Público no Lollapalooza 2015

Foi um bololô o primeiro dia do Lollapalooza no sábado (28), como puderam testemunhar as 66 mil pessoas que colaram no Autódromo de Interlagos. Teve DJ que parecia rockstar, roqueiro aplicando conceitos de arte na molecadinha, projeto de produtor renomado tocando Valesca Popozuda. Nós choramos lágrimas de diamante pela ausência de Marina (clica aqui pra entender), mas o que Skrillex, Jack White, Major Lazer, St. Vicent, Kasabian  e Robert Plant aprontaram vai ser difícil de esquecer.

Skrillex teve mais um dia de rockstar, coisa a que já está acostumado e bota muita pilha para que role toda noite em que se apresenta. No Lolla, ele não estava para brincadeira mesmo e moveu uma maré humana até o palco Onix, um palco secundário e o mais desconectado geograficamente dos outros palcos.

Drop the bass

O produtor de Los Angeles comandou uma ravezona a céu aberto. Todos os teens do pico rumaram para ver o cara que é um dos nomes mais fortes da EDM (Electronic Dance Music). A nomenclatura, no começo se referia a nada menos que uma maneira de se chamar a música eletrônica nos Estados Unidos. Mas caras como Skrillex e Calvin Harris, headliner do domingo – quem viver, verá -, criaram uma identidade musical tão forte que hoje já se veem produtores falando que colocaram um pouco de de EDM no seu som. Já virou um gênero mesmo e a atual geração se identifica total com esses sons que unem dubstep, trap, house e tudo que vier pela frente, do rock ao pop, sem pudores.

Levem-me ao seu líder

Jack White

Mas vamos falar de Deus. Jack White trouxe referências do cinema expressionista alemão, especificamente de O Gabinete do Doutor Caligari, um filme de 1920, dirigido por Robert Wiene. O filme é mudo, mas o som de Jack… sai de baixo que o calibre é alto.

Amparado por um baterista monstro e uma banda que toca pesado e com alma ao mesmo tempo, no estilo sulista dos Estados Unidos, ele mostrou que é um dos artistas mainstream que mais se preocupam em fazer arte, com cenário, iluminação, disco e espetáculo amarrados em um conceito.

 

Na hora em que ele cantou Seven Nation Army, bateu uma onda forte e não teve quem segurasse o Ô-ô-ô-ô-ô-ô. Riff tão perfeito que é cantado em coro nos estádios de futebol da Europa. No autódromo também deu certo.

Demolition woman

Ahhhh…. St. Vincent

St. Vincent faz uma perfomance que será difícil de ser igualada neste Lolla. Com passos de bailarina robótica, uma parede de dois synths e bateria sólida, ela esmerilhava suas três guitarras com um técnica impressionante. Guitar hero sista, ela é o presente e o futuro. Sua música busca as distorções e a atitude rock, mas não se limita a nada.

O eletrônico aparece nos timbres dos synths e da bateria. Se o mundo de hoje tem um som, ele deve soar como St. Vincent. Não foi à toa que durante seu show, que rolou ainda durante a tarde, o palco Axe estivesse lotado de hipsters. Quem tá antenado estava ali, reverenciado essa senhora guitarrista. O som da gata é moderno, vanguardista, mas não deixa de atrair a passantes em geral. Annie Clark aprendeu bem os ensinamentos do padrinho David Byrne e hoje seu show consegue unir elementos de art rock com teatro, numa performance que transpira feminilidade.

O modelão arrasador, que sempre inlcui meia fina, tubinho preto justo, ankle boot e make new wave, não a impede de suar a camisa numa performance rocker que inclui crowd surfing na galera. Quase no fim do show, ela vai até o público, de quem surrupia várias peças de roupa e uma bandeira do Brasil, e sobe de volta ao palco apenas lynda e ovacionada, como no vídeo que você vê aí embaixo. Fez jus ao nome de santa. Amém, St. Vincent, we love you, e prometemos rezar ouvindo Your Lips Are Red, Digital Witness e Birth In Reverse todas as noites.


Solta o funk

No Major Lazer, projeto do produtor bombado Diplo, teve mais funk que fluxo na zona leste. Passamos por Dom Dom Dom, do MC Pedrinho, produzida pelo mago DJ Perera em versão do Omulu, a seminal As Novinha tão Sensacional, marco inaugural da rasteirinha, variação mais lenta e abrasileirada do funk.

Alguns minutos depois, o Major, que faz um show animadaço, colocando fogo na galera o tempo todo, soltou Bololô, do Bin Laden, Ah Lelek Lek Lek, Ludmilla, Tati Zaqui, e Valesca. Desejo a todas as inimigas do funk vida longa. Foi uma noite difícil para elas.

Há tempos que a nossa música eletrônica popular, o funk, alimenta a vanguarda muito mais que o contrário, mas é sempre legal ver o cara mais poderoso dos beats globais e ex da M.I.A. bater cabeça pra gente no nosso terreiro.

Abrindo os caminhos

Mallu Magalhães

A gente chegou no meio da banda de Marcelo Camelo, Mallu Magalhães e Fred Ferreira. Mas deu para pegar momentos fofos como Faz Tempo, Solar e Dia Clarear, todas do disco homônimo e de estreia do grupo.

Mallu cantou Sambinha Bom, e Camelo Janta, ambas de suas respectivas carreiras solos. Porém, o jogo todo muda quando eles começam versos de Além do Que se Vê, e Morena, do Los Hermanos, em versões mais, digamos, roqueiras. Foi bonitinho e trouxe o clima perfeito para o esquentar o fest.

Tantas emoções

Joe Newman, do Alt-J

Sabe todos aqueles instrumentos minimalistas que ouvimos no álbum This Is All Yours, do Alt-J? Então, no show as guitarras ganham volume e o synth parece que está em cima de um trator. Uma bela surpresa ao vivo.

A apresentação foi toda calcada em cima de seu único disco e emocionou geral no Lolla. Seriam eles o Imagine Dragons dessa edição do festival? Será?

Eterna invasão britânica

Sergio Pizzorno, do Kasabian

Não era o Oasis, nem o Stone Roses e muito menos o Blur, mas era o Kasabian, o representante do novo rock inglês no festival. O grupo do vocalista Tom Meighan e do guitarrista e figuraça Sergio Pizzorno foi a primeira banda do dia a fazer o pessoal tirar o pé do chão.

Bem naquele estilão inglês de ser, do tipo “não estou nem aí para você”, eles mandaram vários hits: Underdog, Days Are Forgotten e Fire. Antes de finalizar com L.S.F., tocaram trecho de Praise You, do Fatboy Slim. Foi um show de rock, e de uma das bandas que têm mais culhões no dia. Não, pera que ainda teria o Jack White pela frente ainda.

Outro Deus, mas esse é dourado

Robert Plant

28 de março de 2015: o dia que o Deus loiro do rock’n’ roll esteve entre nós. Robert Plant, o eterno vocalista do Led Zeppelin veio mostrar seu trabalho solo no Lolla. Teve Rainbow, Turn It Up e What Is no setlist. Mas o culto religioso pelos roqueiros presentes só teve efeito quando o mestre tocou Black Dog, Lemon Song e Whole Lotta Love, todas do Led, porém com um andamento (e pegada) mais arrastada.

Para fechar, Plant nos presenteou com Rock’n’ Roll, também de sua antiga banda. A música estava marcada no setlist com vários ????? na frente. Mas o vocalista resolveu nos dar essa benção. A gente responde: amém!

Dan Smith, do Bastille

O show mais correto do dia foi o Bastille. Não que isso seja bom, nem ruim. Tudo foi muito redondo e perfeitinho, e cafona. E talvez por isso tenha conquistado tanto a galera. Pop com brega é a junção perfeita! E, se você fechasse os olhos parecia que estava ouvindo um disco deles no conforto do lar.

Os rapazes ingleses (e boa pinta) já começaram com Bad Blood, Laura Palmer e Poet logo no início. Depois foi só comoção entre as menininhas que lotavam o palco AXE. Ainda rolou uma versão de Rhythm of The Night, da Corona e finalizaram de forma espetacular com o mega hit Pompeii, que se misturou com a queima de fogos de Jack White, que finalizava seu show no palco Skol.

Público no Lollapalooza 2015

Da mesma maneira e nós sempre ficamos emocionados quando pisamos no S do Senna e lembramos das tendas do Skol Beats, já começamos a construir memórias afetivas no Autódromo de Interlagos. A gente só pode dizer uma coisa sobre o 28 de março de 2015. Nós vamos falar sobre ele para os nossos netinhos. “No meu tempo, uma vez eu fui ao Lollapalooza…”


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Jack White Deus, Skrillex rockstar e Major Lazer do funk destroem no primeiro dia do Lollapalooza

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