“Mais do que uma identidade nacional, o samba é a expressão máxima do Brasil como cultura e arte”, afirma o cantor e compositor Itamar Brant, que homenageia o gênero musical mais amado do país em seu novo álbum. Lançado em novembro de 2022, em vinil e nas plataformas digitais de streaming, “Samba Trem” traz dez faixas que apresentam a leitura abrangente e requintada do artista mineiro para o ziriguidum.
> Siga o novo Instagram do Virgula! Clique e fique por dentro do melhor do Entretê!
Quarto disco da carreira de Itamar Brant, o trabalho será levado pela primeira vez ao palco nesta sexta-feira, dia 24 de março, às 19h, no Teatro de Câmara do Cine Theatro Brasil Vallourec. O show tem participações especiais da cantora Maria Alcina e do instrumentista Toninho Horta, que marcam presença na gravação do disco. Os ingressos custam R$35 e podem ser comprados neste link.
Itamar Brant conta que o repertório será exclusivamente composto por sambas, seguindo a proposta de seu mais recente álbum. “Teremos momentos mais intimistas, nas músicas que flertam com a bossa nova; mais cadenciados, nas misturas de jazz e samba; mais ‘quentes’ e dançantes, no partido alto, no samba de gafieira e no samba-rock”, afirma o artista. “Pretendo manter como estrutura a concepção do álbum, tomando por base o meu violão e os arranjos que surgiram a partir dele. Sendo assim, quem for ao show vai escutar o som mais próximo do que foi gravado no disco, além de sambas de trabalhos anteriores”.
No palco, Itamar Brant (voz e violão) estará acompanhado por Enéias Xavier (contrabaixo), Rodrigo Lelis (bateria), Luadson Constâncio (teclados), Sérgio Danilo (saxofone e flauta), Daniel Guedes (percussão) e Fabinho Gonçalves (guitarra e violão), que assina a direção musical do show. A iluminação é de Tavinho Bretas e a cenografia de Mariana Fonseca, que também responde pela concepção visual da capa e do encarte do disco. Direção artística e produção geral ficam a cargo de Dhiego Gusmão, que participa do show como vocalista, assim como Renato Silveira, ambos presentes em “Samba Trem” – Dhiego canta em “Ave de Ressaca” e Renato, em “Trate o Seu Preconceito”.
Os convidados Maria Alcina e Toninho Horta, que também emprestaram seus dotes ao disco, prometem abrilhantar ainda mais a apresentação. “A participação de Maria Alcina foi costurada a partir da gravação de ‘Cadê Meu Tamborim?’, uma das faixas do disco. Nossas vozes se casaram tão bem que foi praticamente impossível não convida-la para o show. Alcina é uma artista incrível, de uma energia contagiante, que traz o samba de maneira irreverente em sua carreira. Vai ser bem ‘pra cima’ o momento em que dividiremos o palco”, afirma Itamar. “A participação de Toninho Horta será igualmente especial. Ele participou de meus dois trabalhos anteriores, sempre com sua genialidade. Em ‘Samba Trem’, tocamos juntos os violões de ‘Nada de Rock Rock’, de Heitor dos Prazeres, e ele toca guitarra em ‘Triste Cuíca’, de Noel Rosa e Hervê Cordovil, músicas que estarão no show”, completa.
Para Maria Alcina, o público pode esperar um momento de “encantamento”, que reflete o encontro musical potente entre sua voz e o trabalho de Itamar Brant. “Ele é um compositor muito sofisticado, que traz várias vertentes. Eu consegui entender muito bem o propósito musical do Itamar, assim que ele me convidou para gravar ‘Cadê Meu Tamborim?’, o que foi um grande facilitador para o nosso encontro. Me sinto perfeitamente confortável com sua linguagem musical”, afirma a cantora, que também vai cantar músicas como “Fio Maravilha” e “Kid Cavaquinho”, responsáveis por eternizá-la como intérprete. “Ao final, estaremos todos juntos, banda e convidados. Mas aí é surpresa”, finaliza.
A concepção de “Samba Trem”
Para além de uma obra essencialmente planejada, “Samba Trem” foi concebido na corda bamba da pandemia, estreitando conexões à distância, entre receios e afetos cultivados obrigatoriamente em casa. “Comecei compondo ao violão, em casa, por causa da angústia da pandemia. E percebi que muitos músicos estavam na mesma situação: angustiados, sem trabalhar, sem saber como seria o futuro. Foi assim que fui fazendo convites. O Marcelo Costa, por exemplo, é um percussionista requisitado, toca com Marisa Monte e Gilberto Gil, e ele chegou a comentar nas redes sociais que estava parado na pandemia. Ficou bastante animado com o convite”, completa Brant.
Escute o disco “Samba Trem” neste link
Os sambas do disco nasceram em 2020 e foram gravados no ano passado, com sessões no Studio Na Trilha, em Belo Horizonte, e várias contribuições remotas, feitas sob a orientação de Brant e Dhiego Gusmão, que dividem a produção executiva. Aos poucos, as músicas ganharam corpo instrumental com o talento de mais de uma dúzia de músicos. Entre eles, o toque precioso do violão de nylon de Toninho Horta na versão de “Nada de Rock Rock”, de autoria de Heitor dos Prazeres, pioneiro na criação das escolas de samba no país; o violão de sete cordas de Thiago Delegado em “Convite Nefasto”, de Brant; e a flauta do mestre Chico Amaral em “Ave de Ressaca”, samba de Brant com Renato Silveira.
O disco tem, ainda, a citada participação de Maria Alcina em “Cadê Meu Tamborim”, composição de Brant inspirada na levada do inconfundível violão de João Bosco e abrilhantada por um expansivo arranjo de sopros de William Alves. “Antes da pandemia, fui ver um show da Maria Alcina em Belo Horizonte. Por coincidência, encontrei com ela saindo do teatro, já na rua, e fiz uma primeira abordagem. Na pandemia, soube que ela passou uma temporada em Cataguases, onde tem família, e fiz o convite para ela gravar esse samba, e deu muito certo. É uma honra para mim”, conta Brant.
Diversidade
Produzido a partir da espinha dorsal do violão, “Samba Trem” abre as possibilidades de múltiplas nuances instrumentais a partir de harmonias bem mineiras, em arranjos sofisticados e ao mesmo tempo populares, que abraçam distintas influências dentro da mesma caixinha de fósforo agitada do samba: desde a sutileza da composição quase inteiramente conduzida pela percussão de Marcos Suzano e o clarinete de Sérgio Danilo, em “Samba de Fato”, de Pixinguinha, até as marcantes guitarras distorcidas na versão de “Jorge Maravilha”, de Chico Buarque. A guitarra azeitada de Fabinho Gonçalves, aliás, é elemento chave do álbum, e flerta com o jazz nos sambas autorais “Caminho do Samba”, com atmosfera de gafieira, e “Res (O Ser Ao Inverso)”, marcada pelo afiado trombone de Victtor Santos e por uma profunda reflexão existencial.
Toda a diversidade sonora do álbum converge com as narrativas expostas nos sambas, cantadas pela voz macia de Itamar Brant, embebido por nítida influência da bossa nova, mas com um discurso social altamente crítico. Para além das referências diretas ao samba, o álbum insere esse gênero brasileiríssimo em problemáticas nacionais modernas. Em “Convite Nefasto”, há uma reflexão sobre as queimadas ilegais na Amazônia, combate aos comportamentos fascistas e aos delírios sobre uma inexistente Terra plana. Já no samba de roda “Trate o Seu Preconceito”, Brant aborda diretamente a tríade sexo, cor e religião, em um apelo de combate à intolerância.
Até na escolha das releituras, como “Triste Cuíca”, versão pouco reverberada da composição de Noel Rosa e Hervê Cordovil, há uma ação política consciente do artista. “O samba ‘Triste Cuíca’ foi criado em Belo Horizonte nos anos 1930, em uma das temporadas que Noel passou na cidade. Fala de um cara que matou o outro por ciúme e que as pessoas ficaram caladas, sem intervir. Como dizia Tom Zé, ir à padaria é um ato político. Então, tudo é política. Por isso, em toda a minha carreira, sempre me posicionei porque não consigo me conceber como artista sem tomar posição sobre a vida, sobre a sociedade e o mundo em que vivemos”, analisa Brant.
Sobre Itamar Brant
Nascido em Belo Horizonte, Itamar Brant é cantor, compositor e violonista, com mais de três décadas de carreira. Nos anos 1980, estudou teoria musical e composição na Escola Música de Minas, espaço idealizado por Milton Nascimento, Cláudio Rocha, Márcio Ferreira e Wagner Tiso, e na Escola Acorde. Continuou seus estudos em Paris, na Escola Ephen, nos anos 1990, quando teve aulas de canto com Pedro Paulo Neves, irmão de Oscar Castro Neves, considerado um dos pilares da bossa nova, ao lado de Tom Jobim e João Gilberto. De volta ao Brasil, em 1994, Itamar Brant passou a se apresentar em bares e casas de shows de Belo Horizonte.
Em 2004, lança seu primeiro álbum, “Perímetro Cefálico”, com 11 músicas de sua autoria, sendo três delas com o parceiro Renato Diniz, e uma regravação de um antigo samba de Kid Pepe (parceiro de Noel Rosa) e Zé Pretinho, “Tenho Raiva de Quem Sabe”. Seu segundo álbum, “A Superfície da Palavra” (2013), condensa uma rica mistura de ritmos, como o xote, o samba, a bossa, o jazz, o blues e o pop. Por causa da diversidade, o álbum teve boa repercussão em países como Suécia, EUA, Japão e Porto Rico. São 11 novas composições e uma versão de Augusto de Campos e Rogério Duarte para um blues de Billie Holiday, “Mamãe Merece”. Com produção musical de Robertinho Brant, Tattá Spalla e do próprio Itamar, o disco conta as participações de Toninho Horta, Chico Amaral, Gabriel Guedes, Célio Balona, do grupo de percussão “borTam”, do violinista austríaco Rudi Berger, do grupo vocal “Meninas de Sinhá” e das cantoras Carla Villar, Marina Machado e da carioca Silvia Machete, com quem Itamar divide os vocais na faixa-título.
No terceiro disco, “Venerando Pagã” (2017), Brant apresenta o seu trabalho mais irreverente, indo do rock ao techno, passando pelo xote e o reggae, tudo com bastante personalidade. São 14 músicas com roupagem pop, nas quais o artista está novamente acompanhado de nomes de peso da cena mineira, como o parceiro de longa data Toninho Horta, além de Carla Vittar, Pedro Morais, Célio Balona, Carlos Carega e Dhiego Gusmão.
SERVIÇO
Show de lançamento do álbum “Samba Trem”, de Itamar Brant
Quando. Dia 24 de março, sexta-feira, às 19h
Onde. Teatro de Câmarado do Cine Theatro Brasil Vallourec (Av. Amazonas, 315 – Centro – Belo Horizonte)
Quanto. Os ingressos custam R$35 e podem ser comprados neste link
Mais. Escute “Samba Trem” neste link