Tímido no começo e mais solto durante a entrevista, Pedro Paulo Soares Pereira, o emblemático rapper Mano Brown, a frente do Racionais Mcs, participou do Roda Vida da TV Cultura, na noite dessa segunda, dia 24.

Questionado sobre política, drogas e sua vida pessoal, o rapper se mostrou bastante aberto às respostas, contrariando a imagem carrancuda que criou na mídia.

Um dos pontos altos de sua entrevista foi logo no início, quando mostrou seu apoio aberto ao presidente Lula, em relação aos últimos escândalos de corrupção envolvendo seu partido, o PT.

“O Lula está certo. Não é da índole dele entregar um amigo que errou. Se provarem que o cara estava errado, aí tem que punir, mas ele não entregaria”.

O vocalista contou que acha que deve haver igualdade para todos, mas que não se considera um socialista. Um momento curioso foi quando o rapper elogiou muito a ex-prefeita de São Paulo, Marta Suplicy. Falou bem dela e do CEO (unidades que são escola, centro poliesportivo, biblioteca e que estão nas periferias de São Paulo) e disse não entender como ela pôde não ser reeleita. Contou que conversava com os amigos que iriam votar no concorrente. Brown falava: “Você vai votar no Serra??”. Isso tudo em plena rede de TV que pertence ao Governo do Estado de São Paulo, que hoje tem José Serra como governador (ele renunciou à prefeitura depois de ter tomado posse).

Para os “playboy”

Um dos temas que muitos gostam de especular sobre o som dos Racionais e quanto a música que fazem, é terem atingido a classe média.

Quando questionado sobre a ascensão que seu grupo teve, Mano Brown foi bastante categórico e falou: “Existe a classe média decadente e a emergente. Os decadentes precisam conhecer o mundo ao redor, desde o porteiro até o motoboy. Então, não é somente o rap dos Racionais que faz parte desse mundo. Eles precisam saber o que os cercam”.

“E outra, eu não vou colocar nos meus discos um aviso: ‘Proibida a venda para ‘Playboy'”, disse o rapper.

Em alguns momentos, o discurso de Brown foi bem polêmico, com ele quase que justificando a atuação de assaltantes de bancos e traficantes. “A sociedade é criminosa, é omissa. A lei não é para todo mundo”. Ele falou sobre isso se referindo à falta de condições que a sociedade dá às pessoas e que muitas vezes esta é a única opção que elas têm de ter alguma espécie de dignidade. Outro momento polêmico foi quando o cantor relativizou o uso da maconha em relação ao álcool, um é proibido e o outro não. “O que faz mais mal, o álcool ou um cigarro de maconha?”, perguntou. Brown também chamou o traficante de “comerciante”. Segundo ele, há muito preconceito ainda sobre a periferia e os pobres em geral. “A favela é o lugar onde tem menos violência porque tem o controle da população. A polícia é inimiga da favela”.

Ainda, o mesmo

Ao perguntar sobre quem era Mano Brown, um dos entrevistadores presentes no programa comparou o rapper a Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, dizendo que esse havia criado uma personalidade, o Pelé, para a mídia.

Então o jornalista perguntou ao rapper se ele, Mano Brown, seria o mesmo que Pedro Paulo Soares Pereira.

“Mano Brown e Pedro Paulo são os mesmos. A única coisa que mudou é que hoje tenho uma estrutura boa para viver. Comprei minha casa com meu dinheiro, em vez de, como muito rapper por aí, gastar no boteco ou nas baladas”.

Brown também falou um pouco sobre sua música. Disse que ouve Jorge Ben Jor, Cassiano, Tim Maia, Bebeto e sempre em suas fases de início de carreira. Para ele, “o rap não precisa apenas falar sobre realidade, tem que ser livre, mas sempre espontâneo”. O cantor também comentou sobre seu processo de composição: “Escrevo por necessidade, preciso plantar para comer. Escrevo de dia, à noite vou para a rua. Não preciso de praia, não. Inspiração é 10%, não vem toda hora, tem que praticar”. A questão da pirataria também foi relativizada: “Os pirateiros ajudam a divulgar minha música e são trabalhadores”.

Sobre si mesmo, Brown falou muito pouco. Disse que o Santos o tira do sério, o que arrancou alguns risos dos entrevistadores. Contou que não gosta de falar sobre sua família para não expô-la e que não é um pai presente. “Não sei ser presente”. Revelou que chorou discretamente quando o rapper Sabotagem foi morto e que estudou apenas até a 8ª série. Não fez o antigo colegial porque “não gostou”, apesar de acreditar que isso não tenha sido uma boa coisa para ele.

Perguntado sobre qual a solução para o país, Brown disse apenas: “Não sei qual a solução e não sou um exemplo para ninguém”.

Mediados pelo jornalista Paulo Markun, os entrevistadores da noite foram: Maria Rita Kehl (psicanalista); Paulo Lins (escritor); Renato Lombardi (comentarista da TV Cultura); Ricardo Franca Cruz (editor-chefe da revista Rolling Stone Brasil); José Nêumane (editorialista do Jornal da Tarde e comentarista da Jovem Pan e SBT) e Paulo Lima (revista Trip).

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Mano Brown derruba imagem de carrancudo e defende presidente Lula