”Eu tive uma vida muito diversificada em termos de cultura e música. Tive uma relação com o Bexiga (bairro de São Paulo que abriga o barracão da escola de samba Vai-Vai) muito forte. Foi lá, aos oito anos de idade, que eu conheci o samba. Amava o clima da bateria e o clima da malandragem que existe no samba”, conta Luisa Maita, em entrevista por telefone para o Virgula Música.
Dona de uma voz suave e doce, porém carregada de emoção em sua interpretação, a paulistana de 28 anos mudou-se com a mãe para um sítio no extremo da zona Sul de São Paulo, ainda menina.
Filha de Amado Maita, músico falecido em 2005, e da produtora musical Myriam Taubkin, Luisa Maita cresceu em um refinado e eclético ambiente musical. Os tios, Daniel Taubkin, compositor e cantor de carreira internacional, e o pianista Benjamim Taubkin, criador do selo Núcleo Contemporâneo, eram presença constante na sua infância e adolescência.
”Eu morava em um sítio tínhamos muitos vizinhos músicos como Guilherme Vergueiro e Léa Freire. Nessa época comecei a ouvir Dorival Caymmi, João Gilberto e Gal Costa. Acho que também veio dessa fase a minha forte relação com a periferia. Eu soltava pipa, brincava na rua, incorporei todo esse ambiente e agora uso isso em minhas composições”, explica a cantora.
Luisa faz parte de uma nova geração de cantoras e compositoras que emergem em São Paulo. Ao lado de Céu, Tulipa Ruiz, Karina Buhr, Tiê e tantos outros nomes, a cantora tem o samba como raíz de seu trabalho, mas sem medo de experimentar. O pop, a ciranda e bases eletrônicas são elementos marcantes em sua sonoridade.
“Meu pai tinha uma paixão enorme por Michael Jackson, eu ouvi muito pop quando era adolescente e acho que isso teve uma grande importância no resultado do meu trabalho”, revela.
De cantora de barzinho aos Trovadores Urbanos
Mesmo com todo esse ambiente, a paulistana não seguiu logo de cara os rumos de sua mãe: “Gosto dessa coisa marcante de expressão de palco e acho que a música não traz esse elemento tão forte quanto outros meios. Fui fazer teatro e depois fiz dança contemporânea, mas não me adaptei a esses espaços. Então comecei a fazer aulas de violão e a compor”.
“Também fiz parte dos Trovadores Urbanos, cantava em qualquer lugar, dávamos voltas pela cidade, foi um trabalho muito recompensador. Íamos cantar em festas nos Jardins e depois a gente ia até uma comunidade no Pico do Jaraguá. Era louco e delicioso.”
Lançamento nos Estados Unidos
Seu disco de estreia, intitulado Lero-Lero, é basicamente autoral, fala muito de amor e sobre a vida em São Paulo.
Lançado primeiro nos Estados Unidos, pelo selo Cumbancha, e posteriormente no Brasil, pelo selo Oi Música, o trabalho foi muito bem recebido pela crítica norte-americana. O álbum fez muito sucesso no iTunes e acabou por impulsionar uma turnê de 17 apresentações pela América do Norte.
“Existe nos Estados Unidos um público que absorve essa nova música contemporânea. Essa vertente é um novo nicho musical, gosto de chamar de música pop contemporânea. Que mescla bases eletrônicas, influência do pop e é carregada de contemporaneidade, essa coisa de grandes centros urbanos”.
E aqui no Brasil, como vai a receptividade de seu trabalho? “Aqui as coisas são diferentes, mas acho que tenho conseguido o que queria. As pessoas gostam do álbum e a divulgação está rolando pelo próprio público, uma vai passando para o outro. Esse era meu objetivo, não ser uma coisa apenas de um público especializado.”
Voz das Olimpíadas de 2016 e a nova safra da música em São Paulo
Antes de lançar Lero-Lero, Luisa foi convidada para regravar Cidade Maravilhosa e Aquele Abraço, canções que fazem parte dos vídeos da candidatura do Brasil para sediar as Olimpíadas de 2016. Os vídeos foram dirigidos pelo cineasta Fernando Meirelles e tinham mesmo a intenção de “tocar o coração dos representantes do Comitê Olímpico”, revelou Meirelles em entrevista.
Vinda do efervescente cenário musical do Baixo Augusta, em São Paulo, Luisa considera que faz parte de uma nova geração que tem grande influência da música pop e da forte indústria da música que teve seu auge nos anos 80 e 90.
“Somos todas da mesma geração, somos pessoas que vivemos os anos 80 e levamos toda essa carga e formação musical. Eu me identifico muito com a Karina Buhr, a Tulipa, Mariana Aydar e Jeneci, a nossa música não é igual, mas pensamos da mesma maneira. Eu consigo enxergar de onde eles tiraram a inspiração para a produção de seus trabalhos, é uma coisa que eu vivi também”, enfatiza.
“Acho que podemos classificar o som de toda essa galera como a música pop contemporânea. Desde o som da Céu, Curumin e Beto Villares, que são pessoas que eu sou muito fã, até as novas vozes e compositores como o Léo Cavalcanti. Me apaixonei por essa estética, essa história de que tem o samba, o pop, o groove e o eletrônico, tudo convivendo em perfeita harmonia ”, conclui Luisa.