Uma saga pouco reportada do rock brasileiro está chegando ao fim. Depois de dois anos de estrada e mais de 250 shows em 155 cidades do país, o Jota Quest está prestes a aterrissar na última escala da turnê de seu álbum La Plata.

Neste domingo (12), a banda toca no Parque da Independência, em São Paulo, num evento ligado à campanha “Trânsito mais Gentil”, da seguradora Porto Seguro. Apesar da banda ainda fazer um show menor em Belo Horizonte depois, o evento paulistano foi escolhido como o gran finale da maratona.

Falando pelo telefone com o Virgula Música, o vocalista Rogério Flausino explica, empolgado, que a banda quer fazer um show marcante. “Vai ser algo especial, teremos um telão incrível e vamos gravar tudo em áudio e vídeo, não para lançar um DVD oficial, mas para disponibilizar depois. Muitos amigos nossos estarão lá para assistir.”

Sobre a longa temporada na estrada, ele conta que “rolou todo tipo de festa, tocamos em muitas cidades menores do Norte e Nordeste, tocamos em festas bem populares, com 30, 40 mil pessoas. E teve também o SWU, que a gente adorou fazer, foi nossa primeira vez num evento internacional assim.”

Com tanto show nesse percurso, será que ele não se pega errando nome de cidade de vez em quando na hora de falar no palco? “Ah eu erro sim (risos), principalmente cidade começando com ‘I’ ou ‘São João’ de alguma coisa.”

15 ANOS DE JOTA QUEST

No ano de 2011, a banda completará 15 anos de atividade. Como parte das comemorações, sairá uma coletânea de sucessos com mais duas inéditas. “Um ‘radio hits’ do Jota Quest”, segundo Rogério.

O grupo também fará 15 shows de aniversário em 15 cidades. “Mas não vai ser mega-show, vai ser pra no máximo quatro mil pessoas. No Rio, por exemplo, vai ser no Morro da Urca.”
Mais para frente no ano, um álbum novo deve aparecer. “O primeiro single sai em março e tem uma inspiração bem disco, tipo [a banda] Chic. Queremos fazer coisas pra pista de dança, o disco vai ser o Jota alto astral, festivão e dançante.”

Lembro da fase “DJ Rogério Flausino”, quando ele “atacava” em cabines de todo o Brasil. Diferente de outros músicos, que fizeram disso um hobby esporádico, o vocalista do Jota Quest levou a coisa bem a sério. A ponto da discotecagem virar uma bem-sucedida carreira paralela durante um bom tempo na década passada.

“Frequentei muito a cena eletrônica, por uns cinco, seis anos. Depois de todo esse tempo, me dividindo entre o Jota e a noite, bateu a canseira. Além disso, eu fiquei ‘grávido’ e isso contribuiu muito pra eu sair menos”, conta (aliás, Flausino estava saindo do Parque da Xuxa com a filha de 3 anos, na hora da entrevista).

“Ainda gosto de sair, mas para frequentar, não para tocar. De uns tempos para cá, tenho gostado muito de coisas como Phoenix e Friendly Fires, que são bandas, mas influenciadas pela música eletrônica. A gente tá sempre ouvindo coisas, o [baixista] PJ é o melhor DJ de camarim que tem!”

ROCK EM 2010

Aproveitando o clima de fim de ano e retrospectiva, pergunto como Flausino tem enxergado o rock brasileiro, que passou um 2010 longe das rádios e das listas de mais vendidos. Lembrei da declaração do Pe Lanza, do Restart, que atribuiu isso ao fato do rock ser um gênero “desunido”, ao contrário do sertanejo.

Rogério discorda. “Esse negócio de botar a culpa no segmento não tem nada a ver. O rock não é desunido, é desorganizado. Ficar pedindo que todo mundo se junte num movimento não vai rolar, é uma caretice isso.”

Segundo ele, o problema vem lá de trás. “O rock, assim como a MPB, sempre foi mais dependente das gravadoras para funcionar. Quando a crise atingiu a indústria, na virada do milênio, consequência da internet e da pirataria, elas pararam de investir em artistas. Aí a gente entrou nesse parafuso, nessa falta de renovação que tá estourando agora. Isso explica o buraco entre a geração dos anos 90 e agora.”

Por outro lado, “o axé, o sertanejo, vêm se desenvolvendo há 20, 30 anos sem precisar do suporte da gravadora. Eles construíram uma estrutura própria, independente da mídia, da gravadora. Agora então, com a internet, tão fazendo esse estrago.”

Ele acredita que o caminho a seguir é o que vem fazendo empresas como a Arsenal Music, de Rick Bonadio, e a gravadora Deckdisc. “Eles trouxeram organização, metodologia, profissonalismo, cuidam de todos os aspectos da carreira do artista, não só de lançar o disco.”

Flausino termina a entrevista sem perder a empolgação: “As gravadoras estão contratando de novo… talvez demore um pouco, mas começaremos a ver uma nova gama de artistas de rock se destacando mais.”

Jota Quest no Parque da Independência em São Paulo

Quando: domingo, 12 de dezembro; abertura dos portões, 12h30; show do Jota Quest, 16h30.
Onde: Parque da Independência, avenida Nazaré, sem número, Ipiranga, São Paulo
Quanto: gratuito.


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Jota Quest fala sobre fim de turnê de dois anos e disco novo "dançante"