Enquanto as gravadoras tradicionais definham, marcas que originalmente nada tinham a ver com música estão investindo em estúdios de gravação e viabilizando lançamentos e a formação de novos artistas. “Aqui não é comercial. Não tem a neurose do estúdio, você funciona em função da música e não do dinheiro” afirma Rodrigo Carvalho Costa, o Funai, engenheiro de som da Red Bull Station, em São Paulo.

Funai diz que geralmente há uma tensão entre estúdios que naturalmente querem que o artista passe mais tempo gravando e mixando suas músicas, enquanto que artistas batalham para ficar menos e, com isso, gastar menos. O lugar é uma espécie de braço nacional do Red Bull Music Academy, projeto de formação de artistas por meio de palestras, práticas e vivências, que ocorrem em diferentes partes no mundo.

Veja de trailer de documentário da Red Bull Music Academy

“É muito difícil você ver coisas, que não seja de companhias, marcas, desse nível sendo construídas a partir de agora. Não tem mais dinheiro, nem dos independentes, nem de gravadora, onde ninguém mais trabalha, só os majors mesmo, que são poucos”, constata. Ele recebeu o Virgula Música enquanto mixava Faria & Mori. “É um som indie rock, está ficando bem legal o trabalho. É o mesmo pessoal do Aldo“, diz.

Em fevereiro, o projeto Converse Rubber Tracks, que há três anos promoveu a construção de um estúdio no Brooklyn, em Nova York, para gravar bandas e artistas novos, montou estúdios pop-ups em São Paulo e Rio para gravar 14 bandas em cada cidade. As sessões duram apenas um dia e a banda faz o que quiser com o material.

Time lapse da construção do estúdio da Converse, no Brooklyn

Na capital paulista, a reportagem conversou com o norte-americano Brad Worrell, gestor do projeto mundialmente. Ele estava no estúdio Family Mob, na Lapa. Brad trouxe com ele o venezuelano Hector Castillo, engenheiro de som da pesada, que trabalhou com nomes como Philip GlassBjork, Lou Reed e David Bowie.

“Uma coisa é que nós sempre fazemos é sempre trazer a equipe do Brooklyn para que eles trabalhem rápido e que tenhamos resultado para os artistas. Um dia no estúdio não é muita coisa, então eu acho muito importante trazermos nossos engenheiros conosco. Eles podem trabalhar bem rápido com os artistas”, afirma Brad.


Brad Worrell, gestor do projeto Converse Rubber Tracks 

O priojeto passou por cidades como Toronto, Montreal, Hamburgo, Cidade do México, Amsterdam, Bogotá e Panamá e revelou nomes ainda desconhcidos como My Midnigth Heart, Smokey Robotic, The She´s, Fresh Daily, Nota Sonotra e Lynette Williams.

“Na verdade, nós não fazemos nada com a música. A Converse tem plena consciência de que não quer ser um selo musical. Não queremos julgar a música, não queremos escolher favoritos, isso nem é cogitado, todo mundo é tratado de forma igual”, diz.

“Geralmente, a banda pega a música e faz o que eles quiserem. Se eles quiserem colocar em um disco, vender no iTunes, licenciar para um comercial, um filme, está tudo certo. Eles podem fazer o que quiserem”, explica o norte-americano. 

Tanto na Red Bull, quanto na Converse, a meta é proporcionar acesso a quem não teria como bancar. “Você dá uma oportunidade para quem está chegando de trabalhar numa estrutura que dificilmente eles vão ter acesso. Cada vez a mais a galera está trabalhando em casa, home estúdio, estúdio muito pequeno e acaba não tendo esse contato com esse tipo de estrutura, essa forma de trabalhar, afirma Funai diante do seu “xodó”, uma mesa analógica SSL: “É um puta som”, resume.

Brad também defende que a prioridade são os novatos. “Uma banda deve saber tirar vantagem de toda oportunidade, esta é uma oportunidade. Nós estamos aqui para ajudar bandas que não têm dinheiro. Não aceitamos bandas que tenham acordos com gravadoras. Em nosso estúdio do Brooklyn, nós recebemos artistas grandes, às vezes, eles podem usar o nosso estúdio B para ensaios, porque nós gostamos de mostrar o lugar para artistas maiores, mas mesmo se eles quiserem, eles não podem agendar o estúdio. Ele é para bandas desconhecidas que precisam de ajuda, essa é nossa missão. É assim que nós tentamos escolher a bandas”, afirma.

Ele revela também que usam como critério a proatividade dos canditados. “Tentamos pegar bandas que trabalham realmente duro, que fazem um monte de shows, que trabalha de verdade em mídias sociais como Facebook, Soundcloud, o que seja. Que pareçam ocupadas. Nós não julgamos a música. A música é a última coisa que a gente leva em consideração para selecioná-los”, dá a letra Brad.

Mãos à obra, jovens.


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Marcas investem em estúdios de gravação e viabilizam lançamentos de novos artistas

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