KL Jay

KL Jay

Referência para quem curte hip hop, som black alternativo e bons grooves em geral, a festa Sintonia, criada em 2002 pelo DJ KL Jay chega a sua terceira edição no Rio de Janeiro esta semana, na quarta (17). Junto com o monstrão dos Racionais MC’s, também assumem os toca-discos o DJ Ajamu (seu irmão), DJ Will (seu filho mais velho) e o DJ Marco Antônio (que também toca na festa Discopédia).

Em terras cariocas, a festa ocupa o Leviano Bar, em noite que também terá o AfroJazz, grupo de música brasileira que funde jazz e ritmos africanos. No cardápio, além de muito rap e R&B, a galera também ouve jazz, MPB, soul, disco music e samba-rock. “O Rio tem uma carência do som que a gente toca”, afirma KL Jay, em entrevista ao Virgula, por telefone.

Na conversa, o DJ falou sobre a suposta vaia que teria levado ao discotecar na abertura de um show do grupo Bone Thugs-n-Harmony, no começo de maio. “Pra mim, foi uma discussão normal de trampo, teve uma repercussão sensacionalista. Mas eu também pude ver que muita gente gosta de mim, muita gente me apoiou”, disse. “Sempre tem um que tá ali enchendo o saco, dizendo o que você tem que tocar, reclamando do som que você tá tocando, às vezes a festa tá lotada, tá todo mundo curtindo, todo mundo entra em êxtase e tem uma pessoa que quer que você toque pra ela”, desabafa.

Como é tocar em família e em vários DJs?
KL Jay – Pra mim, é um privilégio. Todos eles mais novos que eu, cresceram me vendo ali, evoluir, como DJ, nos shows dos Racionais. O Sintonia surgiu como um convite lá dos caras do DJ Club, que me chamaram pra tocar na festa. Eu tocava sozinho, toquei sozinho uns oito meses, quase um ano, e aí o meu irmão se convidou: ‘Não tem uma vaga lá pra mim?’ Aí, a gente começou a tocar e chamamos o Marco, que era nosso amigo também e pensava igual à gente e depois a gente chamou o Will.

Respondendo mesmo à pergunta, como é tocar em família? Não tem disputa, não tem controle. A gente sempre faz rodízio, ninguém nunca toca no melhor horário da festa. A gente faz esse rodízio justamente pra todos tocarem em todos os horários diferentes. Não tem disputa de poder, de cargo, de quem é melhor, quem é mais famoso. Cada um sabe a sua posição e a gente toca livre, a única coisa que um exige do outro é sempre tocar bem, mas nunca teve exigências de que música tocar.

Que músicas que você sempre toca na Sintonia? 
KL Jay – A primeira coisa que vem à mente são as músicas da Erykah Badu, eu sempre toco. Agora, tem várias músicas boas.

Como é tocar no Rio, o que tem de diferente de São Paulo nas pessoas que frequentam?
KL Jay – O Rio tem uma carência do som que a gente toca. O som que a gente toca, não se ouve em outras baladas. E o Rio de Janeiro é muito carente disso. A gente está abrindo caminhos para expandir a festa. O nome Sintonia é famoso no Brasil inteiro para quem gosta de hip hop, de música mais alternativa, quem gosta de todos os gêneros musicais, que não ouve em outros lugares, muita gente que vem pra São Paulo passa no Sintonia.

Rolou uma coisa chata com você, que disseram que você foi vaiado abrindo um show. Você acha que isso ocorreu por uma mudança do perfil do público, em que as pessoas não vão para ouvir a música. Ou isso esse tipo de incidente acontece mesmo e até te fortalece?
KL Jay –  Eu procuro não fazer cama em relação a isso. O show era do Bone (Thugs-n-Harmony), eu não queria tá lá, eu tava de favor, foi um troca favor com um amigo que bancou a festa. Tava todo mundo esperando o Bone. Não foi vaia, o pessoal estava reclamando para o show começar, um bolo ali de dez caras. Aí, pra sensacionalizar, um monte de gente falou que foi vaia. Mas, pra mim, eu vejo como uma discussão normal de trabalho.

Sempre tem um que tá ali enchendo o saco, dizendo o que você tem que tocar, reclamando do som que você tá tocando, às vezes a festa tá lotada, tá todo mundo curtindo, todo mundo entra em êxtase e tem uma pessoa que quer que você toque pra ela. Aí eu preciso me impor, porque tô ali no ringue, tô ali sozinho. É a minha carreira, a minha profissão, eu não posso também deixar batido.

Pra mim, foi uma discussão normal de trampo, teve uma repercussão sensacionalista. Mas eu também pude ver que muita gente gosta de mim, muita gente me apoiou. Pra mim, foi coisa normal, não me abalou. Já tomei muita pancada nessa vida, pra me abalar…

Nas entrevistas que os Racionais deram quando saiu o Cores e Valores, vocês disseram que poderiam lançar outro disco esse ano. Isso ainda está de pé? Porque a gente sabe que há expectativa pelos discos solos do Blue, do Brown?

KL Jay – Não, cara, Racionais é muito incerto, a gente planeja uma coisa, depois muda de ideia. Então, não posso te garantir nada. Nada, nada, não posso falar nada.

E você também está fazendo um disco solo?
KL Jay – Meu disco solo sai em agosto, KL Jay na Batida Volume 2, no Quarto Sozinho.

Dá pra adiantar algumas participações?
KL Jay – Dá sim. Participação do Flow MC, do Rincón, Kamau, Fator. Bastante gente nova, Carlos Peter Parker, Jota Ghetto, a Nathy MC…

Considera que o Brasil está participando de um movimento afro-futurista, que está rolando no mundo inteiro?
 KL Jay – O Brasil está participando mais ou menos, aqui é colônia ainda, o Brasil não é dos brasileiros. Então, o Brasil fica fora de muita coisa cultural. Ainda tem uma mentalidade muito forte de coronel, uma mentalidade muito forte militar que oprime você. Não tem investimento pesado em cultura, educação, então, cara, o Brasil, mais ou menos. Nós estamos meio esquecidos aqui na América do Sul.

SERVIÇO

Festa Sintonia RJ + AfrojazzZ
Local: Leviano Bar, (segundo andar) Rua Mem de Sá, 47, Lapa – Rio de Janeiro
Quando: Quarta (17), às 21h
Quanto: R$ 15 antecipado e até às 23h; R$ 20 (até 1h) e R$ 25 (depois 1h)
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KL Jay, DJ dos Racionais, toca com irmão e filho no Rio e nega ter sido vaiado