A cantora e compositora carioca, radicada em São Paulo, Karla da Silva acaba de lançar Gente Que Nunca Viu Vai Ver a Pretíssima Coroação, o segundo álbum de sua carreira.
“Tenho ouvido Karol Conka, Johnny Hooker, Criolo, Larissa Luz, Karla da Silva, Ana Cañas, Emicida… Cada um deles tem algo muito forte para dizer”, disse Elza Soares para a Red Bull Music. “Ao sermos apresentados a Karla da Silva, vimos a oportunidade de valorizar seu talento, produção artística e sua capacidade de mobilização”, afirmou Fernanda Paiva, Gerente de Patrocínio do Programa Natura Musical.
Karla se apresenta no Sesc Belenzinho no dia 30 de setembro acompanhada por Thiago Barromeo na guitarra, Igor Brasil no baixo, Guegué Medeiros na bateria, Bruno Prado na percussão, Ruben Marley no trombone, Luizinho Nascimento no Trompete e Flávio de Souza no sax. Os cantores e compositores Iara Rennó e Fióti são os convidados especiais da noite.
Nós conversamos com a cantora, nascida no bairro de Madureira, zona norte do Rio de Janeiro, que ficou conhecida como semifinalista da primeira edição do The Voice Brasil em 2012, programa transmitido pela TV Globo.
Que acredita que esteja acontecendo de mais novo na música brasileira hoje?
Karla da Silva – Acredito que os meios em que hoje a música que é feita no Brasil e no mundo é propagada são algo de novo e precioso demais, os shows transmitidos ao vivo no Facebook, no instagram, os discos sendo lançados em plataformas e muitas vezes sem precisar de versão física, o retorno do vinil, tudo isso é o que tem acontecido de mais novo na música brasileira.
Além disso, os discursos dos artistas estão cada vez mais contra o cenário retrógrado em que estamos vivendo, nós estamos fortes, falando sobre gênero, sexualidade, questões LGBT, questões negras, contra o racismo, contra a misoginia, isso tudo tem estreitado cada vez mais os laços com diversos públicos e fortalecido as pessoas, esse é o papel da arte, da música.
Como é para você ver que por um lado o preto vem sendo visto como cool e fashion pela publicidade e por outro enfrentando uma realidade que nada tem a ver com isso?
Karla – Dizem que ser negro está na moda, né? Eu e meu povo estamos de olhos bem abertos para isso e estamos lutando, estamos chegando. A sociedade ainda não está preparada para nossos avanços, a sociedade não está preparada para uma mulher negra fazendo check out num hotel cinco estrelas num bairro nobre, seus olhares denunciam isso.
Há dois lados nessa questão da publicidade: somos vendáveis nesse momento? Que bom! Isso pode gerar oportunidades para nós que estamos sedentos por elas, num atraso de mais de 500 anos e o outro lado da moeda é: eles, o sistema racista, continua nos escravizando e sugando e roubando o nosso brilho. Não estou interessada no que a publicidade e a moda estão dizendo sobre nós, estou preocupada e interessada no que os livros escolares dizem hoje, no que os professores, as universidades tem falado sobre nós. o brasileiro precisa se educar racialmente, há muita ignorância e isso só vai acabar quando o pensamento escravocrata da nossa sociedade mudar, a cor da pele não vai interferir em nenhuma esfera. nós estamos prontos, estamos fortes, estamos preparados, estamos “aprendendo a ler pra ensinar nossos camaradas”, os racistas precisam evoluir, acordar, porque há anos a gente nem dorme!
A questão racial voltou ao centro do debate nos Estados Unidos. Como a música pode contribuir para combater o ódio?
Karla – A música aproxima as pessoas, através dela pessoas de diferentes grupos e por vezes diferentes interesses conseguem dialogar e comungar de uma mesma ceia. Além disso, representatividade, referência e empoderamento que um artista deve estar comprometido, gera conscientização e agrega valores aos que tem “menos voz”. Música é amor, é força pra dias difíceis. Eu estou comprometida com isso e vejo que muitos estão.
Você tem rituais para compor?
Karla – Compor já é o maior ritual pra mim, é místico, a inspiração é um sopro divino, já me aconteceu de compor uma música, letra e melodia, andando da estação de trem até minha casa, não existe ritual maior (risos).
O que te motiva a fazer uma música nova?
Karla – Tudo! Tenho ascendente em gêmeos e vênus em libra, sou um ser humano inspirado, às vezes numa conversa digo algo e dali já surge uma frase, às vezes a energia de alguém, o céu azul, a força do meu pai, o sorriso de uma senhora pra mim na rua num dia que estou meio pra baixo me conecta à poesia da vida e me motiva…
Que outros artistas da nova cena mais gosta e indica?
Karla – Eu passei o verão na Bahia, produzi meu clipe “Duas Meninas” lá e me encontrei com uma galera muito incrível que acredito que vão compor em breve uma fantástica cena: O grupo “Ofá” de Salvador, é incrível, são discípulos do Letierres Leite, tocam no projeto Rumpillezinho e fazem um som autoral e cheio de personalidade e encanto, fizemos um show juntos lá em SSA e no verão que vem quero repetir essa dose! A banda Zuhri que mistura a essência do rap com a sutileza do jazz tem um som maravilhoso me encantei também muito pela cantora, poeta e escritora brasiliense Tatiana Nascimento dos Santos.
SERVIÇO
Karla da Silva – participação Iara Rennó e Fióti Lançamento de Gente Que Nunca Viu Vai Ver a Pretíssima Coroação Sábado, 30 de setembro de 2017, às 21 horas Teatro do SESC Belenzinho – R. Padre Adelino, 1000 – Belenzinho, São Paulo Duração: 1h30 Não recomendado para menores de 18 anos. Ingressos à venda pelo Portal Sesc SP (www.sescsp.org.br), a partir de 19/09/2017, às 15h30, e nas unidades, a partir de 20/09/2017, às 17h30 R$ 20,00 (inteira); R$ 10,00, (usuário inscrito no SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino). R$ 6,00 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes). Sesc Belenzinho Endereço: Rua Padre Adelino, 1000 Belenzinho – São Paulo (SP) Telefone: (11) 2076-9700 www.sescsp.org.br/belenzinho Estacionamento Para espetáculos com venda de ingressos: R$ 15,00 (não matriculado); R$ 7,50 (matriculado no SESC – trabalhador no comércio de bens, serviços e turismo/ usuário). provocadora teórica no projeto “Espaço Aberto para a Diversidade Sexual e de Gênero na Periferia”