Na quinta-feira (01) Mayí lança o clipe de “Sedenta” pelo selo MacacoLab. O segundo single da carreira da artista da voz a questões femininas e LGBTQIA+.
Integrante do coletivo feminino de hip hop Fenda, Mayí parte para a sua carreira solo com o segundo single “Sedenta”. A faixa sucede “Gritam-me” e dá continuidade a série de lançamentos planejados por Mayí para serem disponibilizados ao longo deste ano.
Com uma influência do trap e funk em “Sedenta”, Mayí conta sobre a liberdade sexual feminina que ainda é encarado como um tabu por grande parte da sociedade. Como mulher bixessual, a artista utiliza de suas experiências para tratar e falar sobre situações que já passou ou presenciou e que precisam ser debatidas.
A faixa foi feita em parceria com o DJ e beatmaker belo-horizontino Victor Vhoor. O clipe chega expondo toda a ideia da liberdade feminina nas relações. Abaixo, Mayí conta com pouco mais sobre a produção do single.
Daniela de Jesus: Como foi o processo criativo para criar “sedenta”?
Mayí: A música aconteceu de insights mesmo, pensamentos e vivências pessoais que eu tive, de relacionamentos com homens e mulheres. a parte musical, eu tinha a letra, falei pro Vhoor “eu tenho uma letra que acho que ficaria louca num beat seu”. Mandei a capela no whatsapp pra ele, nos encontramos uma vez, ele falou “vamos fazer a parada”, eu falei “vamo”. Isso foi num festa da DJ Kingdom, do coletivos deles, que é a Baile Room. Depois nos encontramos no estúdio, eu cantava pra ele e foi construindo o beat ali ao vivo. Eu pirei muito, encaixou maravilhoso. passaram-se uns anos, Vhoor perdeu o beat. Mas aí ele refez o beat, me mandou e eu falei “tuuudo! tudo tudo tudo” e aí gravamos e soltamos agora, em 2021.
Para o clipe eu tive insights do que dava para viabilizar com um custo mais baixo para fazer durante a pandemia. Nisso eu comecei a pesquisar clipes com baixo custo financeiro e com cenas que eu conseguiria produzir em casa. Como a capa que queremos trazer essa pegada mais analógica, junto com o Lucas, o Francis e o Pedro HBS. Essas pessoas super somaram na construção e mergulharam nesse meio de baixo custo. Pesquisei também fotos e vivência do funk no Brasil, tanto em BH quanto no Rio de Janeiro. Eu achei uma foto de uma menina que estava em um painel azul e eu me adaptei com as coisas que eu tinha em casa. A “Sedenta” tem muita arte a oferecer. Quis mostrar bastante da minha vivência também, porque essa música veio de um lado interior, então essa vivência de favela transpassa. A Elen Dutra, que filmou, abraçou a ideia e me ajudou. Conseguimos uma câmera VHS e uns filmes vencidos que se encaixaram com a capa e com a estética do vídeo. Essa estética antiga que se passou mas ainda é atual no funk no Brasil
D: Você faz parte do coletivo feminino de hip hop Fenda, o quanto ele é importante para a sua sonoridade e a sua perspectiva musical?
M: A sonoridade de “Sedenta” é muito minha, das minhas influências. Na Fenda, temos várias influências, muitas compartilhadas, mas outras não. Então, acho que a sonoridade de “Sedenta” é muito eu mesmo. Agora, perspectiva musical, é o corre, é ver que geral tá no corre pra alcançar coisas muito boas, com essa visão de conseguir conquistar o que a gente ainda não tem, mas a gente tem essa fé de que vai conseguir. Essa fé e esse corre. Isso que inspira, a potência de estar sempre correndo atrás, de estar sempre buscando mais. Pulamos barreiras pra conseguir e estamos pulando barreiras pra conseguir, e estamos conquistando. Nessa perspectiva musical, é forte essa inspiração de Fenda.
D: Na música você trata do prazer feminino que ainda é um tabu na sociedade, como você vê o papel da música para quebrar esses tabus que existem?
M: Música é protestante, isso existe desde que a música é música, ser construída como um protesto. Isso é construído desde um som instrumental que era o samba na época escravocrata, tinha canções que nem tinham letra e ainda assim era um protesto. Era visto como protesto também por quem estava de fora cheio de tabu e julgamento. Era uma forma de protesto por poder ser dito, expressar o que as pessoas viviam e acreditavam. A música tem esse papel transformador, eu acho que é dessa forma que conseguimos quebrar esse tabu. Dizendo o que se acha necessário e verdadeiro em si para transmitir para as pessoas que tem essa mesma verdade e para quem não tem repensar sobre como as pessoas que não pensam sobre ele pensam. Isso é uma forma de informar, informar divertindo.
D: Quais foram os 3 álbuns, ou 3 músicas, que inspiraram “sedenta”?
M: “Acima” Vhoor, “BUBBA” KAYTRANADA e “O Futuro Não Demora” BaianaSystem