Marcelo D2
Créditos: gabriel quintão
Marcelo D2 está de volta ao rap com seu sexto álbum solo Nada Pode Me Parar, que chega às lojas em maio. Três anos após seu último lançamento, Marcelo D2 Canta Bezerra da Silva (2010), em que mergulhou na obra do sambista malandro com releituras de clássicos do gênero, o carioca classifica como uma ‘necessidade’ seu retorno ao hip hop.
“Fui tão a fundo ao samba que gravei um álbum inteiro cantando. Comecei a sentir uma necessidade de cantar rap, uma necessidade de ter uma batida. É isso o que me move. Além do mais, o rap está passando por um momento de renovação muito bacana, essa galera jovem também me motivou muito”, conta Marcelo D2 em entrevista exclusiva ao Portal Virgula.
A admiração do rapper pelo trabalho da nova geração culminou em parcerias para o disco com nomes como Renan Saman, que fez as bases de A Cara do Povo, 4:20 e Você Diz que o Amor Não Dói, além de Shock (do Start), Batoré (do ConeCrewDiretoria) e Akira Presidente, revelação do rap carioca. “O mais interessante da cultura hip hop é a liberdade. Houve um momento em que o rap ficou muito careta”, explica.
“Todo mundo tinha que seguir uma cartilha. O tal do proceder, da humildade, usar o boné de lado. A nova geração resgatou a liberdade de arriscar. Isso é o rap, beber do samba, beber do funk, beber do jazz, experimentar sem medo de errar, arriscar. Dizem por aí que está menos político, que ficou bobo. Os moleques falam de amor e qual o problema disso? O rap não precisa ser só sobre sofrimento!”
Mas não só de novos ares é feito o sexto álbum de estúdio de D2. A inspiração para o título veio de uma rima de Thaíde, que Marcelo escreveu na parede de seu primeiro apartamento, localizado no bairro do Catete, no Rio de Janeiro: “Eu estava relembrando do Skunk [falecido integrante do Planet Hemp] e de uma letra do Thaíde que diz assim: ‘Eu já caí no chão, só que me levantei/ Eu faço meu sistema, eu dito minha lei/ Nada pode me parar’. Tem tudo a ver com o momento que eu estou vivendo”.
“Eu não sou nada cabalístico, mas tenho 20 anos de carreira, 15 anos do meu primeiro disco solo e esse é meu quinto álbum. São números redondos e as letras são autobiográficas. Nada Pode Me Parar tem uma arrogância, no bom sentindo, que o rap proporciona pra quem canta. Estou vivendo essa fase de desfrutar de tudo que a música me trouxe. Hoje tenho certeza de que nada pode me parar”, afirma.
BRIGAS, EGO E A REUNIÃO DO PLANET HEMP
No ano em que comemora o vigésimo aniversário do Planet Hemp, banda que fundou no início da década de 90 e mistura rock, rap e hip-hop para abordar questões sociais, especialmente a legalização da maconha, D2 comenta a turnê comemorativa com o grupo e sua briga com o companheiro B Negão. “Essa confusão toda me ensinou uma coisa muito importante. Aprendi a não cair mais nas armadilhas do ego”, conclui.
“Eu não sei qual foi motivo da briga. Só sei que fiquei dez anos sem falar com o meu melhor amigo e me sinto um imbecil por isso. As coisas mudam, muita coisa acontece e a maturidade chega. É todo um processo. Hoje eu não agiria da mesma forma, mas agora não dá para voltar atrás”.
O Planet Hemp se separou no início dos anos 2000, e os principais integrantes do grupo seguiram carreira solo, entre eles B Negão e o rapper Gustavo Black Alien. “Hoje tenho absoluta certeza que encerramos a banda na hora certa. Não ficamos dando voltas, sendo cover da gente mesmo, massageando o ego e ganhando dinheiro fácil. Foi coerente, não acabou por uma briga, depois a gente até brigou, mas no momento foi uma coisa acertada entre todos nós.”
Após shows esgotados por todo o Brasil, a banda se prepara para gravar um DVD, nos dias 12 e 13 de julho no Credicard Hall, em São Paulo. Segundo D2, não há faixas inéditas no repertório do registro: “Antes eu falava que era impossível a volta do Planet Hemp, depois voltamos com a banda. Então, agora digo que é improvável, mas não impossível, que façamos alguma coisa nova. Inédito é o fato do Planet Hemp subir ao palco”.
POLÍTICA, RELIGIÃO E DESCRIMINALIZAÇÃO DAS DROGAS
Defensor ferrenho da descriminalização da maconha, Marcelo D2 foi preso em 1997 após um show do Planet Hemp em Brasília, por apologia ao uso de entorpecentes. Dezesseis anos depois, nada mudou em relação ao trato das drogas no Brasil. Na opinião do rapper, estamos atrasados nesse questão: “É estranho falar sobre isso hoje. Esse debate sobre drogas, casamento gay e direitos das mulheres soa velho, antiquado, ultrapassado. Não tem que haver esse tipo de discussão em 2013, isso é coisa da década de 80”.
Segundo o músico, a mistura entre religião e política é um fator que torna a sociedade ainda mais intolerante: “Eu tenho certo receio disso, sabe? Religião cria fanatismo, ortodoxos que acham que o Deus deles é melhor que o seu. Isso é perigoso. As pessoas mais instruídas se aproveitam da religião para manipular a fé alheia, manipular a vida do outro. Coitados dos que são manipulados e ainda mais coitados somos nós, que temos que aturar esses chatos!”.
“As religiões são contra as drogas, os gays, os brancos e os negros. São contra qualquer coisa que não seja manipulada por eles. Como pode um padre que come criancinhas afirmar me representa perante Deus? A mesma coisa se aplica ao preconceito. Homofobia é coisa de veado. De quem tem medo de se envolver com alguém do mesmo sexo e gostar. Por isso esse ódio tão grande contra algo que não diz respeito ao outro”, finaliza.