Talvez o mistério esteja atrás das montanhas, mas há tempos que Minas Gerais surpreende quando se fala em música alternativa, seja pela fato de uma cidade sem praia ser a capital brasileira da surf music, os muitos projetos de música eletrônica em diferente vertentes ou ainda sons instrumentais como Constantina e GA Barulhista. O lance ali é doido, sô!
Quem aparece agora é Jonathan Tadeu, que está lançando seu primeiro álbum solo, Casa Vazia. O cara é integrante do coletivo artístico mineiro Geração Perdida, grupo com músicos, poetas e artistas visuais. Jonathan também é fotógrafo, videomaker e já fez registros de outros bons nomes da nova cena como Lupe de Lupe, Nobat e Aldan.
Além de compor e arranjar todas as músicas de Casa Vazia, ele fez também o projeto gráfico, assinando a autoria de todas as fotos, da capa e do encarte. Pelo menos para as minhas referências, Jonathan ecoa um pouco a Sufjan Stevens, gênio que soltou este ano o discaço Carrie & Lowell (Asthmatic Kitty) e ainda dialoga com o chill-wave, gênero de Neon Indian, Toro y Moi, Washed Out, Panda Bear e Animal Collective, entre outro.
Ouça Jonathan Tadeu
Nós trocamos uma ideia com Jonathan e ele falou sobre o seu processo e suas influências:
Você faz parte de um coletivo? Fale um pouco sobre ele e a cena Lo-Fi de BH. Por que decidiu fazer um trabalho solo?
A Geração Perdida de Minas Gerais é um coletivo artístico formado por escritores, músicos e artistas plásticos, que produzem arte de forma colaborativa. Neste caso, o “colaborativo” é um pouco mais forte e sincero, pois antes de sermos coletivo, somos muito amigos. Não se trata de um coletivo com líderes, regras e reuniões. São simplesmente amigos tentando fazer e viver a própria arte.
Acho difícil afirmar que existe uma cena em BH, ainda mais Lo-Fi. Pelo menos, no nosso caso, acho que o lo-fi é só uma consequência. A gente compartilha de uma inquietude muito grande quando o assunto é criação e fazer arte no brasil custa caro, muito caro. Ao invés de esperar por patrocínios, leis de incentivo ou falir pedindo empréstimos, nós criamos com o que temos disponível. Gravamos no estúdio caseiro de um membro, fazemos a foto do encarte com outro, vamos nos ajudando da maneira que dá. Foi por causa dessa inquietude que eu optei por um disco solo. Quando se está numa banda o processo é muito mais lento e caro. Eu sempre quis o contrário disso. Eu queria produzir mais, com a mesma dedicação, mas eliminando todas as partes burocráticas.
O disco é bem emocional e confessional, acha que está rolando uma tendência?
Engraçado, dia desses eu até fiquei pensando nisso, pois meus últimos discos favoritos são bem confessionais. mas se você fizer um retrospecto, é fácil encontrar discos confessionais em qualquer época da música. Sempre existiram compositores voltados prum lado mais introspectivo. Desde Leadbelly nos anos 30 até o Sufjan Stevens dos anos 10s.
Quais são seus heróis musicais?
Eu não tinha uma boa guitarra decente quando a minha banda gravou o primeiro disco e os meus primeiros videoclipes foram filmados com equipamento emprestado e orçamento zero. Mas eu fiz assim mesmo. Foi o tal espírito do it yourself que salvou a minha vida. Quando eu vi um Kurt Cobain no auge da fama, avacalhando todo o mainstream e batendo na tecla do Faça Você Mesmo E do Jeito que quiser, a minha mente explodiu. Elliott Smith, Cat Power, Sparklehorse, Pavement, Nick Drake, foram artistas que me influenciaram de forma decisiva. Foi com esse pessoal que eu aprendi que o mais importante numa música é a capacidade de contar uma história da forma mais honesta possível. Não é a estética que emociona as pessoas. A música tem que vir primeiro.
Que outros nomes da música atual mais gosta e indica?
Ah, tem muita coisa boa saindo por aí, sempre. O discos mais criativos e geniais dessa década são de rap. Tenho escutado muito o novo do Tyler The Creator, o disco do BADBADNOTGOOD com o Ghostface Killah e o último do Kendrick Lamar, o disco que ninguém vai conseguir bater.
De música brasileira, eu recomendo muito o novo EP dos paulistas da Ombu. Um post-rock meio abrasileirado e lento, muito lento. Aconselho que fiquem de olho nos novos discos do Nobat e da Aldan, artistas amigos que cresceram comigo e estão passando pelo mesmo processo de transição artística.
Você também é fotógrafo e videomaker . De que maneira as imagens influenciam sua música?
Acho que tanto na música quanto nos vídeos que produzo eu tento ser o mais direto possível. Gosto de ir eliminando todas as camadas possíveis até deixar o artista completamente exposto. É quase o mesmo processo que eu uso na música. Quanto menos abstrato, melhor.