Lançando nova música, Thami fala sobre feminismo e representatividade

A cantora Thami lançou na última sexta-feira (24) seu mais novo hit. Intitulado “Hoje Eu Quero”, a música busca mudar a perspectiva que normalmente temos dos encontros amorosos, mostrando uma mulher decidida e livre idealizando o seu próprio date.

Em conversa exclusiva com o Virgula, a cantora falou um pouco sobre o novo lançamento. Ela também aproveitou para falar sobre o “Baile da Thami”, que teve sua primeira edição e foi idealizado como um espaço para a difusão da voz de artistas negros.

Virgula: Como foi idealizar e produzir o “Baile da Thami”?
Thami: O baile surgiu da necessidade de ocupar espaços.

O trabalho digital está bem bonito e estamos nos consolidando, mas sei que como artista, preciso estar mais próximo do público. Sinto a necessidade de passar mais tempo no palco.
Após a pandemia, os poucos lugares que sobreviveram estão dando espaço para os artistas mais consolidados. Como estava encontrando dificuldades de acessar os palcos e os festivais, eu decidi criar meu próprio acesso, fazer o meu show, abrir o meu espaço e consequentemente abrir espaço para outros artistas também. Por isso minha prioridade tem sido eu mesma e artistas como eu, pretos, independentes, que ralam todos os dias, incansavelmente para conseguir uma oportunidade. O baile não é só uma festa, é resistência.

 Como vocês estão planejando fazer para dar continuidade ao baile?

Estamos procurando parceiros, investidores, pessoas que acreditem em artistas independentes, que abracem esse movimento!

Eu não tenho medo de botar a mão na massa, de fazer acontecer, se tiver que fazer sozinha, eu vou fazer, mas é sempre mais fácil e mais leve quando se trabalha em conjunto. Nessa primeira edição contamos com uma rede de apoio muito legal, tivemos a Baermate que acreditou no projeto e abraçou o baile para que ele acontecesse. Agora queremos mais marcas assim, mais apoiadores, queremos fazer a segunda edição e vamos fazer! Isso é uma certeza.

De onde surgiu a ideia de lançar uma música como “Hoje eu quero”?
Eu recebi um beat do Theo (que também produziu a faixa) e pirei, achei muito swingado e pra cima. Na hora falei: Tudo a ver com a energia do baile, vou fazer uma música pra lançar lá. Tínhamos pouco tempo, mais precisamente 2 semanas para fazer, produzir, mixar, masterizar e subir nas plataformas… hahaha. Foi uma loucura, mas deu certo!

Eu lembrei de uma conversa com uma amiga onde ela falava da dificuldade de aprofundar com alguém por ser autêntica e sempre tomar a iniciativa, ela dizia que assustava os homens. Então resolvi falar sobre date organizado por uma mulher.

Estamos no século 21, não é possível que isso ainda seja uma questão.

O mundo precisa normalizar mulheres poderosas, cheias de personalidade. O mundo é das mulheres.

Qual você acredita que seja o seu papel, como artista, na militância e empoderamento do seu público?
Meu público é majoritariamente de mulheres pretas, então acredito que de alguma forma elas olham pra mim e vem uma referência, seja no tom de pele, seja no tipo de cabelo, na resiliência. Eu sempre falo da importância de não desistir, de não se render para o sistema, de não recuar, por mais complexo que seja.

Quando você tem pra onde olhar, pra quem olhar, isso te dá um norte, te faz continuar. Eu fui uma criança dos anos 90, não me via muito na tv, nos desenhos, na escola. Então por muito tempo tive minha visão distorcida do que era o belo, do que era aceito. Alisava meu cabelo numa tentativa de ser mais parecida com o que eu vi na TV. Isso me trouxe marcas muito ruins. Por isso eu da importância de ser referência para outras pessoas.

Hoje faço questão de expor a beleza de ser uma mulher negra. O que eu quero é que as meninas tenham para onde olhar, se sintam representadas. Quero usar minha voz pra falar sobre nós mulheres! Quero que minha imagem seja inspiração também, para que mais nenhuma mulher preta não se veja. Acho que esse também é o meu papel.


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