O cantor Otto foi o convidado do show de Jards Macalé no início da noite deste sábado (12) no Palco Se Ligaê, neste que foi o segundo dia de apresentações da etapa do Rio de Janeiro do MIMO Festival, que encerra suas atividades na Cidade Maravilhosa neste domingo (13).
Com um discurso bastante politizado, o pernambucano deu uma rápida entrevista ao Virgula pouco antes de entrar no palco, sentado com alguns amigos em frente ao seu camarim. E, claro, o momento político atual não deixou de ser pauta na conversa com o artista.
Otto demonstrou preocupação com o futuro da arte após alguns fatos surpreendentes na política internacional, como a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, mas disse acreditar que a música é capaz de superar tudo isso. “Eu acho que a arte é fundamental para a consciência, a voz dos oprimidos, a paz. Ter um festival como esse, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, é especial. Poder realizar já é especial, trazer as pessoas que eles trazem é [ainda mais] especial. Espero que tenha sempre espaço, mesmo que o mundo mude, vai ter espaço pra boa música, principalmente num lugar como o Brasil. É consciência, cidadania, um bocado de coisa junto que você não tem nem como dizer”, disse ele.
Falando sobre Brasil, Otto criticou o processo de impeachment movido contra Dilma Rousseff e pediu que o incentivo aos eventos culturais continue. “Não podemos contar com essas tragédias políticas. Eu acho que o artista sobrevive, acho que o sentido de ocupar está nisso também, as pessoas hoje também têm um incentivo maior de buscar o lado que elas estão, então acho que é isso, o mundo tá bem difícil, eles querem guerra, mas a música quer paz. Acho que o Brasil já passou por várias situações, militares… essa é uma terrível, porque a gente, no meio de uma democracia firme, tem usurpado o poder de uma pessoa que foi legitimamente eleita e o principal, uma pessoa que realmente não se beneficiou nem um dedo da coisa. Então, nesses tempos onde a honestidade é punida, a música está aqui pra dizer ‘não, cara, não é assim que se faz’. Acho que a consciência é o lado que você escolheu, e a arte sempre estará no bom lado”, afirmou.
Jards Macalé e a geração de ouro da MPB
Estar com Jards Macalé, para Otto, foi um dos grandes momentos de sua carreira. Ele falou sobre a importância do músico, que vem de uma das gerações mais ricas em conteúdo da música brasileira e mundial. “Eu tô aqui com o Jards Macalé que é mestre, é fundamental pra minha geração, para a música brasileira. É um irmão, um amigo, um cara que pensou o Brasil em todas as situações do Brasil. Estar com ele é uma honra. Ele vem de uma geração pensante, com Chico, Gil, Caetano, Alceu, uma geração muito forte. E politicamente é um cara que tem uma consciência muito grande e a gente aprende muito estando do lado”, finalizou.