Marcelo D2 começou no rock, foi para o rap, misturou com samba e agora abraçou de corpo e alma o ritmo brasileiro. Em 2010, quando a morte de Bezerra da Silva completa cinco anos, D2 lança um tributo honesto ao “bom malandro” recifense, radicado nos morros do Rio de Janeiro.
Com produção de Leandro Sapucahy, o álbum conta com 14 faixas (mais bônus) onde D2 presta homenagem ao seu mestre do samba. Os arranjos ficaram por conta de Jota Moraes e um time de músicos do ramo, incluindo o violão de Carlinhos Sete Cordas, sopros de Dirceu Leitte e um trio vocal fazendo coro à moda antiga. D2 fez a lição de casa, passou no teste para sambista e mostrou que vai muito além do rap.
D2 falou ao Virgula Música sobre Marcelo D2 Canta Bezerra da Silva, sua relação com o homenageado, como foi escolher as canções no vasto repertório do interprete, sobre drogas e também política.
Como surgiu a ideia de gravar um tributo ao Bezerra da Silva?
Foi no velório do cara, foi chegando um, chegando outro. Em velório de sambista não pode ter tristeza, a gente começou a tomar uma cerveja e surgiu a ideia.
Como foi o processo para escolher as músicas dentro do grande repertório dele?
Foi em uma hora de reunião, eu e o Leandro sentamos e escolhemos 33 faixas, a gente não queria fazer um disco muito longo, tá ligado? Pra não cansar a galera, gravamos algumas e no fim, separamos as 14 melhores. Ficou tudo dividido pelos temas que o Bezerra cantava, tem música que fala sobre o “bom malandro”, sobre drogas e sobre traição.
Você conviveu muito com o Bezerra?
Quando meu pai morreu, ele me ligou e me deu a maior força, meio que tomava conta de mim, me dava bronca, falava: “Marcelo, não anda com esses caras!” Fizemos até uma turnê juntos, eu ia na casa dele a acabei ficando muito amigo do filho dele.
Como foi pra você cantar samba depois de tanto tempo no rap?
Cara, eu cheguei lá e cantei. Não teve nenhuma preparação especial não. Quando eu era moleque era malandragem cantar Bezerra nas esquinas por aí, eu viva cantando com os meus amigos. Então não foi muito complicado não, só me deu uma rouquidão cara, que eu nunca tive na vida.
A capa do CD faz a referência ao encarte do LP Eu Não Sou Santo, que Bezerra lançou em 1990, só que você trocou o revólver por um microfone. Você diria que essa é a sua maior arma?
Hoje em dia não dá mais para brincar com essas coisas e ter uma arma no estúdio ia deixar o clima pesado. Na real, esse encarte também faz referência ao meu último trabalho A Arte do Barulho, que fala muito dessa coisa de que a música é uma arma e tem muita expressão como protesto.
Como é a sua relação com a galera do samba?
Olha cara, acho que tenho mais amigos no samba do que no rock e no rap. No samba não tem essa coisa de você chegar e o cara ficar te medindo, olhando o tênis que você tá usando, olhando sua mulher. Me dou muito bem com todo mundo do samba.
Você é um usuário declarado de maconha, como é a sua relação com os seus filhos a respeito das drogas?
O Stephan, meu filho mais velho, já tem 18 anos. Ele é muito tranquilo cara, a única conversa séria que eu tive com ele, foi quando eu percebi que ela tava namorando, pegando a mulherada, aí chamei ele e falei: “Pô, tu tem que usar camisinha”. De resto cara, não proíbo nada não, só falo pra ele tomar cuidado.
Gente importante como o Fernando Henrique Cardoso tem defendido a legalização da maconha no Brasil. Você acha que isso está perto de acontecer?
Pra te falar a verdade, eu acho que vai legalizar, mas agora ainda não. Acho o Brasil muito conservador pra legalizar a maconha como a Argentina fez. Na minha opinião, só vai acontecer quando os países grandes, do G4 liberarem. Aí vai liberar aqui também.
Você já declarou algumas vezes que não gosta de votar. Você apoia algum dos candidatos a presidente desta eleição?
Acho que de todos que estão concorrendo, a Marina Silva é a que mais me agrada, acho ela sensata. Apesar de ser muito religiosa, acho que ela não mistura religião com política, gosto das ideias dela.