Gui Boratto foi de aposta a maior nome da música eletrônica brasileira, em poucos anos. Hoje, ele é requisado para festivais no mundo inteiro, não raro como headliner e não apenas em festivais só de música eletrônica.
Em entrevista ao Virgula Música, ele diz que esta aceitação fora do país e além do seu gênero de origem não foi planejada. “Jamais, nunca pensei nisso. Minha música vem de um processo criativo completamente inconsciente. Sem regras ou estilos”, afirma.
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Com sua projeção internacional, ele vê a torcida contra a Copa e a Seleção como um distorção. “Acredito que a cultura de nosso país é um reflexo da economia, problemas sociais e o que carregamos da nossa história. Mas vamos ser mais otimistas e torcer pelo nosso país. Não só pelo futebol, mas por todo o resto. Sempre fui muito otimista. Acho que ao invés de torcer contra, que tal votarmos com mais consciência?”, sugere.
Leia a conversa com Gui, que lançou recentemente seu próprio selo e já começa a alimentar o mercado global com nomes novos da cena brasileira.
O que te levou a criar o selo D.O.C., sente que ainda é algo que falta para a cena?
Há anos que meu amigo e parceiro Michael Mayer, label boss da Kompakt, vem sugerindo a possibilidade de abrir meu próprio selo, minha própria plataforma e “vitrine” de novos artistas.
Na verdade, acho que nesse mercado, o que mais existe são selos novos. A maior parte deles, irrelevantes. Acho que por esse motivo relutei tanto a dispor do meu tempo para por em prática uma operarão como essa.
A maioria dos selos pequenos de hoje, além de bem segmentados, não estão preocupados em lançar novos artistas, mas músicas, singles avulsos. Exatamente por isso são específicos e segmentados como mencionei.
Nossa intenção é de colocar no mercado novos talentos, novos nomes. O D.O.C. tem a filosofia de lançar música de qualidade, sem a preocupação de atingir metas, vendas, números, nomes famosos, etc.
Não estamos preocupados com um estilo específico. Acreditamos que existe música boa em todo lugar. Afirmo que o D.O.C. é uma plataforma de música do tipo “degustação às cegas”. Claro que aqui estamos falando de techno como linguagem mãe. Mas com suas inúmeras vertentes.
Fale um pouco sobre os primeiros lançamentos e os próximos?
O D.O.C.001 é do duo de catarinense Elekfantz, Diggin’ On You, com remixes do Solomun e meu. Elekfantz tem um lance de banda, indie, simples. É o tipo de som que já nasceu clássico. São poucos elementos. Um som bem orgânico. Com instrumentos tocados, baixo, batera, guitarra e vocal. Sem synths marcantes e datados.
A recepção dele no mercado foi maravilhosa. Vi e ainda vejo muita gente tocando Diggin’ On You. De artistas pop a mais conceituais. Esse som não tem data pra ficar velho. Acho que nunca irá.
Já o D.O.C.002, é o projeto curitibano Shadow Movement. Dois meninos novinhos, de cerca de 22, 24 anos. Realmente, não esperava o barulho gigantesco que está fazendo. O lado “A” chama-se I.D. Muita gente tocando e dando suporte. Desde o proprio Michael Mayer, até Tale Of Us, Maceo Plex, HOSH, Solomun, entre outros.
O D.O.C.003 será o album de estreia dos Elekfantz. O 004 vai ser provavelmente o Mixhell, do Iggor Cavalera e sua mulher, Laima.
Bom, se voce prestar atencão, todos eles são bem distintos um do outro. Isso é importante para mim. Ter essas peculiaridades e personalidades. Sem aquela coisa de “tudo igual”.
Qual é a porcentagem aproximada das suas gigs entre Brasil e exterior?
Há anos, venho dividindo minhas gigs entre Brasil e exterior de uma forma que não fique demasiadamente fora, longe da minha família, nem muito estagnado no Brasil. Acho melhor dizer que tenho um grande público em certos países, como Holanda, França, Alemanha e, claro, Brasil.
Faço aproximadamente 150 apresentações por ano, divididas em pelo menos uma tour nos Estados Unidos e Canada, Ásia e umas três tours na Europa. Isso depende também do que estou fazendo no momento, já que fico muito em estúdio produzindo minhas músicas, desde álbuns, remixes e até outros artistas.
Como você está sentindo a percepção da Copa, está mais forte fora do Brasil?
A Copa é um evento mundial. Todos só falam disso. Conheço muita gente na Europa que não acredita que estou, mais uma vez, indo pra mais uma tournê de verão. Longe do Brasil. Vejo ao mesmo tempo, muitos brasileiros descontentes com questões políticas e sócio-econômicas e “torcendo” contra nosso time querido.
Acredito que a cultura de nosso país é um reflexo da economia, problemas sociais e o que carregamos da nossa história. Mas vamos ser mais otimistas e torcer pelo nosso país. Não só pelo futebol, mas por todo o resto. Sempre fui muito otimista. Acho que ao invés de torcer contra, que tal votarmos com mais consciência?
Você é bastante requisitado para festivais de música até mesmo em eventos que não são apenas de música eletrônica, frequentemente aparece como headliner, isso é algo que você procura alcançar na hora que produz suas músicas?
Jamais. Nunca pensei nisso. Minha música vem de um processo criativo completamente inconsciente. Sem regras ou estilos. O resultado final é sempre fruto do que vivo naquele momento. Posso até dizer que quando faço algo introspectivo é justamente aquilo que estou vivendo.
Quais são suas primeiras memórias em um club e como isso influenciou sua música?
Nunca vou me esquecer de ter escutado M.A.R.R.S., Pump Up The Volume ou Yazoo, Situation, no Rose Bom Bom. Como guitarrista de bandas que tive no colégio, digo que comecei a largar um pouco a guitarra e acrescentar teclados nas minhas musiquinhas que compunha na época.