Para Gustav Mahler, a ópera “João e Maria”, de Engelbert Humperdinck, era uma das melhores de todo o repertório alemão. Richard Strauss também a tinha como uma de suas favoritas. O libreto, baseado na lenda dos Irmãos Grimm, imediatamente faz pensar em coisas para crianças e trata-se, efetivamente, de um espetáculo infantil — mas quem é o adulto que consegue ficar indiferente a contos de fadas?
“João e Maria” nunca tinha sido apresentada no Brasil e a idéia de levar à cena tal espetáculo do romantismo alemão tardio não poderia ter sido mais bem-vinda: cultivar nas crianças o gosto pela boa música é sempre uma maneira de educá-las, e a montagem que fica em cartaz até esta quinta-feira no Teatro Municipal de São Paulo teve muito mais a oferecer.
A Orquestra Experimental de Repertório, dirigida por Jamil Maluf, está no auge de sua forma, com uma bela sonoridade, clareza de articulação e perfeita sintonia com os solistas.
Os cenários e figurinos criados por Fernando Anhê deram um toque imaginativo e rico em efeitos. As cores vivas, as formas criativas e os efeitos de luz tiveram o mérito de conduzir os espectadores àquela atmosfera dos contos infantis que todos nós trazemos na memória.
A direção de cena de Flávio de Souza criou um espetáculo movimentado e harmônico, e a participação de figuras mitológicas — como bruxas e duendes — acrescentou um elemento novo à ópera.
Outro ponto forte foi a tradução do libreto para o português, executada por Dante Pignatari e Jamil Maluf, que conseguiu ter a fluência de um texto novo ao mesmo tempo em que manteve-se fiel ao original.
Os solistas eram um caso à parte, a começar pelo barítono Paulo Szot no papel de Pedro, o vassoureiro. Com uma técnica vocal impecável, dicção clara e expressividade cativante, ele já é um dos mais importantes barítonos brasileiros, cuja carreira internacional começa a deslanchar.
A carismática Regina Helena Mesquita, no papel de bruxa, conseguiu ser divertida e assustadora ao mesmo tempo. O João e Maria foram interpretados por Denise de Freitas e Andrea Ferreira que, mesmo habituadas a papéis bem mais pesados, tiraram de letra os desafios apresentados pela obra de tom mais leve.