Curso de regência Mimo


Créditos: Gabriel Quintão

Participantes do curso MIMO de regência apresentam-se, neste sábado (07), no Theatro São Pedro, em São Paulo, com a Orquestra Sinfônica Heliópolis. O evento, com entrada gratuita, terá peças do compositor russo Tchaikovsky (Sinfonia nº 4 em Fá Menor, op.36) e do brasileiro César Guerra-Peixe (Museu da Inconfidência). Este ano, comemora-se o centenário de nascimento de Guerra-Peixe.

O Virgula Música esteve no Instituto Baccarelli e conversou com Isaac Karabtchevsky, um dos icones da música de concerto do Brasil, que  ministrou o curso. Também falamos com regentes que passaram pelas jornadas duplas de seis dias de trabalho. O baiano Yuri Azevedo, o mais novo do grupo, com 22 anos, ressaltou a conexão que Karabtchevsky estabelece com suas orquestras.

“É um grande privilégio poder ter Isaac Karabtchevsky tão acessível, nos passando lições incríveis. Eu o tinha visto reger na Bahia uma vez e fiquei muito impressionado por ele transmitir o que ele sentia pela orquestra. É uma coisa que é até difícil de ensinar, mas ele consegue transmitir esse conhecimento energético, digamos assim, essa ideia por trás da obra, que faz toda diferença para um regente”, afirma Yuri, que se aproxima do novo padrão de maestros, menos sisudos e mais próximos de um astro pop, nova tradição inaugurada por nomes como o venezuelano Gustavo Dudamel.

Para Karabtchevsky, a atribuição de um maestro vai além da técnica. “Acho que uma das atribuições que o regente não pode dispensar é a sua qualidade como organizador, como uma pessoa que visa unidade e em função dessa unidade ele deve dirigir todo o trabalho. E, principalmente, uma pessoa que seja capaz de aglutinar diferentes tendências, que são normais de uma orquestra sinfônica com mais de 50 elementos. Transformar essas vontades em uma só vontade, que obedeça ao pensamento do compositor”, defende.

Katarine de Sousa Araújo, de Goiânia, também agradeceu ao maestro por seu interesse em passar seus conhecimentos. “Com certeza é uma experiência que vou levar pela vida inteira”, avalia. Ela também concorda com Karabtchevsk na questão do papel desempenhado por profissionais como ela. “Um bom regente tem que ser um bom educador, um bom administrador, uma ideia bem clara da sua musicalidade para passar por meio da sua comunicação, dos gestos. Mas acima de tudo ser um ser humano, saber respeitar o próximo e trabalhar com essa coletividade da orquestra, que é algo bem complexo”, afirma.

Ela constata também que ainda há poucas mulheres à frente de orquestras. “As que conseguem chegar lá  é por que são muitos competentes. Até aqui no Mimo é a primeira vez que tem mulheres, sou eu e a Mercedes Diaz  (da Espanha). A gente veio para tentar mudar essa história e espero que nos próximos anos venham outras”, diz.

De Vitória, Espírito Santo, Leonardo Davi vê um momento de crescimento no universo da música de concerto no Brasil. “O Brasil realmente está descobrindo novos talentos. Acredito que tem uma força interessante”, diz. “O maestro Isaac Karabtchevsky é uma lenda da música brasileira, um instrutor, um grande mestre. Eu o acompanho na Mimo desde 2007 e para mim mudou muito a minha vida, minha carreira toda mudou demais. Para mim, esse curso aqui é para abrir os horizontes, a gente vê o crescimento de muitos colegas”, ressalta.

Leonardo defende que o papel do maestro é de coesão. “A orquestra está diretamente conectada ao regente. Então você precisa ter regentes cada vez mais conscientes, trabalhados tecnicamente para a orquestra crescer”, diz.

Yuri, que surgiu no Neojiba (Núcleos Estaduais de Orquestras Juvenis e Infantis da Bahia), projeto baseado no O Sistema, ação social de orquestras da Venezuela, vê o poder transformador da música em seu aspecto coletivo: “A música orquestral é uma música em que você é inserido dentro de um contexto, você toca um instrumento em que, às vezes, você precisa ceder para que outro apareça, às vezes, você tem que tocar mais. Ou seja, você está inserido dentro de um contexto que tem um todo. Isso ensina várias lições, de respeito, como o maestro Karabtchevsky disse na aula também, lições de dedicação, porque a música exige muita dedicação para que sequer saia algo. E também o contato com a beleza direto”, argumenta.

Do alto de seus 79 anos, Karabtchevsky não tem dúvidas que a música e a arte são capazes de provocar mudanças profundas. “Em alguns casos, é radical essa transformação, uma pessoa que de repente ouve uma sinfonia de Beethoven, ela sai surpreendida com um universo que até então estava totalmente ausente. Ela é surpreendida por uma visão sensorial do mundo uma visão filosófica do mundo, uma visão que extrapola a dimensão humana, em si mesmo, e nos coloca numa transcendência que é a verdadeira razão da existência do ser humano”, professa.

Doze maestros irão reger a Orquestra Sinfônica Heliópolis neste sábadoAnderson Alves; Luciano Camargo; Nilton Soares; Mercedes Diaz Garcia; Daisuke Shibata; Eder Paolozzi; Leonardo David; Katarine Araújo; Evandro Rodrigues; Gustavo Brinholi; Rafael Luz e Yuri Azevedo. Também participaram das aulas Bruno Quaresma e Juan Ortiz Villate.

Inicialmente, seriam escolhidos oito regentes para a apresentação mas, por conta da alta qualidade dos alunos, o maestro escolheu 12. Além dos 14 regentes executantes, o curso recebeu 32 ouvintes participantes. 

Maior festival gratuito de música instrumental do Brasil, o MIMO chega à 11ª edição este ano e oferecerá concertos gratuitos em Ouro Preto (29 a 31/08), Olinda (4 a 7/9), Paraty (10 a 12/10) e Tiradentes (17 a 19/10).

SERVIÇO

CONCERTO DE ENCERRAMENTO DO CURSO MIMO DE REGÊNCIA

ministrado por Isaac Karabtchevsky tendo como orquestra residente a Sinfônica Heliópolis

07 de junho de 2014

Local: Theatro São Pedro – Rua Albuquerque Lins, 207 – Campos Elíseos – São Paulo – SP

Horário: 20h

Entrada grátis


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Jovens maestros recebem ‘conhecimento energético’ de Isaac Karabtchevsky