaldo, Sérgio pediu para que a pergunta fosse feita a Lucinha, mulher do irmão.
Ele é meu irmão, dividi a vida com ele, mas acho que quando a pessoa chega aos 50, ela pode fazer o que ela quiser. E ele está tocando os projetos dele, fazendo as coisas dele, disse Sérgio. Já Dinho, acha que é possível Arnaldo tocar algumas das novas músicas.
Sobre Rita, Sérgio contou que mandou um email para ela com a nova música, perguntando se ela não queria fazer a letra. Não teve resposta.
Para assumir os vocais femininos, Sérgio encontrou na backing vocal dos Mutantes, Bia Mendes, a figura ideal. “Pra que procurar lá fora quando se tem alguém dentro da banda?”.
Mutantes 40 anos depois…
O disco deve ficar pronto até junho, e hoje, depois de se consagrar no exterior, Sérgio e Dinho se dizem satisfeitos com o espaço que a banda conquistou. Estar numa gravadora independente ou numa major não significa muita coisa, isso tem mais a ver com atitude e o Mutantes sempre vai fazer a música que quiser, a música que vocês quiserem.
Para Dinho, o fato de a banda ter conquistado um reconhecimento lá fora, mais do que no Brasil, é algo normal. Sérgio parece concordar. Se a gente tivesse sido exposto demais, talvez não estivéssemos aqui.
Entre as parcerias já reveladas segundo a banda, as outras estão escondidas na cartola de Sérgio e só serão reveladas mais tarde estão Tom Zé e Devendra Bahart, que pediu para participar de qualquer coisa com os Mutantes, e teve seu pedido atendido.
Quanto às tendências de se lançar e vender música pela internet, Sérgio diz que a banda não está interessada nesse tipo de coisa. A música estará disponível para download na página dos Mutantes, e para isso, a banda não vai cobrar nada, apenas pede que o internauta doe qualquer quantia à entidade mais próxima.
Se a tecnologia mudou o jeito dos Mutantes fazer música? Não. A gente não está interessado em nada que se faça apertando um simples botão. Queremos emoção.