Um tributo à obra e ao legado do eterno poeta. A cantora e atriz Mariana de Moraes celebra afetos temporais em seu quinto disco de carreira, o primeiro totalmente dedicado ao avô Vinicius de Moraes.
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Com 12 faixas e arranjos de João Donato (1932-2023), “Vinicius de Mariana” chega às plataformas digitais no próximo dia 27 pelo Selo Sesc. O álbum reverencia a amizade, a justiça e a esperança, unidas em um repertório que abraça alguns dos maiores ídolos e parceiros do poetinha: Pixinguinha, Antônio Maria, Chico Buarque, Edu Lobo, Carlos Lyra e Baden Powell.
O single “Maria Moita”, uma parceria de Vinicius e Lyra, foi lançado no dia 19 de outubro, quando o compositor faria 110 anos. A canção – que denuncia a cultura de opressão às mulheres – ganhou nova roupagem e a participação especial de um coro formado por Camila Pitanga, Mart’nália e Jussara Silveira. “Essa é uma música emblemática para mim. Tem uma história e um desejo de justiça que retrata esse amor muito grande do Vinicius pelas mulheres, não só as “dele”, mas as mulheres do mundo. Um desejo por um mundo mais justo, onde as mulheres fossem amadas e tratadas e não violentadas, onde a terra fosse amada e tratada e não violentada, onde os trabalhadores não fossem explorados”, diz Mariana.
O repertório do álbum foi escolhido a dedo. Ao lado de Guto Wirtti e Leo Pereda, Mariana pinçou 12 canções do avô que costuram uma rede de ancestralidades. O abre-alas é “Canto do Caboclo da Pedra Preta”, gravada originalmente no clássico Afro-Sambas (1966), de Vinicius e Baden. Os arranjos evocam a herança de Brasis negros que forjaram a dança e a musicalidade do país. “Canto de Xangô”, outra parceria de Vinicius e Baden, chega com a saudação em yorubá de Mariana. Sopros e atabaques formam o terreiro camerístico para o canto de Zé Manoel e Clara Buarque.
“Eu sou negro de cor/ Mas tudo é só amor em mim”, “Mas amar é sofrer / Amar é morrer de dor / Xangô meu senhor, saravá / Me faça sofrer/ Ah, me faça de morrer / Mas me faça morrer de amar / Xangô meu senhor, saravá”, suplica a letra.
A parceria com Baden também aparece em “Tristeza e Solidão”. Já Carlos Lyra, além de “Maria Moita”, é lembrado ainda em “Marcha da Quarta-Feira de Cinzas”. A frutífera colaboração com Tom Jobim marca presença na célebre “Eu não existo sem você”. A canção ganhou leitura familiar e afetiva, com participação de Maria Luiza de Moraes (filha de Mariana) e Antônia Pitanga (filha de Camila Pitanga) além de sons de bebê na voz de Rara, filha de Mana Bernardes e Marcelo Jeneci (que toca sanfona na faixa).
A escolha do repertório retrata um pouco a diversidade de parceiros de Vinicius. Um deles é Edu Lobo, que comparece com “Arrastão” (vencedora do 1º Festival da Música Popular Brasileira da TV Excelsior, em 1965) e “Só me fez bem”. Chico Buarque é lembrado em “Desalento”, a oitava faixa do disco, e participa cantando com Mariana. Antônio Maria surge com “Quando a Noite me Entende”, Hermano Silva com a clássica “Onde Anda Você” e Pixinguinha fecha o álbum com “Mundo Melhor”.
“Vinicius de Mariana”, que traz na capa a foto de Mariana criança sentada no colo do avô, começou a ser gravado em 2021, durante a pandemia de Covid-19. Um período difícil, de dor e ao mesmo tempo de esperança.
A cantora cercou-se de um time de grandes colaboradores. A produção musical é de Mariana de Moraes e Guto Wirtti (também baixista e arranjador). João Donato toca piano e assina os arranjos em cinco faixas. Em destaque, as parcerias com o pianista, cantor e compositor Zé Manoel, bem como o baterista e percussionista Robertinho Silva. O álbum reúne ainda músicos como Carlinhos 7 Cordas, Joana Queiroz, Nina Becker e as participações especiais de Clara Buarque (neta de Chico) e Aurora Alves.
Um álbum feito de amor, tradição, inovação e perseverança. Afinal, como dizia Vinicius: “E, no entanto, é preciso cantar / Mais que tudo, é preciso cantar”. nunca é preciso cantar. É preciso cantar.