Marina Iris, expoente do samba carioca, lança o clipe de “Tô a Bangu”, canção de Arlindo Cruz e Franco, já disponível em seu canal no Youtube. Na produção, a cantora vive uma emocionante história de amor com sua companheira, a atriz e diretora Luiza Loroza, filha do também ator Serjão Loroza. A trama se desenrola numa sucessão de desencontros que culmina em um encontro explosivo e intenso numa roda de samba na Lapa.
As carioquíssimas estações de trem formam o cenário, que passa pelo Bar do Adalto, queridinho dos sambistas, e termina no mais novo point da juventude, a Mureta da Lapa. Já a composição apresenta um jogo de palavras com nomes de bairros e regiões do Rio de Janeiro.
– A roda de samba é uma experiência estética e afetiva profunda: abarca todos os sentidos e nos ensina a celebrar nossa memória – conta Marina.
Virada
“Tô a Bangu” integra o mais recente trabalho da sambista, “Virada”, disponível nas plataformas digitais. Sem deixar de lado sua trajetória engajada, vista nos álbuns “Rueira” (2018) e “Voz Bandeira” (2019), este dedicado à vereadora assassinada Marielle Franco, o seu quarto álbum solo conta com dez faixas sobre relacionamentos amorosos e apresenta uma linguagem popular, com sonoridade fiel às rodas de samba que povoam ruas e praças do Rio de Janeiro.
As canções foram gravadas com um time de convidados muito bem escalado, que inclui os cantores Péricles, Diogo Nogueira, Lenine, Moacyr Luz e Renato da Rocinha, além das cantoras Amanda Amado, Deborah Vasconcelos e Marcelle Motta. A produção musical do disco é de Vitor de Souza, jovem instrumentista que vem despontando na cena do samba/pagode, e a direção artística é assinada por Marina com o compositor e produtor Eduardo Familião.
A ideia do disco veio ainda na pandemia. E surgiu justamente, segundo a cantora (que é casada com a atriz Luiza Loroza), por ter sido um tempo de reflexão e uma verdadeira prova de fogo para tantos casais.
– Foi um tempo duro, de perdas, de um sofrimento conjunto que impactou todas e todos profundamente. Foi também um momento de rompimento para muitos casais. Já para outros foi a oportunidade de reafirmação dos pactos de convivência e afeto. Foi um período muito intenso e que gerou um grande trauma social. Penso que esse disco, que fala sobre relacionamentos e que traz tantos convidados, propõe justamente unir essas vivências e vozes. Música nos afeta, nos toca como corpo coletivo. É isso que nos dá possibilidades de acolhimento e cura – defende.
Conhecida no universo do samba carioca por participar de rodas com o “Balaio Bom” (grupo responsável pela base sonora do disco), Marina não quis distanciar o público da música mesmo durante a quarentena. A saída encontrada pela cantora foi lançar alguns singles naquele período.
– Além de tratar da questão do amor, os lançamentos que foram aquecendo o disco significaram uma “virada” no sentido de proporcionar às pessoas que estavam em casa a sensação da roda de samba. Foi a possibilidade de entregar um pouco da roda, um pouco do encontro – lembra.
Em “Virada”, a cantora finca de vez os pés no que ela mesma chama de “ofício da composição”. Com parcerias com Moacyr Luz, Manu da Cuica, Raul DiCaprio, Marina assume de vez sua caneta e mostra suas perspectivas como compositora. Além de suas canções, o trabalho conta com músicas de Arlindo Cruz, Jorge Aragão, Aldir Blanc, Sombra, do expoente da MPB Tó Brandileone, entre outros. Dos clássicos às inéditas, o amor é o mote desse grande encontro.
– Nunca tive como ‘carro-chefe’ músicas que falassem sobre relacionamentos, sobre amor. Eu já queria fazer isso e fiquei mexida com relatos de diversas pessoas. Não significa deixar de lado a Marina militante, mas sim entender e acolher o amor como ato revolucionário – explica.
Trajetória premiada
Marina vem construindo uma carreira reconhecida por público, crítica e que se desdobra em diferentes projetos e funções.
Em 2017, sua música “Virada” foi eleita a “Música do Ano” em crítica realizada no jornal O Globo. Em 2018, a cantora se apresentou com a Orquestra Jazz Sinfônica, na celebração dos 60 anos do compositor Moacyr Luz, no Memorial da América Latina. Em 2022, ganhou o Prêmio Alcione, da Secretaria de Cultura do Rio de Janeiro, na categoria “Cantora do Ano”.
Além dos trabalhos individuais, ela assinou a direção artística de alguns trabalhos coletivos e shows de outros artistas do samba: “ÉPreta”, em 2017 (projeto idealizado pela cantora e que foi finalista do Prêmio da Música Brasileira em 2018), Canto em Movimento (2022), Canto de Rainha (2023), entre outros.
Mais novidade a caminho
Além do álbum e do clipe, Marina se prepara para o lançamento de seu primeiro livro infantil, “É Pretinha”, junto com as autoras Manu da Cuíca, Ana Costa e Stephanie Gonçalves, previsto para este semestre.