Muntchako

Um dos nomes da renovação da música instrumental, o trio Muntchako trafega por diferentes gêneros e territórios. Ao injetar humor e política no som, tiram a música instrumental de um lugar imaculado, parnasiano.

Com o passaporte bastante carimbado, graças às frequentes turnês internacionais, o grupo é formado por Rodrigo “Barata” Tavares (bateria e samplers), Macaxeira Acioli (percussão e samplers) e Samuel Mota (guitarra, banjo e synths). Leia nossa conversa com o primeiro:

De onde vem o som do Muntchako?
Rodrigo “Barata” Tavares –  O som do Muntchako vem da dança.

Que características diferem a nova música instrumental brasileira dos grandes heróis do passado?
Rodrigo – 
Os grandes heróis e compositores do passado são referências essenciais e uma unanimidade pra nova música instrumental. Eles nos inspiraram e abriram as portas pra música instrumental no Brasil.

O samba jazz com Dom Um Romão, Meirelles, Zimbo Trio, Moacir Santos, Hermeto Pascoal a brasilidade de João Donato, Rosinha de Valença, Armandinho e até mais atrás como Chiquinha Gonzaga e Pixinguinha e tantos outros nomes que deixaram um legado realmente responsa e uma timbragem que não tem igual.

Difícil reproduzirmos esses timbres antigos! Mas o lado bom, é que as bandas novas vem com outra timbragem, a tecnologia também ajuda nessa mudança de século e traz bandas misturando muitos estilos e começamos a ver mais bandas com músicos que tem mais simplicidade na pegada, na maneira de tocar, ousando se arriscar na música instrumental. Isso é bom e vai tirando a música instrumental de um lugar mais acadêmico, mais intocável. O virtuosismo de uma certa forma era venerado e ainda é por muitos.

Na verdade esse movimento já tem anos, desde a surf music com Dick Dale e outros nomes do surf instrumental mundial. Da música instrumental ir pra pista de dança, ocupar festivais híbridos e ir aos poucos se tornando mais acessível pra todos. Nós temos a música instrumental como norte e referência, mas isso não se torna um limite na hora de compor.

O que tá rolando de mais interessante na música hoje, na sua opinião?
Rodrigo – Edgar chegou com seu disco voador pra resignificar a música contemporânea. :) Baiana System, Attoxxa e essa galera da Bahia tem timbres eletrônicos bem pesados, fazendo os shows mais fortes e viscerais da atualidade.

Que características crê que sejam mais marcantes da sua geração?
Rodrigo – Tava lendo outro dia um livro que fala de empreendedorismo e ele fala do jovem que tem um propósito acima da grana. Ele prefere ganhar menos, mas trabalhar com o que gosta, o que realiza a sua verdade, a sua busca.lógico que ele sabe a importância do dinheiro, mas ele não está em primeiro lugar na hora de escolher um emprego.

Mas a minha geração já é mais antiga! Pegamos a transição desse modelo, a internet chegando pra revolucionar tudo, os conteúdos, a forma de ver o mundo, se comunicar. E pra música tem disso também, a tecnologia batendo na porta, só o som até faz a cabeça, mas a galera, quer imagens, notícias em tempos reais. ultra velocidade. E temos que acompanhar essas mudanças geracionais tecnológicas. Até por uma necessidade de manter-se vivo, se alimentando e ressignificando o tempo todo.

Crê que exista algo na sua música que seja específico do seu lugar de origem?
Rodrigo –
Com certeza. O som do Muntchako traz bastante da formação da nossa cidade, que foi com pessoas de todo o Brasil. E a formação da banda reflete isso, Samuca vem do reggae e de flertes com o hip hop, Maca tem a música brasileira e principalmente nordestina e eu trago a bagagem do rock e da música pra pista, que se relaciona com a eletrônica.

Quais são suas referências estéticas?
Rodrigo – Referências afro-brasileiras urbanóides. A umbanda. Bahia Bass. estética da música eletrônica e do punk rock. O entusiasmo e energia da pista de dança. A fuleragem e simplicidade das músicas feitas nas ruas. A cúmbia digital.

Quais são seus valores essenciais?
Rodrigo – A empatia é fundamental pra convivermos com as diferentes realidades. A coletividade potencializa e concretiza nossas ideias com pluralidade.

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Créditos: Caroline Lima

 


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'Música instrumental está mais acessível', diz Muntchako