So você é um DJ que vai se apresentar para crianças, experimente não tocar Gangnam Style, o megahit de Psy, para ver o que é bom. O DJ Cia, atração da Disco Baby no Lollapalooza neste sábado (30), às 16h30, sabe bem e já está escolado. 

“A molecadinha é exigente, né? Se você não tocar o que eles estão pedindo, eles ficam te vaiando, até você tocar. Aí junta uns 20, 30 na sua frente pulando e pedindo a música”. conta o DJ de Mano Brown, do Racionais MCs, no projeto Boogie Nights e que ficou conhecido no RZO e nas parcerias com Caetano Veloso, Charlie Brown Jr., Elza Soares, Seu Jorge.

Também produtor, com um disco dos Racionais em andamento, Cia, cujo nome é Jeferson e tem 39 anos, conversou com o Virgula Música mostrando-se franco e crítico à visão dominante no mercado brasileiro. Para ele, a internet acabou com as divisões no mundo da música. “A internet deu abertura para todos os estilos. Porque hoje o cara que ouve um funk, ele vai num rap, do rap ele vai no samba, do samba ele vai dançar um forró.”

O que o pessoal pode esperar da sua apresentação no Lollapalooza?

Pimeiro, quando a gente vai tocar em lugar assim, faz um raio-X de quem vai estar lá. A primeira vez que eu fui fazer a Disco Baby, já me passaram que ia ser para criançada, tinha um monte de criança, mas tinha gente adulta também e acabei rolando um som para criançada. Estas músicas que eles gostam de ouvir, que tem a ver, que está rolando nestes programas infantis, tocar som para quem estiver lá na pista.

E a criançada gosta de que tipo de som? É difícil agradar às crianças?

Eu vou falar pra você que a primeira vez que eu participei da Disco Baby foi uma parada muito louca porque a molecadinha é exigente, né? Se você não tocar o que eles estão pedindo, eles ficam te vaiando. Até você tocar. Aí junta uns 20, 30 na sua frente pulando e pedindo a música.

Na época lá, tiver que tocar umas quatro vezes aquela Gangnam Style lá.  E é deste jeito aí, a molecada é exigente. Está ouvindo estas músicas e às vezes te pega até de surpresa. Porque você fala, vou tocar Xuxa, Mamonas Assassinas. Tem, hora que não dá certo não, viu? A molecadinha está bem atual.

E você vai fazer um live lá também, é isso?

Eu convidei uns amigos que estão fazendo som comigo e vão tirar uma onda lá na brincadeira com a molecada. Mostrar para eles como que é uma parada de música no instrumento, conhecer uma guitarra, um teclado, um toca-disco, um MC rimando, para ele ter uma visualização do que é a música, ela sendo feita ali ao vivo. Que é diferete do que só ouvir na rádio um som e sair dançando.

É um trabalho para o futuro?

É importante, se tivesse sempre a oportunidade de fazer um trabalho pra criançada ia ser bem importante. Porque é uma parada que deveria já ter na escola. Ter música. Então a gente fica feliz pela oportunidade de levar música para criançada, pra eles terem uma visão, um outro caminho, de repente um moleque quer jogar bola, outro quer ser músico, outro quer ser médico. Você dar a chance para o moleque ter escolha.

A sua experiência como DJ te ajudou a pensar nesse live?

Eu já toquei e toco com Caetano Veloso, Charlie Brown Jr., Elza Soares, que é banda, hoje estou fazendo participação no show do Seu Jorge também que é com banda gigante.

É bem gostoso fazer som ao vivo. E de estar na estrada, a gente gosta de fazer música. Para gente acaba sendo fácil.

Você é produtor também? Pensa em gravar um disco?

Sou produtor, pô. Estou produzindo agora o disco do Racionais.

Que legal.

Estou lançando agora uns artistas aí, lancei outros também no passado, lancei o Função RHK, a gente na época fez o disco do Sabotage, Elza Soares, do Visão de Rua, com Dina Dee, RZO, o álbum do RZO Evolução é uma Coisa eu fiz, estou fazendo Boogie Nigths que é um projeto do (Mano) Brown, junto com ele.

Estou fazendo um disco internacional, já tenho algumas músicas gravadas com artistas de fora, tem alguns artistas até de nome. Estou produzindo um moleque novo, uma molecada teen aí, o Rzilla, eu vou levar ele lá para fazer um som. Tem um monte de coisa que eu estou fazendo.

Algumas já saíram na internet, outras estão em segredo ainda. Tem também o 3 Horas que é som mais pra clube, que é bem legal, a rapaziada de Pirituba. Tem Flora Matos, não sei se você conhece.

Conheço.

Fiz música pra ela, estou fazendo o disco dela.

Estou envolvido com o pessoal da Baguá Records, que é uma gravadora que agora está apostando no hip hop nacional, está bem forte, Túlio Dek. Tem um monte de gente com quem eu tô trabalhando.

E como você está vendo o mercado hoje? Ele está bem misturado, uma coisa se misturando, parece?

Ah, mano, o lance é a internet, né? A internet deu abertura para todos os estilos. Porque hoje o cara que ouve um funk, ele vai num rap, do rap ele vai no samba, do samba ele vai dançar um forró.

A internet ligou todo mundo. As redes sociais. O cara conhece uma mina, ele não quer saber o que essa mina ouve, não. Ele vai atrás da mina. Se ela estiver curtindo axé ele vai lá no axé.

E ideia de disco, você pensa em fazer um álbum do Dj Cia mesmo?

Estou fazendo meu disco, terminando, tenho participações de pessoas com quem eu trabalhei, alguns destes que eu falei pra você os nomes, Caetano, Elza, estou conversando com eles para fechar a participação. Racionais, um monte de gente legal que já está envolvida no disco. Só falta finalizar. A gente sempre tá naquela, nunca tá bom. Mas tem uma porção de música pronta.

Por que você acha que no Brasil não é como lá fora em que os produtores têm mais valor? E que mesmo artistas do mainstream estão sempre indo buscar caras que fazem som experimentais?

Primeiro, no Brasil as pessoas nunca falam a verdade. Vai mostrar um som pra você, ele pergunta se o som tá bom, se o som tiver ruim ele não vai falar que tá ruim, o cara vai falar que tá bom… Tudo tá bom. Nada tá ruim. Tudo tá bom nesse país. Na música, tá tudo bom.

E lá fora é diferente porque você faz música lá, a música te dá um resultado rápido. Porque lá se você lançar uma música hoje, ela vai rodar o mundo inteiro. E no Brasil, pelo menos no segmento hip hop, ele depende da cidade onde ele atua. O axé atua lá no norte, algumas coisas vem pra São Paulo.

Na época passada, o rap também falava de muitos temas que era o que acontecia, tipo política, polícia, discriminação. Hoje as coisas estão mudando, é que nem eu falei, a internet está ligando as pessoas, tem gente fazendo música com outros estilos. Na época, o Kamau fez com o pessoal do sertanejo, se não me engano com Chitãozinho & Xororó, o RZO fez com Charlie Brown Jr.. O Emicida fez com Skank agora. As coisas estão caminhando.

Aqui ainda o mercado é fechado, o pessoal tem a cabeça pequena. Se você for para uma gravadora mostrar um som, por exemplo uma produção que eu tô fazendo, os caras vão dizer que é muito atual, que é muito gringa, que é muito parecida com as coisas lá fora. E aqui as coisas tem que ser tudo igual. É tudo muito simples, violãozinho ali, uma batidinha quadrada, um refrão meladinho, entendeu?

E acaba prendendo as coisas, você vai fazer um som muito bem construído, cheio de efeito, a rádio muitas vezes não entende. A gente que esperar o que, os filhos dos donos tomarem conta, que esses filhos é quem está ouvindo o que a gente está fazendo.

Ou então o negócio estourar lá fora e o pessoal dar valor aqui.

É o que eu tô fazendo, por isso que eu tô fazendo músicas pros caras lá fora, porque assim é que vai acontecer. Porque se eu fizer uma música com um cara famosão lá fora, a música bater no mundo inteiro, aí bate aqui. Os caras vão falar, pô, o Cia é foda. Ou então se acontece, infelizmente uma tragédia, só se dá valor depois que vai.

Como o Sabotage?

No caso o Sabotage, ele tava fazendo o filme, tava toda hora na TV fazendo música. Infelizmente, para nós que vivemos com ele, conhecemos toda a trajetória, nego passou a falar de Sabotage depois do que aconteceu. Infelizmente, como outros artistas aí que a gente acaba perdendo e depois nego dá valor.

Enquanto tá fazendo sucesso ou fazendo uma correria, tem um público, tem um respeito, faz um trabalho sério, nego não enxerga. Difícil, o Brasil é difícil e aí a gente tem que ficar sempre batalhando. E sempre ficar mais forte, trazendo mais gente pra somar com a gente. A mídia, pessoas que dão espaço para poder levar a mensagem para estes caras que estão tomando conta do sistema musical, gravadora, rádio.

Ouça o DJ Cia

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