Consagrado na história da música popular brasileira como o “Rei da Voz” antes mesmo de Roberto Carlos ter nascido, Francisco Alves pode ter sido esquecido pelos mais jovens, mas tem um lugar inteiramente dedicado a sua memória em Miguel Pereira, na região Centro-sul do Rio de Janeiro, e que representa um orgulho para os locais: o Museu Francisco Alves. O cantor tornou-se personagem importante da história da pequena cidade fluminense por escolher o local como destino de férias de verão, e onde mais tarde morou e chegou até a montar uma loja de tecidos.

Era em Miguel Pereira que o Rei da Voz se refazia do cansaço da carreira artística, em busca de tranquilidade e do clima agradável. A cidade é muito procurada por veranistas devido ao seu clima ameno e o cantor foi destes visitantes frequentes que alteram o ritmo local. Hoje, há uma rua batizada com o seu nome. Mas, a casa onde morou durante 10 anos, na Rua Luis Pamplona, foi demolida para dar lugar a uma loja de materiais de construção nos anos 80. Antes disso, a cidade já tinha a maior das homenagens à memória de Chico Viola: o Museu Francisco Alves foi inaugurado em 1974 e está situado num edifício conhecido como “castelinho” pelos moradores da cidade, dentro do Jardim Municipal Francisco Marinho Andreiolo, no centro de Miguel Pereira. Mas, no aniversário de 40 anos do museu, a Prefeitura anuncia que pretende mudar o local das suas instalações. Vai transferi-lo para o corredor cultural da antiga Estação Ferroviária, hoje reformada, a partir de abril.

O museu guarda a memória de um artista que marcou de forma definitiva o século 20 na música brasileira. Vendeu cerca de 5 milhões de discos, e sua voz ajudou a consagrar compositores como Cartola, Heitor dos Prazeres e Ismael Silva, já que imortalizou algumas das suas mais importantes canções. Carioca, filho de um dono de botequim português no Rio de Janeiro, ganhava a vida como motorista de praça quando começou a carreira, em 1918, em companhias de teatro, cantando em revistas musicais. Em 1929, estreou nas ondas do rádio, veículo mais popular daqueles tempos, na Rádio Sociedade. Depois de atuar em várias emissoras, fixou-se a partir de 1941 na Rádio Nacional, onde mantinha um famoso programa aos domingos. O cantor foi quem mais gravou em toda a história dos discos de 78 rpm, e ainda apadrinhou grandes cantoras como Aracy de Almeida, Dalva de Oliveira e Isaurinha Garcia. A notícia da morte de Chico Viola, como também ficou conhecido, em um acidente na rodovia Dutra, parou o país em setembro de 1952. O carro que dirigia sofreu o choque de um caminhão na contramão.

O acervo do museu de Miguel Pereira lança o visitante numa verdadeira viagem ao universo do cantor e à época que acompanhou o seu percurso artístico e pessoal: décadas de 20, 30 e 40. A viagem se faz através de vários objetos pessoais como móveis, microfones, fotografias com artistas da época e individuais, vitrola, recortes de jornais, partituras, cartas, roupas, além de muitos discos. Uma das peças mais observadas é a velha máquina de escrever, com letras maiores, confeccionada especialmente para Alves, porque não enxergava bem e se recusava a usar óculos. O seu bonito violão, peça de valor sentimental, está exposto em lugar de destaque.

Miguel Pereira parece inspirar grandes artistas, já que anos mais tarde Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, teve também ali uma fazenda chamada Asa Branca, no caminho que liga a cidade a Ferreiros, em Vassouras.O Museu Francisco Alves, aberto de segunda a sexta, de 12h às 18h e sábado, domingo e feriados, de 10h às 16h, tem visita gratuita.

 


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Museu Francisco Alves, com acervo pessoal do Rei da Voz, completa 40 anos