Kuduro: produtor angolano explica origem do gênero musical

Pedro Coquenão possui características típicas de um artista hiperativo. Trabalha fazendo música com o projeto Batida, atua como produtor, radialista e até se arriscou como documentarista com o filme É Dreda Ser Angolano (2004). Nascido em Huambo e criado em Lisboa, o músico foi uma das atrações do Mimo 2015, no Rio de Janeiro, com seu grupo e também em um workshop, em que falou sobre política e cultura da Angola.

Em entrevista ao Virgula, Pedro Coquenão contou sobre seu ativismo político, da música como ferramenta de transformação social e sobre o Kuduro, um dos estilos que colocou Angola no cenário musical, mas acabou sendo propagado de maneiras diversas ao redor do mundo.

Liderado por Pedro Coquenão, grupo de Angola se apresentou no Mimo 2015 nessa sexta-feira (13)

Osmar Portilho/Virgula O luso-angolano Pedro Coquenão

“Foi muito através dos artistas de música popular que fizeram adaptações, mas usando mais a palavra do que propriamente o groove que o Kuduro tem, que é bastante particular. Foi uma adaptação muito livre”, explicou. No Brasil, o termo ficou famoso e foi repetido por muitos, principalmente na abertura da novela Avenida da Brasil. A faixa Vem Dançar com Tudo, interpretada por Robson Moura e Lino Kriss, é uma regravação de Lucenzo, cantor português. No mesmo embalo, veio Latino com Dança Kuduro, que cabe exatamente na explicação de Coquenão, em que a palavra é usada, mas pouco lembra o ritmo angolano.

“O Kuduro fora de Angola sempre foi interpretado mais pela dança e pelo lado espetacular, e não pelo lado complexo, como movimento social”, completou.

O clima festeiro do Kuduro original, no entanto, possui uma motivação triste. Angola é um país que ainda enfrenta as devastações causadas por uma guerra civil que avassalou seu território entre 1975 e 2002. Longe de qualquer tipo de estabilidade social, o povo se apoiou na música alegre para tentar esquecer a destruição ao seu redor.

“As primeiras formas de música que levaram ao Kuduro eram músicas festivas e de dança, com um lado escapista e de entretenimento. Uma tentativa de fuga da guerra. Tentando exorcizar o que se passava”, afirmou.

 


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