Estar na estrada há 20 anos como cantor neste Brasil não é tarefa fácil para ninguém, mas tem quem tire isso de letra, com tamanha irreverência, inteligência e capacidade de renovação. Assim é Landau, autor da trilha sonora do “Lata Velha”, do Caldeirão do Huck.
O “polêmico do bem” conversou com exclusividade com o Virgula, contando os causos, percalços e vitórias na carreira de 20 anos, que começou no fim dos anos 90 ainda nas Minas Gerais.
“Sempre fiz questão de mstrar dois lados na minha personalidade na música. Um do espírito do rock’n’roll, mais rebelde e irreverente. E ao mesmo tempo, do interior do Brasil, do meu avô, que era seresteiro. Sempre tive isso nos meus discos”, contou Landau.
No início da carreira, Landau gostava mais da “rebeldia” nas músicas, mas a capacidade de se renovar a cada trabalho também fez dele um cantor mais preocupado com a melodia e com a letra nos últimos dez anos.
“Fazer música para alegrar a todos sempre foi parte do meu trabalho. Na última década também me preocupei mais com a melodia, coma letra, mas sem nunca me esquecer da irreverência”, que marca minha vida”.
Saudades do vinil e mergulho na tecnologia
Se você acha que Landau é só um músico irreverente e cheio de disposição, está enganado. A cultura do cantor passa também pela evolução tecnológica. Formado em Ciências da Computação, ele está antenado a tudo o que acontece no mundo cibernético.
“Cara, eu fiz Ciências da Computação em 95. Eu vi e senti o início da internet. Tinha as comunidades no Orkut, lembra?” (Neste momento, faço uma reflexão de que me lembro exatamente, também “denunciando minha idade”).
Landau diz que sempre se deu muito bem com o avanço da tecnologia na música e agora com a internet cada vez mais importante na divulgação das canções.
“Eu tive medo na época das transformações. Pensávamos no CD, na capa e coisa e tal. Mas a facilidade de se mudar e inovar dos tempos, sempre vi como um desafio e sempre estive junto com ela. A música é simplesmente um convite constante e tem que estar no coração do ouvinte, não importa a maneira, o meio”.
E o rock, Landau, morreu?
O bom humor e a simplicidade nas palavras e no se fazer entender dão lugar a um Landau mais sério e consciente quando o assunto é o momento atual do rock’n’roll no mercado fonográfico.
Quando pergunto o que ele pensa sobre a “perda de espaço” do estilo na rádio e até na cultura dos jovens atuais, Landau é taxativo. “Houve muita vaidade, faltou humildade e mais organização”.
“Os sertanejos, por exemplo, são mais organizados. Nunca estiveram sozinhos. Tem que ter um show e chamar malguém pra abrir e coisa e tal, lá estão eles já com tudo pronto e com as coisas devidamente marcadas”, diz Landau.
“Eu abri muito shows de banda de rock. No início foi surreal, mas tinha muita vaidade, dava para perceber. Sem generalizar, é claro. Isso em deixava bem triste. Eu transitava nos dois lados e então falo com clareza”.
Novos projetos e o amor
A conversa com Landau ao telefone me faz lembrar muito de Raul Seixas, ídolo do cantor mineiro. É tanta informação de uma forma simples e bem colocada, que se tivesse a oportunidade de falar com Raul quando ele ainda estava entre nós, desconfio que não seria muito diferente deste papo.
Landau ganhou ainda mais destaque nos últimos meses com os novos projetos. Deu uma repaginada e lançou o clipe SEN-SA-CI-O-NAL do sucesso “Ela Pegou No Meu Landau”.
“Cara, foi muito show gravar o clipe. A letra é bem humorada, autobiográfica, cheia de duplos sentidos. E traduz o que é minha carreira, essa irreverência, querer levar um pouco de alegria para quem me ouve, sabe”.
Quem participa do clipe é Gabi Roncatti, atriz, humorista e noiva do cantor. “A gente se conheceu no palco. No meio dessa coisa toda de humor e tudo mais. Estamos caminhando juntos há quatro anos, tudo dando certo. Orgulho demais ter ela na minha vida e junto comigo na carreira também”, fala o cantor com orgulho da noiva.
Gabi está com Landau no espetáculo Rock + Humor, que viaja pelo Brasil em turnê gratuita. “Deixar bem claro que o show é de graça. Fazemos para tentar sanar um pouco de tristeza, feridas e espantar o mau humor das pessoas”, explica ele.
A primeira temporada do stand-up com o show de rock’n’roll vai até março de 2021, com o espetáculo chegando a São Paulo.
Uma mensagem de paz, amor e sabedoria
Quando eu disse ali em cima que Landau me lembrava muito Raul Seixas, não é à toa. Antes de encerrarmos a conversa, o músico deixa uma mensagem ao público.
“Fazer música num país como o Brasil não é tarefa fácil, mas também não é difícil. A maioria do povo é do bem e quer o bem. Viver é uma dádiva, cara. Estar conectado a pessoas só faz bem ao nosso coração e à nossa mente. Para quem estiver me ouvindo, nos meus shows, entrevistas, eu digo: ‘levem sempre a vida pelo lado simples, não tente complicar. Tudo dá para resolver numa boa. Basta ter paz, amor e sabedoria”.
Agradeço, desligo o telefone e me pego pensando: “esse cara precisa ser ouvido por mais pessoas neste momento. Ódio, descrença e tristeza passariam longe das pessoas em um show como o de Landau…”
O irreverente Landau