Loucos por festivais
Em O Sonho Acabou, música de Expresso 2222, de 72, Gilberto Gil já avisava: “Quem não dormiu no sleeping bag nem sequer sonhou”. Para aqueles que pensavam que o fim do movimento hippie levaria com ele uma de suas maiores expressões, as novas gerações já mostraram que enquanto houver som alto, multidões, lama e disposição, os festivais estarão sempre aí.
“O perrengue é uma das coisas legais dos festivais e de ser estar nesse ‘mundo’. Depois que sua banda favorita sobe ao palco, faz aquele show, a sensação é a melhor possível, é de recompensa por todo o esforço, pra ficar ali, na grade… Só conversando com quem vai a shows pra saber, só estando ali pra descrever, porque melhor que ouvir um relato é poder estar lá e presenciar”, defende Rafael Oska. Colar na grade é um dos troféus que um louco por festival almeja.
No fim do mês, nos dias 28, 29 e 30, o Lollapalooza abre uma série de eventos que levantam a ansiedade e faz com que muita gente se conecte, mesmo que seja em torno de uma espécie de “seita” para ganhar ingressos.“Em 2010, via a rede social Last.fm, conheci virtualmente um pessoal na ”shoutbox” do SWU, formamos um grupo no Facebook (somos em 32) e nos especializamos em ganhar promoções para shows dos mais variados portes, nós temos até uma contagem de ingressos ganhos, acho que passando dos 350, brincamos que é quase uma ‘seita’, nos conhecemos todos pessoalmente no Planeta Terra 2011”, conta.
“Depois de ganharmos a promoção Busão Trident, que dava 30 ingressos mais ou menos, passavamos noites em claro votando… e geralmente é com essa mesma galera que vou aos shows/festivais, todos com a paixão pela música e shows em comum”, diz Oska.
Marina Filippe também tem uma história parecida. “Quando os ingressos do Strokes no festival Planeta Terra esgotaram em poucas horas passei os próximos meses concorrendo a todas as promoções que via. No fim, consegui ingresso para mim, para alguns amigos e ainda um par para vender”, diz Marina Filippe.
Animado com anúncio e Explosions In The Sky, no Sónar, Rodolfo Yuzo ainda aguarda “algo como Spiritualized, The xx ou Arcade Fire“, esta última, sua banda favorita. Ele diz que nunca fez nenhuma loucura para estar em festivais, “além de gastar uma puta grana”.
Entre seus momentos memoráveis, ele cita um show do Pavement. “Talvez o único momento que tenha apertado meu peito e me feito quase capotar foi a grade no Pavement. Ver Stephen Malkmus cantando hinos como Shady Lane, Stereo, Cut Your Hair e Range Life me fizeram ficar tenso”, aponta.
Para Fernando Galassi, o Lollapalooza tem se mostrado como “o mais focado no quesito bandas que o povo quer ver”. “Assim que soube que The Black Keys viria, já quis comprar o ingresso na hora”, conta.
Ele diz que a maior roubada que se meteu foi ter ido para “um típico festival de nível nacional que prega a sustentabilidade. Infraestrutura muito fraca, seguranças despreparados, filas intermináveis pra tudo. O local era bom, porém faltou pensamento estratégico e ações assertivas pra que tudo corresse minimamente bem critica, provavelnente se referindo ao SWU.
Oska discorda: “Defino o SWU 2010 como épico! Por vários motivos, mas em especial: line-up, local e atmosfera do lugar, Fazenda Maeda, Itu”, enumera, antes de citar os “perrengues” que entraram para sua memória afetiva. “Dois dias sem dormir direito, comer, tomar banho, dormir na rodoviária em Itu, com pouco dinheiro, sol forte, tudo pra se chegar cedo, entrar logo que os portões se abriam e tentar um lugar na grade em frente ao palco, ficar ali 8 horas, 10 horas, 12 horas em pé sem poder ir ao banheiro, pra não perder o lugar, sem beber nada, pra não dar vontade de ir ao banheiro, e num calor de 30ºC durante o dia e um frio de 8ºC à noite (numa reviravolta louca no tempo) não é pra qualquer um”.
Não devia ser fácil para os hippies e continua não sendo hoje. Mas talvez a graça seja esta.