Em tempos em que Beyoncé leva a questão do negro para o pop, é de se pensar o papel que Lionel Richie teria, dentro dos grandes compositores norte-americanos, onde figuram Michael Jackson, de quem Richie foi parceiro e ídolo, e Stevie Wonder. Alguém duvida de que eles sejam tão importantes quanto Cole Porter, os irmãos Gershwin, Rodgers e Hart e Irving Berlin?
No encerramento da passagem da All the Hits All Night Long Tour pelo Brasil, Richie faz o mesmo show de sempre, com as mesmas piadas e encontrou uma plateia com uma vibração elétrica, em uma torrente de memórias afetivas. Enterteiner, e sem sentir o peso dos 66 anos, ele correu de um lado pro outro e suou a camisa. Derretendo – calor ou emoção? – , o público agradeceu à catarse proporcionada pelo ídolo. “Valeu a pena pagar R$ 700”, entreouvi de uma senhora na saída.
O repertório de Richie se apóia em hits oitentistas como Stuck On You, Penny Lover, All Night Long e Hello, pedradas dos Commodores, como Easy, Brick House, Three Times a Lady, Still e Fire, dos Ohio Players.
Em certo momento, o showman diz que convidou Diana Ross para cantar a próxima música e faz suspense para em seguida, gracejar dizendo que ela não aceitou. Dito isso, o público assumiria o papel dela em Endless Love: “Quem precisa de uma Diana Ross se eu tenho duas mil aqui em São Paulo?”, brinca.
Como o líder de um culto, Richie conduz o ginásio a um êxtase religioso. Impassível, um senhor japonês ao meu lado balança o pescoço e sorri. Ao redor, lágrimas rolam aqui e ali. Dizem que quando a gente morre, um filme passa pela nossa cabeça. Assistir a Lionel Richie tem um efeito parecido. Pelo menos foi o que aconteceu comigo.