“O funk carioca não é machista. Pelo contrário, é muito feminista. Tem uma cultura liberal, nada é julgado em um baile”, diz Wagner Domingues da Costa, também conhecido como Mr. Catra, em entrevista ao Virgula Música sobre o gênero que ajudou a disseminar pelo Brasil. Fluente em alemão, inglês, hebraico e francês, o estudante de direito que trocou a faculdade pela música conta que ‘no funk, são as mulheres que mandam’. 

“O baile é feito para as mulheres. As letras e coreografias são pensadas para elas. O funk não existiria sem a figura feminina. A mulher é livre para levantar qualquer bandeira. Tem o grupo das fiéis, tem também o grupo das que esculacham [traem] os maridos, com um monte de mulher que apoia. Tem também aquelas que gostam de dinheiro”, explica, antes de acrescentar, “é o bonde da ostentação”. 

Há cerca de três anos, durante uma entrevista, o cantor havia afirmado que ‘o futuro do funk é São Paulo’. A profecia do autointitulado ‘mais famoso funkeiro do Brasil’ tornou-se realidade, e a capital paulista deixou de ser coadjuvante na cena para exportar músicas que giram em torno de um único tema: o dinheiro. “Estamos vivendo a explosão de uma cena latente, recheada de grandes talentos”, diz. 

“Tenho muito orgulho dessa rapaziada que está fazendo a diferença. O funk ultrapassou as fronteiras do Rio, tem muita gente boa aqui em São Paulo. Adoro o trabalho de nomes como o MC Bola, MC Boy do Charmes, Boy do Catarina, mas ao mesmo tempo fico triste ao perceber que meus ídolos estão esquecidos!”, desabafa ao acrescentar: “tenho vontade de fazer um programa de rádio para resgatar a memória do funk carioca”. 

“Os caras que criaram o funk foram roubados e trapaceados. Ninguém se lembra de que a primeira mulher a cantar funk foi a Cacau, que nomes como Cidinho & Doca, Willy & Duda e Garrincha & Juninho fizeram as primeiras letras de sucesso. A história foi esquecida”, protesta. “Todo mundo que frequenta baile funk e balança com o movimento, seja no morro ou na balada de playboy, tem obrigação de saber a história do funk!” 

O gênero, que começou a tomar corpo no Brasil na década de 80, foi influenciado pelo miami bass, importado da Flórida, com letras de conteúdo sexual explícito e batida acelerada. Alguns anos depois, vieram as letras em português, como explica Mr. Catra: “O funk tem muita coisa de rock, de black music e música eletrônica. É uma miscelânea muito louca que mistura Kraftwerk, James Brown e Kiss. Foi assim que tudo começou, nas festas do Big Boy e Ademir Lemos. Eles merecem reconhecimento e respeito”. 

Aos 44 anos, Catra também é conhecido por seu polêmico estilo de vida. A família do MC, formada por duas esposas, duas noivas e 23 filhos, é alvo de curiosidade e censura: “Um monte de gente fala besteira para os meus filhos, mas sou um bom pai. Eles têm tudo de que precisam: carinho, educação e muito amor. É isso que importa. Eu sou sincero. Não tenho mulheres, tenho amores”. 

No vídeo abaixo, Catra fala ao Virgula Música sobre traição, família, religião e homossexualidade: 


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Mr. Catra sobre o funk carioca: "É um gênero extremamente feminista"